Claro, a fúria do Taquari seria destrutiva em qualquer circunstância, o nível do Guaíba a mais de cinco metros seria arrasador de qualquer jeito.
A questão é que a calamidade encontra o Rio Grande do Sul na contramão do que pede uma emergência desse porte.
O que pede a emergência colossal?
Poder público com capacidade e meios de ação, serviços públicos eficientes e ágeis, informações, planejamento, prevenção… Não é o que se tem no Rio Grande do Sul.
No Rio Grande do Sul, há mais de 30 anos, com pequenos hiatos, se implanta um modelo de gestão pública voltado exclusivamente para o equilíbrio das contas do governo, sempre pelo lado do corte de despesas.
Resultado é que o Estado vendeu patrimônio, precarizou os serviços públicos (servidores estaduais ficaram sete anos sem reajuste salarial), perdeu a capacidade de planejar e prevenir e chega aos dias de hoje com uma dívida impagável, que deixa o poder público estadual manietado.
No Plano Plurianual (2024/2027) que o governador Eduardo Leite encaminhou à Assembleia está escrito: “Mesmo com os bons resultados fiscais alcançados em 2021 e 2022, o ano de 2023 e para o período 2024-2027, o Estado do Rio Grande do Sul terá ainda que lidar com os problemas estruturais das suas finanças (…) sem deixar de ter um olhar atento para a sustentabilidade do pagamento da dívida estadual”.
“É o único caminho”, diziam e dizem os defensores deste modelo de Estado mínimo, serviços públicos exíguos, políticas sociais restritas e irrestrita liberdade empresarial para que o mercado resolva o que o governo não consegue. É um mau caminho, agora fica escancarado.
Quando as águas baixarem, o que vai ficar exposto, como os escombros das cidades destruídas, são as fragilidades desse modelo, a sua incapacidade de prevenir e enfrentar eventos desta dimensão. Pior: sua incapacidade para reconstruir em bases que não sejam um mero paliativo. Acorda, Rio Grande!
(Elmar Bones)