Governo pode ceder área de reserva florestal da Zoobotânica para Tecnosinos

Cleber Dioni Tentardini
Cerca de 50 hectares da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo, no entorno do Parque Zoológico de Sapucaia do Sul, ambos pertencentes à Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, podem ser repassados ao Parque Tecnológico da Unisinos, o Tecnosinos.
Na quinta-feira, 17, durante reunião-almoço na Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Tecnologia de São Leopoldo (ACIST-SL), o prefeito Ary Vanazzi e representantes da Universidade e lideranças empresariais entregaram ao governador José Ivo Sartori e à secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini, uma carta requerendo a transferência de propriedade de uma parte da área da reserva florestal para a Tecnosinos que quer expandir o seu parque tecnológico.
O reitor da Unisinos, padre Marcelo Fernandes de Aquino, ressaltou que o Estado tem um conjunto de parques tecnológicos com excelentes recursos humanos e empreendedorismo, o que tem formado um arranjo muito produtivo.

Prefeito de São Leo e representantes da Unisinos e do setor empresarial reuniram-se com secretários e governador Sartori/Rodrigo Blum/Divulgação Unisinos

“Queremos construir uma base para dar uma vida melhor para a população da região, por isso estamos retomando o tema”, disse.
O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, também defendeu a ideia de cedência do horto. “O projeto alia inovação e preservação ambiental, por isso usaria 50% do espaço para construção da estrutura e 50% seria de preservação”, declarou.
O governador disse que já conhecia o trabalho realizado pela Tecnosinos e que iria estudar uma contrapartida.
Nos últimos três anos, o Tecnosinos inaugurou a Unitec 2 (2015) e a Unitec 3 (2016). Atualmente, o Parque trabalha organizado em cinco áreas tecnológicas: Tecnologia da Informação; Automação e Semicondutores; Tecnologias para a Saúde; Tecnologias Socioambientais; e Comunicação e Convergência Digital.
*Com informações de Michelli Machado, do Notícias Unisinos
Área mais cobiçada da Região Metropolitana 
Os 780 hectares mais cobiçados da Região Metropolitana de Porto Alegre envolve o Parque Zoológico, que o governo quer repassar a concessão à iniciativa privada, e o desmembramento da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo, que enfrenta vários problemas fundiários. Centenas de famílias moram ilegalmente em seu interior e estão sendo retiradas diante de ações de reintegração de posse conquistadas pela FZB.
A proposta de utilização de uma área da Reserva pelo Tecnosinos surgiu durante a gestão de Susana Kakuta, atualmente diretora-presidente do Badesul.
Em 2015, levantou-se a hipótese de ter parte cedida a um congregado empresarial alemão, o Medical Valley, que reúne indústrias e centros de pesquisas na área biomédica, responsáveis por 43% da área de patentes na Alemanha.
Uma comitiva do governo Sartori visitou a Alemanha e ouviu dos empresários a necessidade de uma área física para viabilidade logística do complexo empresarial e benefícios fiscais para as empresas deste chamado “Cluster de Tecnologias para Saúde”.
O diretor-executivo do Medical Valley, Tobias Zobel, retribuiu a visita no final de 2015. Durante palestra no Badesul, em Porto Alegre, disse que o plano de internacionalização da Medical Valley é criar uma rede de colaboração internacional entre Brasil, Estados Unidos e China. No caso do Brasil, o estado escolhido foi o Rio Grande do Sul. Os países atuarão em estreita cooperação no fomento da indústria e da pesquisa em saúde.
Sartori, Fortunati, secretários e a presidente do Badesul na Alemanha/Luiz Chaves/P. Piratini

A área do Zoológico pertencia à Companhia Geral de Indústrias e, em 1930, foi adquirida pelo Estado. Em 1934 o espaço foi consolidado como uma propriedade da antiga Viação Férrea do Rio Grande do Sul.
Mais de 25 anos depois, no dia 16 de março de 1957, foi promulgada pelo presidente Juscelino Kubitschek a Lei Federal nº 3.115 passando todos os bens da Viação Férrea para a União. Somente a área atual do Zoológico permaneceu sob domínio do Rio Grande do Sul.
No dia 27 de julho de 1959, João Caruso, secretário de Obras Públicas na ocasião, entregou um estudo contendo sugestões para criar um parque público. A partir de então, a responsabilidade da área ficou com a Comissão Estadual de Prédios Escolares (CEPE), sob a denominação de Grupos de Parques e Jardins. A sede era no próprio Horto Florestal.
Os funcionários da Zoobotânica temem que a especulação imobiliária acabe fatiando a reserva. A pressão para venda da área é histórica. Em 1957, a justificativa era pela necessidade de recursos para a execução do plano que previa a construção de mil escolas no RS.
Ministério Público acompanha processos

A promotora de Justiça Annelise Steigleder , da Defesa do Meio Ambiente, informa que há dois inquéritos civis abertos para acompanhar o processo de privatização do Zoológico e possíveis alterações na Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo.
Segundo a promotora, de acordo com a proposta de remodelagem do Zoo e do Horto, restariam apenas 156 hectares para o Zoo. O restante seria desmembrado em várias matrículas.
Promotora Annelise acompanha situação do horto e zoo

Annelise disse que estuda a legislação para que o horto seja enquadrado como área de preservação.
No caso do Horto Florestal, a promotora lembrou que essa área localizada entre os municípios de Sapucaia e São Leopoldo vem sendo palco de muitos conflitos fundiários.
“Esse espaço precisa ser mantido como unidade de preservação ambiental. A ideia do MP é judicializar essa questão também para que não percamos o Horto Florestal”, acrescentou a promotora.

Semapi divulgou nota
O Sindicato dos Empregados em Empresas de Assesssoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais do Rio Grande do Sul (SEMAPI) divulgou nota de repúdio contra transferência de área:
Governo Sartori pretende negociar área da FZB
Cada vez fica mais clara a motivação para extinguir fundações que prestam um serviço primoroso e de baixo custo para o Estado. O governo Sartori, em vez de investir nas instituições e fortalecer a pesquisa, a tecnologia e a cultura no Rio Grande do Sul, prefere retirar incentivos, sucateando as instituições, para que, assim, sejam vendidas para a inciativa privada, favorecendo parceiros/empresários.
Além do mais, as áreas ocupadas por estas entidades são nobres e têm grande valor comercial. Exemplo disto é a situação da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), que teve seu terreno permutado antes mesmo que o Projeto de Lei que autoriza a sua extinção fosse votado. Agora, o governo mostra novamente a que veio querendo acabar com parte da Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo, pertencente à Fundação Zoobotânica.
Localizada em espaços territoriais descontínuos divididos pela BR-116 entre os municípios de Sapucaia do Sul e São Leopoldo, a reserva possui 620 hectares e vem sofrendo com a falta de segurança, permitindo que o local seja ocupado por famílias de baixa renda. Como desculpa para a venda, a secretária do Meio Ambiente, Ana Pellini, chegou a dizer que “Pior que o dano ambiental é a invasão.”
É inadmissível que uma secretária que se diz do Meio Ambiente prefira acabar com parte de uma área preservada e importante para o Estado em vez de responsabilizar-se por ela, protegê-la. Totalmente alinhado a este pensamento, o governo Sartori não investe em segurança e permite o abandono da instituição, tendo, assim, subsídios para convencer a população de que é necessário se desfazer dela.
Pois a FZB resiste e segue funcionando assim como outras fundações que tiveram sua extinção autorizada pelos deputados aliados de Sartori (PMDB). Não vamos permitir que o meio ambiente seja moeda de troca para este governo entreguista. Não à extinção!
Reserva homenageou padre jesuíta e naturalista
A Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo encerra uma das maiores, senão a maior, extensão florestal contínua inserida na área urbana na região metropolitana de Porto Alegre, com cerca de 450 ha de bosques misto, contendo eucaliptos no estrato superior e mata nativa composta de espécies típicas da bacia do Rio dos Sinos, crescendo em pleno vigor, no estrato médio e inferior da floresta. Na sua totalidade, considerando campos e floresta, são mais de 700 ha reservados à conservação ambiental, conforme o Plano de Manejo da reserva.
Assim descreveu o Decreto 41.891, de 16 de outubro de 2002, assinado pelo governador Olivio Dutra, que reconheceu a importância ambiental dessas florestas estabelecendo a Reserva como área de conservação ambiental, atrelando à Fundação Zoobotânica, através do Parque Zoológico,e batizando de Reserva Florestal Padre Balduíno Rambo.
Com 620 hectares de extensão, a reserva localiza-se entre São Leopoldo e Sapucaia do Sul. Abriga cerca de 200 mil pés de eucaliptos e mais de 35 espécies de árvores nativas da região crescendo abaixo das copas de eucaliptos, com exemplares que atingem os 20 m de altura, encravados na área de maior aglomeração urbana do Estado.
Cientificamente comprovada está a atuação do maciço florestal na manutenção de um oásis térmico na região de Sapucaia e São Leopoldo. Serve também de proteção de parte da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, para a formação de um banco genético da flora nativa regional, atuação como abrigo para a fauna, e para a realização de pesquisas visando a conservação da biodiversidade e a promoção de atividades de educação ambiental.

Padre Rambo

O homenageado foi o padre jesuíta gaúcho, natural de Tupandi, e naturalista. Rambo fez campanha pela criação de um Jardim Botânico em Porto Alegre e conseguiu que o Itaimbezinho fosse declarado Parque Nacional.
Em 1942, publicou sua primeira grande obra, A fisionomia do Rio Grande do Sul, uma descrição detalhada da geografia do Estado, incluindo mapas e 30 ilustrações paisagísticas, feitas a partir de fotos aéreas tiradas por ele em viagens por todo o território que mapeou a Estado em meados do século passado
Suas pesquisas botânicas resultaram num acervo de plantas de 50 mil exemplares, em 1948, cerca de 90% da flora nativa. Organizou o Museu Rio-Grandense de Ciências Naturais e fundou a revista Iheríngia.
 
 

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