Mariano Senna, de Berlim/Alemanha
Após 40 dias fechados, estabelecimentos de até 800 metros quadrados reabriram na quarta-feira (22/04) na Alemanha. Também indústrias, como a de automóveis, retomaram as atividades com ocupação reduzida. Tudo seguindo as novas regras de higiene e prevenção, incluindo a distância mínima, luvas e máscaras.
No caso das montadoras, além da quebra da produção, há uma quebra acumulada da demanda da ordem de dois milhões de veículos. Quatro milhões de trabalhadores do setor não sabem o que o futuro lhes reserva. “Não creio que o governo possa salvar todo mundo”, diz Albert Reiss, diretor-presidente da ARKU Machinenbau de Baden-Baden.
Mesmo com a retomada das atividades, em setores como o de turismo, o prejuízo pela crise pode fechar um terço dos negócios, dizem os prognósticos. No total, até o momento mais de 700 mil trabalhadores entraram com pedido ajuda do governo por conta da redução ocupacional.
Enquanto políticos profissionais como o Ministro da Saúde, Jens Spahn (CDU) comemoravam a autorização para o início de testes de uma vacina, especialistas criticavam como o processo de reabertura acontece na prática.
“Estamos arriscando perder as conquistas que obtivemos”, alertou o principal virólogo assessor do governo, Prof. Dr. Christian Drosten, Chefe do Instituto de Virologia da prestigiosa Charité de Berlin.
Na Alemanha morreram até o momento 5.100 pessoas vítimas do Covid-19, quatro vezes menos do que na Espanha, quem tem menos da metade do numero de habitantes.
Como um dos descobridores do Coronavírus da SARS em 2003, Dr. Drosten foi um dos principais responsáveis pelo “Lockdown” alemão. Desde o início da crise ele aposta a própria credibilidade contra todos os críticos e defensores da abertura ou do isolamento vertical. “Pela forma como as coisas vêm sendo conduzidas nessa reabertura, eu não me surpreenderei se tivermos em Maio e Junho uma situação fora de controle nos hospitais”, alerta o virologista.
O titular da saúde, Jens Spahn, preventivamente avisou em seu pronunciamento no parlamento: “Teremos que estar preparados para perdoamo-nos, pois nunca na história da humanidade se decidiram tantas coisas significativas e importantes, em um ambiente de tamanha incerteza e em tao curto espaço de tempo”.
O que significa isso? O prenúncio daquilo que em breve ocupará os alemães? Nas ruas da capital Berlin a vida voltou quase ao normal. Lojas abertas, mas muitas ainda vazias. Nos supermercados quase ninguém usa máscara, nem mesmo os caixas. Isso apesar da obrigatoriedade, que vem ganhando espaco Estado após Estado. “Máscara serve só para quem está doente”, justifica a Rosa Pankowa, gerente de Loja de uma grande rede no bairro de Neukölln, em referência a um dos dicensos dessa crise.
A estratégia do governo é criar uma rede de informações sobre a infecção. Todas as pessoas infectadas e aquelas com quem essas tiveram contato devem ser cadastradas e acompanhadas. Cinco pessoas serão responsáveis por seguir, interpretar os dados coletados por 150 times móveis para teste e diagnóstico por todo o país. Em complemento, será implementada a obrigatoriedade das notificações de testes (positivos e negativos) em todos os níveis da federação.
Em contra-ponto está a política de testes em vigor. Idosos e trabalhadores de asilos, como um dos grupos de risco, ainda não são sistematicamente testados. Médicos, enfermeiros e profissionais da saúde ainda não são sistematicamente testados.
Como exemplo de inovação em termos de medidas de controle, o correspondente em Pequim da rede ZDF, Ulf Röller, cita o aplicativo desenvolvido pelo governo Chinês. Em Wuhan, qualquer pessoa que queira ir a uma loja precisa baixar o App. Ele autoriza e controla a circulacao de pessoas por todos os lugares. “É um tipo de sistema de vigilância total através do celular, pois você não entra em lugar nenhum sem a autorização do aplicativo”, relata o jornalista. Segundo ele, os chineses estão achando uma maravilha o controle epidemiológico digital, tamanho o pânico da morte pelo Covid-19.