Nem Melo, nem Marchezan: o equívoco do manifesto “Por uma Frente Popular e Democrática em POA"

Miguel Idiart Gomes – Estudante de Ciências Sociais na PUCRS
O resultado eleitoral em Porto Alegre traduziu a falta de representatividade de todos os partidos políticos. Nenhum candidato fez mais votos que brancos e nulos, demonstrando a falta de legitimidade de quem vai assumir o paço municipal. A partir dessa leitura, atribuir a esquerda como responsável por uma vitória das candidaturas do Marchezan (PSDB) ou Melo (PMDB) significa mais uma manobra de culpar o PT e a esquerda pelo resultado.
A carta intitulada Frente Popular Democrática, assinada por intelectuais, usa a denominação da chapa PT/PCB das eleições de 1989 em Porto Alegre. Compara candidatura de Melo e Juliana (PMDB/PDT), com de Marchezan (PSDB/PP); argumenta que o PDT posicionou-se, nacionalmente, contra o golpe; e acrescenta que Juliana é “herdeira das propostas avançadas do Brizolismo para a emancipação da cidadania e a afirmação da democracia e da legalidade”.
Com todo respeito que tenho aos trabalhistas históricos e a trajetória de lutas do PDT no país a carta esquece de avaliar o posicionamento da deputada Juliana na base do governo Sartori (PMDB) na Assembleia Legislativa. Um exemplo foi a votação da Lei de Diretrizes Orçamentária de 2015, na qual ela votou a favor do congelamento dos salários e a perda dos direitos trabalhistas no RS. A aprovação do tarifaço nesse ano pela base do Sartori é outro exemplo em que a neta do Brizola votou pelo aumento das alíquotas do ICMS, o imposto sobre gasolina, álcool, telecomunicações e energia elétrica comercial e residencial acima de 50 kw.
A trajetória do trabalhismo e da liderança de Brizola não combina em nada com o apoio a uma candidatura de um partido protagonista de um golpe de estado.
A carta argumenta “a origem pessoal e o vínculo de Melo com setores populares”, mas não enxerga o enquadramento das lideranças do Orçamento Participativo e a corrupção em diversas secretarias, com investigações da Polícia Federal, Tribunal de Contas e Ministério Público. Listo alguns casos de investigação: Operação Rodin – investiga o contrato sem licitação por R$ 11,3 milhões; Operação Pathos – investiga desvio de pelo menos R$ 9 milhões pelo Instituto Sollus, contratado sem licitação para gerir o Programa Saúde da Família; denúncias de desvios e de corrupção na SMAM que resultaram na prisão e indiciamento de secretário do PMDB; o rompimento do conduto Álvaro Chaves, confirmando suspeitas de irregularidades nas obras do SócioAmbiental; o milionário contrato para conclusão do novo Sistema Integrado de Administração Tributária, o SIAT, foi suspenso pelo Tribunal de Contas por que houve indevida dispensa de licitação; o caso da Procempa, em que o presidente jogou dinheiro pela janela. Também a denúncia de desvio de R$3 milhões por mês na Carris. O caso mais recente é do Departamento de Esgotos Pluviais, em que identificaram um prejuízo de mais de R$2 milhões para os cofres público.
Diante desses fatos, a gestão onde Melo é o vice-prefeito, contratou, indiscriminadamente serviços terceirizados que culminaram em desvios de recursos públicos sem precisar privatizar.
Os dois partidos, PT e Psol, tomaram a decisão acertada de orientar sua militância em não votar nem no Melo, nem no Marchezan. Aliás, o segundo turno ocorre no momento em que o golpe avança a galope com a provação da PEC241, onde o PMDB e o PSDB aprovaram o congelamento dos recursos na Saúde e Educação. Eles governam juntos o país e o Estado e serão aliados em Porto Alegre, independente do resultado do pleito. Eles têm lado e não é o das classes populares e nem trabalhadora.

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