Menos de 1% dos municípios têm maioria de mulheres vereadoras; quase todos têm menos de 15 mil habitantes

Um levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), divulgado nesta terça-feira, 16, mostra que nos 5.568 municípios brasileiros que realizaram eleições municipais em 2020, somente 45 cidades têm maioria de mulheres na composição das câmaras de vereadores.

O número não chega a 1% do total dos municípios onde houve eleições em 2020.

Sete em cada dez municípios onde ocorre essa maioria feminina têm população menor do que 15 mil pessoas, segundo o Censo Demográfico 2022.

Somente um, desses 45 municípios com maioria de mulheres na Câmara, tem mais de 100 mil habitantes. Em Araras (SP), que tem 135 mil habitantes, seis das onze cadeiras da Câmara de Vereadores são ocupadas por mulheres.

É uma exceção. A população média nas cidades onde as mulheres chegaram à maioria no legislativo municipal é de 7.445 pessoas.

Já os municípios com menor participação feminina nas casas legislativas locais — entre 20% e 30% — estão em maior número.  São 1.384 cidades com mediana populacional de 9.513 habitantes.

O gráfico mostra os dois Estados com maior colegio eleitoral, SP e MG, onde apenas  4 municípios têm maioria de mulheres no legislativo. Imagem: Divulgação/TSE

Cenários diferentes 
A doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Hannah Maruci, aponta que, em municípios menores, a  representatividade feminina é mais alta devido às menores barreiras financeiras que as candidatas enfrentam. “Os municípios pequenos são onde elas têm a possibilidade de fazer campanha com menos dinheiro. Em municípios maiores, a desigualdade de recursos é uma barreira significativa para as mulheres”, informa Hannah.

Essa disparidade é agravada pelo descumprimento das cotas de gênero de financiamento de campanha por parte de partidos, o que coloca as candidatas em desvantagem, especialmente em cidades maiores, onde o custo das campanhas é substancialmente mais elevado.

“Quando olhamos esses dados, vemos que as mulheres conseguem fazer maior sucesso em municípios pequenos. Isso [é constatado], apesar de existir uma literatura que pensa: tem mais cadeiras, isso aumenta a chance das mulheres. Na verdade, não. Na verdade, isso faz muito mais sentido com relação ao sistema eleitoral brasileiro. Demonstra essa situação que a gente tem de campanhas muito caras”, explica.

Por que ter mais mulheres atuando na política municipal é benéfico? A doutora em Ciência Política pela Universidade de Essex, no Reino Unido, e pós-doutora pela Universidade de São Paulo (USP) Teresa Sacchet argumenta que a experiência de vida da mulher é única em muitos aspectos e pode enriquecer o processo de elaboração de propostas e de tomada de decisão política.

“[Se] o espaço legislativo é formado majoritariamente por homens de uma determinada classe social e raça, nós teremos políticas públicas que vão refletir mais esse grupo específico. Normalmente, os que ocupam a política são homens brancos, com mais recursos financeiros. É por isso que precisamos trazer para o ambiente político pessoas que ocupam diferentes espaços da sociedade”, defende Sacchet.

“As mulheres têm agendas, têm interesses, muitas vezes diferentes dos interesses masculinos. É importante que essas perspectivas sejam representadas na esfera pública, no processo decisório. Então, eu acredito que, quanto mais o processo decisório for inclusivo nas formas de diferenças sociais, melhor. Teremos mais capacidade de ter uma melhor representação política. Por isso, acho que é fundamental para a democracia e é fundamental para o processo de tomada de decisão política que a gente pluralize esse espaço”, conclui a pesquisadora.

Mulheres são as que mais comparecem 
Em 2024, a conquista do direito ao voto para as mulheres completa 92 anos. O voto feminino corresponde a 53% do eleitorado nacional.

São as eleitoras que mais comparecem às urnas. Nas Eleições Gerais de 2022, a taxa de participação do eleitorado feminino chegou a 80%, enquanto a dos homens ficou em 78%.

(Com informações da Assessoria de Imprensa do TSE)