Há mais de 80 anos está identificado e diagnosticado o fenômeno climático das estiagens que ocorrem em regiões do Rio Grande do Sul.
De seis em seis ou sete anos, por uma série de fatores meteorológicos, essas estiagens se agravam e configuram uma seca severa que castiga tanto os moradores das cidades quanto os produtores rurais, que perdem suas safras e veem morrer o gado no campo sem pasto.
Avaliando dados meteorológicos de mais de um século, a pesquisa de 1942, coordenada pelo geólogo Mariano Sena Sobrinho, diagnosticou o fenômeno das secas periódicas, constatando que não é um problema de falta, mas de má distribuição da água das chuvas e de dificuldade para acumulação da água, pelas características do solo, arenoso, com poucas elevações, e vegetação rasteira.
As soluções seriam simples segundo aponta o estudo intitulado “As Estiagens na Faixa da Fronteira”:
“Verificamos então que para prevenir ou atenuar as consequências danosas das estiagens periódicas e prolongadas que tem se repetido mais ou menos de sete em sete anos na faixa da fronteira (Campanha) é necessário um programa de:
1)Armazenamento de águas na superfície, nas estações mais convenientes (inverno e primavera), por meio de construção de açudes e barragens onde for exequível em bases econômicas.
2)Captação de águas subterrâneas por meio de furos de sonda, trabalho esse que já vem sendo executado por intermédio da Diretoria de Produção Mineral desde 1947.
Desde então, a cada periodo de seca forte, o governo reconhecia a gravidade do problema e anunciava grandes programas de construção de centenas (até milhares) de barragens, açudes e poços artesianos.
Com a volta da chuva, o assunto sumia do noticiário, as verbas iam para outras demandas mais urgentes e o programa de prevenção da seca ficava no papel.
Até porque, como o fenômeno era cíclico, o governo sabia que a próxima estiagem seria problema do seu sucessor. Resultado: um atraso de décadas em irrigação e gigantescas perdas em safras, pesadas indenizações aos produtores…
Só que no presente, com a aceleração das mudanças climáticas essa imprevidência se tornou insustentável. As secas se tornaram mais frequentes e o volume de chuva ainda mais irregular.
Nas duas últimas décadas, foram pelo menos seis estiagens fortes e, desde 2023, cerca de dez temporais com altos volumes de chuvas. As perdas nas lavouras nos dois ultimos anos chegam aos R$ 10 bilhões.
A irrigação, então, volta ao noticiário e às preocupações urgentes do governo.
No dia 20 deste mes, uma comitiva liderada pelo vice-governador Gabriel Souza, chegou aos Estados Unidos para uma “imersão” no assunto.
“A grande variação da disponibilidade hídrica tornou-se uma preocupação frequente da população, dos produtores rurais e dos gestores públicos. Diante de cenários cada vez mais desafiadores, o governo gaúcho vem implementando políticas públicas de incentivo à reserva de água e de adaptação para a resiliência climática”, diz a nota que o governo estdual distribuiu para justificar a jornada de uma semana da “missão técnica do governo do Estado ao Nebraska (EUA)”.
Segundo a nota, “a comitiva gaúcha, liderada pelo vice-governador Gabriel Souza, iniciou as atividades com uma imersão sobre o panorama da agricultura irrigada no país e no mundo. A apresentação foi conduzida pelos pesquisadores Ivo Zution Gonçalves e Christopher Neale, da Universidade do Nebraska, em Lincoln, referência mundial em pesquisas sobre irrigação e uso eficiente da água”.
O vice-governador explicou “a importância da agenda técnica para ampliar o conhecimento sobre práticas e tecnologias aplicáveis à realidade do Rio Grande do Sul”. “O Nebraska tem a maior área irrigada dos Estados Unidos e, por isso mesmo, é importante estarmos aqui durante toda esta semana para conhecer melhor as pesquisas e as tecnologias desenvolvidas neste Estado. Queremos levar esse aprendizado para o Rio Grande do Sul, já que a irrigação é uma área estratégica para nós. O Estado vem sendo afetado com frequência crescente pelas estiagens e, por isso, é fundamental ampliarmos a área irrigada das nossas lavouras, especialmente de soja e de milho, garantindo segurança produtiva e sustentabilidade ao nosso agronegócio”, destacou Gabriel.
A comitiva também visitou o Greenhouse Innovation Center, da Universidade do Nebraska–Lincoln (UNL), uma das mais avançadas instalações de pesquisa agrícola dos Estados Unidos. Apresentado pelo diretor de Relações Industriais, Ryan Anderson, o espaço reúne modernas estufas, laboratórios e sistemas automatizados de análise de plantas voltados ao desenvolvimento de tecnologias de alta precisão para o setor. Os estudos realizados no centro têm como objetivo acelerar o melhoramento genético das plantas, identificando variedades mais produtivas e resistentes a estresses climáticos. Após os testes em ambiente controlado, as espécies seguem para ensaios de campo, onde são avaliadas em condições reais de cultivo.
O secretário da Agricultura, Edivilson Brum, destaca que o principal objetivo da viagem é buscar novas tecnologias e técnicas para irrigação que possam ser aplicadas no Rio Grande do Sul. “Nada melhor do que ir ver de perto a realidade de lugares que são referência no mundo da irrigação e uso de recursos hídricos. O agro representa 40% do PIB gaúcho e é fundamental buscarmos mecanismos e ideias que possam mitigar os efeitos sentidos pelos produtores, principalmente em períodos de estiagem”, enfatizou.
