Em abril, quando confirmou sua candidatura à reeleição, o prefeito Sebastião Melo era considerado imbatível, até por alguns de seus mais severos críticos.
Com apoio explícito da mídia local, executando um programa dos sonhos do empresariado – com privatizações, terceirizações e incentivos à construção civil – Melo era tão favorito, que a indicação da deputada Maria do Rosário, pelo PT, chegou a ser considerada “uma candidatura para o sacrifício”.
A enchente que assolou Porto Alegre em maio virou de pernas para o ar o cenário destas as eleições, cujo adiamento chegou a ser cogitado mas que estão confirmadas para 6 de outubro.
As águas que avançaram por todo o centro e vários bairros da cidade, numa situação inédita desde 1941, expuseram as graves negligências da gestão Sebastião Melo, em planejamento, políticas ambientais e, sobretudo, nas medidas para contenção das renitentes cheias do Guaíba.
Mesmo a imprensa que apoiava explicitamente o prefeito teve que expor os seus erros e mostrar que seus principais projetos para o desenvolvimento da cidade estavam na contramão de uma nova realidade que a enchente escancarou.
Uma pesquisa em junho apontou que 59% dos porto-alegrenses desaprovavam a gestão de Melo. Sua substituição já vinha sendo admitida dentro do próprio partido e da coligação que o apoia.
Ele tentou reagir. Num evento da Fundação Ulysses Guimarães, Melo recebeu o apoio do deputado Alceu Moreira, presidente da Fundação e teve a oportunidade de fazer um discurso minimizando as críticas e dizendo que é “mais candidato do que nunca”.
Alceu Moreira lidera uma dissidência no MDB, em contraposição ao grupo majoritário alinhado ao vice-governador Gabriel de Souza, que defende a aliança com o PSDB, de Eduardo Leite, também para as eleições municipais.
A reação de Melo, tentando mostrar que tem como recuperar o desgaste da enchente, ao que tudo indica não teve força para alterar uma posição que se torna dominante em seu partido.
A fissura ficou evidente há poucos dias quando Leite indicou ex-prefeito Nelson Marchezan, do seu partido, como candidato das forças que dão sustentação a Melo, na verdade as mesmas que sustentaram Marchezan. Trata-se de salvar o projeto.
O ex-prefeito José Fortunatti, também já havia sido mencionado como candidato à “continuidade sem Melo” e agora, neste início de semana, circulou o nome de José Fogaça, o candidato que o MDB foi buscar em 2004 para quebrar a hegemonia de 16 anos do PT em Porto Alegre.
Esses movimentos provocaram alguns espasmos à esquerda, mas até agora insuficientes para alterar o jogo de forças que sustenta a candidatura de Maria do Rosário, cujo desempenho em recentes pesquisas fortaleceu sua posição.
Em entrevista ao Uol, ela mostrou-se preparada e determinada e destacou as alianças que está costurando e que já envolveriam PSOL, PCdoB, PV, Rede e em andamento com o PDT. Seria uma inédita aliança de esquerda já no primeiro turno.
Há, porém, um palpável silêncio e uma indisfarçada cautela no campo da esquerda, o que não elimina uma movimentação intensa abaixo da linha d’água.
Maria do Rosário tem-se mantido discreta, mas firme em sua posição. Se ela era boa candidata para enfrentar um Melo imbatível, por que não será agora que ele está em baixa?
Rosário, que exerce o sexto mandato na Câmara Federal, já foi candidata derrotada à Prefeitura de Porto Alegre em 2008, quando ela e Manuela d’Ávila dividiram os votos da esquerda e José Fogaça foi reeleito.
(Elmar Bones)
