Arquitetos de todo o país discutem a profissão em Porto Alegre

Entrevista: Tiago Holzmann da Silva, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo/RS, que promove com o Instituto dos Arquitetos do Brasil, o Congresso Brasileiro de Arquitetos, que se realiza em Porto Alegre de 9 a 12 de outubro.
JÁ- Porto Alegre recebeu um congresso nacional de arquitetos em 1948, quando a cidade ainda nem tinha faculdade de Arquitetura…Por que?
-O maior objetivo desse congresso de 1948 em Porto Alegre era exatamente criar uma faculdade de arquitetura aqui. Havia dois cursos, um na Engenharia e outro na Escola da Belas Artes,  que não se falavam. Também havia no Rio Grande do Sul uma tradição dos arquitetos alemães, Theo Wiedersphan, Joseph Lutzenberger e outros… era influência muito forte, um estilo que não era o dos cariocas,  já ligados ao modernismo internacional.
-O congresso trouxe essa corrente...
-Sim, o objetivo era  também chamar atenção para as tendências da arquitetura moderna, com Le Corbusier e outros… abrir porteira para a arquitetura moderna.
-Os modernistas daqui viviam no Rio…
-Até então, os arquitetos gaúchos eram formados no Rio ou em Montevidéo, Machado Moreira, Demétrio…
-O congresso abriu as porteiras ao modernismo, mas só voltou 20 anos depois...
-O segundo congresso em Porto Alegre, em 1969, é da resistência. Momento de reorganização dos arquitetos. Já tinha caído a ficha de que o golpe era pra valer, mas é também onde  tem origem a questão da reforma urbana tema importante nas década seguintes.
-E esse congresso de agora, meio século depois daquele da resistência?
-O congresso é um momento de reunir, discutir, tirar as conclusões e trazer para a sociedade as demandas, que são nossas, mas são da sociedade também. E esse agora ocorre no momento em que a gente tem um ponto de inflexão muito  importante da profissão, consequência da multiplicação dos cursos de arquitetura…
Multiplicação?
Hoje temos o dobro do que se tinha há dez anos, quando foi criado o Conselho de Arquitetura e Urbanismo. No Brasil inteiro eram em torno de 80 mil arquitetos, hoje chegam a 200 mil, crescimento vertiginoso.
-Qual é a consequência disso?
-Não seria grave se a qualidade fosse alta. Seria ótimo, mas a gente vê a proliferação de faculdades e a qualidade da formação em queda, a mercantilização da cidade e do ensino…Momento de grave reflexão, de pensar o que vamos fazer com isso.
-No Rio Grande do Sul também cresceram assim os cursos?
-No Rio Grande do Sul são cinquenta e duas faculdades e, algumas delas, já dão o curso sem que o aluno precise ir à faculdade, pelo ensino à distância. Formam quase mil arquitetos por ano. Há dez anos, eram oito ou novel mil arquitetos no Estado, hoje são mais de 15 mil.
E tem mercado?
-Essa é a questão. O mercado que o arquiteto tradicionalmente atende, de classe média alta, residencial ou comercial, está saturado. O desemprego é enorme.
Como o congresso vai abordar isso?
-Uma grande meta da profissão hoje é a Lei da Assistência Técnica, a LAT,  iniciativa do arquiteto Clovis Ilgentritz quando era deputado federal.
O que diz a lei?
-Cria um serviço de arquitetura e urbanismo para cuidar dos programas de moradia, para população de baixa renda.  A moradia está entre os direitos fundamentais – educação pública, saúde pública, segurança pública, defensoria, mas não temos o atendimento à moradia que está garantido lá na constituição, não tem o serviço público para atender esse direito e essa lei permite. Ela coloca como sendo uma obrigação do estado fornecer um serviço público para planejamento, reforma, ampliação de moradias, para regularização de áreas populares. Essa lei já fez dez anos e não é aplicada.
As prefeituras teriam que aderir?
-Sim, nós estamos fazendo um grande esforço para levar às instituições, prefeituras, governos, mostrar que é uma lei e que pode trazer enormes benefícios à população com poucos recursos. Fazer cumprir essa lei é o principal objetivo do CAU.
-Os prefeitos são sensíveis à idéia?
-A receptividade é muito grande. Já visitamos dezenas de prefeitos… Eles ficam empolgados com a idéia.  Criar dentro da secretaria de planejamento, por exemplo, um serviço público para as famílias que moram precariamente. Eles sabem a gravidade da questão da moradia, sabem também que é pouco investimento. Para resolver a vida de uma família precisa de poucos milhares de reais. É um investimento pequeno que gera resultados.
-Já tem esse serviço em alguma prefeitura?
-Nós temos boas experiências, mas não uma política implantada. Tivemos experiência muito boa no governo do Distritio Federal, no governo do  Rolemberg. Ele chamou uma turma do IAB para dentro do governo. Fizeram um trabalhjo muito intenso de regularização, mais de 60 mil moradias regularizadas no período, contra cinco mil em toda a história, em quatro anos. Fora muitas ações de qualificação urbana nas áreas periféricas do distrito federal. Depois, temos várias boas experiências em prefeitura, com ongs e movimentos sociais mas ainda são ações isoladas dependem de um agente que lidere para que ele tenha continuidade. Criamos aqui no CAU um Gabinete da Assistência Técnica que é exatamente para ajudar quem quer fazer, principalmente as prefeitura. Vamos ensinar as prefeituras a implantar o serviço, cada uma com sua particularidade.
-Que prefeituras estão no radar?
– Venâncio Aires. Carlos Barbosa, Xangrilá, Piratini, Santa Rosa, e várias outras que vão entrar num projeto piloto.
-O mercado é imenso, só em Porto Alegre 20% da população mora em condições irregulares…
-Se incluir a  Região Metropolitana, Alvorada, Viamão Eldorado… metade está em área irregular, muitas em áreas de risco, é muito urgente.
-Como sustenta esse serviço, o orçamento da prefeitura?
-São várias possibilidades, estamos construindo alternativas. Pode ser um fundo público, gerido pela prefeitura…
 

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