Jornalista lança "Estado Policial", um alerta sobre o avanço das milícias

“O desejo de todo escritor é que seu trabalho seja útil a alguém, mas eu sinceramente espero que ninguém precise deste”, diz com humor o jornalista Cid Benjamin, vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa.
Às vésperas de completar 72 anos, ele está lançando seu novo livro: “Estado Policial – Como Sobreviver”, espécia de manual de sobrevivência diante do fenômeno das milícias que se alastra pelo país.
Pernambucano do Recife, Benjamin vive no Rio de Janeiro, cidade em parte dominada pelas milícias, que segundo ele já se alastram por pelo menos doze estados brasileiros, e estão conectadas entre elas.
Mas não concorda que elas configurem uma  espécie de “Estado paralelo”, por estarem entranhadas e terem interação com parte do Estado oficial –  especialmente nos atuais governos, tanto o federal como o fluminense e o carioca, conforme as evidências que se sucedem. Vê as “ideias”, falas e práticas do presidente da República “mais como de um miliciano do que de um militar”.
“Foram eleitos e isso temos que respeitar, assim como os eleitos têm que respeitar a Constituição”, resume. Louvar a tortura, por exemplo, é crime no Brasil.
Benjamin autografou na noite de quinta-feira na Associação Riograndense de Imprensa (ARI), com direito a depoimento e conversa com o público. Contou que, quando estudante de engenharia e militante do movimento estudantil nos anos mais violentos da ditadura militar, acabou optando por participar da resistência armada, pelo que depois foi preso, torturado e viveu exilado por dez anos. Hoje, reconhece nessa opção um equívoco. “Errei politicamente: a luta armada, naquelas condições, foi um erro.”
“Hoje, eu me considero um humanista, e por isso continuo sendo de esquerda.” A matança de inocentes nas periferias do Rio de Janeiro, especialmente crianças assassinadas pela polícia ou pelas milícias, são motivo de sobra para se buscar. “Não sei se é uma repetição do que se viveu, mas são tempos ameaçadores”.
Aconselhado por inúmeros amigos e colegas de profissão a não levar adiante o projeto deste livro, assim mesmo decidiu levá-lo adiante. “Não se pode viver com medo. Não se pode deixar de fazer o que acha que tem que fazer, por medo.”
O livro traz três prefácios. O primeiro é do ator/diretor Wagner Moura, diretor da cinebiografia de Marighella, sobre o político, escritor e guerrilheiro baiano, cujo roteiro  contou com consultoria de Cid Benjamin e hoje enfrenta dificuldades para exibir o filme.
Os outros dois prefácios são do desembargador João Batista Damasceno – “Em defesa da vida no Estado policial ou em tempos de ovo da serpente” – e do bispo católico dom Angélico Sândalo Bernardino – “A serpente do fascismo está ativa”.
A sugestão do evento foi do advogado Jair Krischke, sinônimo da defesa de direitos humanos no Brasil, prontamente acolhida pela ARI. “Coisas importantes precisam ser ditas neste momento”, frisou o presidente Luiz Afonso Lino de Souza. “Ainda mais neste momento de tantas tentativas de supressão de direitos, especialmente dos mais básicos direitos humanos”, completou o presidente do Conselho Deliberativo da entidade, Batista Filho.

Um comentário em “Jornalista lança "Estado Policial", um alerta sobre o avanço das milícias”

  1. Não sabia que a cinebiografia do terrorista Carlos Marighella é um fracasso. Anders Behring Breivik recebe 800 cartas por ano das admiradoras. Seria de bom alvitre que o ator/diretor Wagner Moura pensasse em fazer uma cinebiografia do moço, afinal, ele gosta de perfis assassinos.

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