Pandemia econômica e climática são os outros fronts na Europa

Distanciamento não é mais respeitado nas ruas de Berlim / Fotos Mariano Senna

No dia em que a União Européia obteve consenso sobre o “pacote de resgate” da economia do bloco, um total de 500 bilhões de euros, agências de notícias informavam o início das negociações entre governo e empresas aéreas. A gigante do turismo TUI recebeu 1,6 bilhão de euros nas primeiras semanas da pandemia, e agora pleiteia pelo menos o dobro. A Lufthansa pede outro um bilhao de Euros. A quarentena do coronavírus já custou 166 bilhões de euros ao tesouro alemão na forma de ajuda a empresas e trabalhadores.

“Devemos evitar a imagem de um Estado que nos ajuda distribuindo dinheiro numa emergência como essa. Em algum momento teremos que pagar essa conta”, aponta Reiner Hoznagel, presidente da Federação Alemã dos Contribuintes.

Na linha de frente, um quinto das empresas do país pretendem demitir funcionários, segundo o IFO-Institut (www.ifo.de). Em meio a esse turbilhão, a pergunta do dia foi: como uma sociedade democraticamente organizada assume o desafio contra uma massiva ameaça contra a vida? Olhando para trás, é inevitável a pergunta sobre se tudo isso era necessário.

Dr. Christian Drosten, Virólogo da Charité de Berlin, e um dos principais responsáveis pela estratégia adotada pelo governo alemão para conter a pandemia, ajuda a responder.

“No mundo todo, 2,6% das pessoas infectadas pelo coronavírus, independente da idade, precisam ir para o hospital. Para termos uma informação mais precisa sobre a situação, precisamos saber também o que ocorre fora dos centros de saúde. Segundo os modelos estatísticos mais avançados, 0,5 % de todas as pessoas infectadas pelo vírus morrem”, explica ele. Detalhe, para os acima de 80 anos a mortalidade é de 8,3%.

Parece nada, um peido molhado na taxa de mortalidade. Cerca de 70% da população de 85 milhões da Alemanha deve ser contaminada pelo vírus, de um jeito ou de outro, de acordo com os dados apresentados pelo co-descobridor do coronavírus da SARS em 2003. Fazendo as contas com calma, serão 280 mil pessoas que morrerão quando a contaminação atingir esse número de pessoas, e a taxa de mortalidade da doença for mantida.

Christian Drosten lembra que se as pessoas não puderem ser atendidas nos hospitais por conta da superlotação, o percentual de mortos em relação ao número de infectados aumenta. “Em algumas regiões da Itália esse percentual chegou a 12%”.

Dr. Drosten aposta sua reputação contra aquilo que chama de “boa vontade política”. “Há tanta fantasia a respeito de como podemos regular nosso comportamento no sentido de proteger-nos de um vírus assim”, conta ele, sem esquecer de frisar que máscaras e luvas não serão suficientes para garantir segurança. “Não ficarei surpreso se observarmos nas próximas semanas um retorno da corrente de infecções que tivemos nas primeiras semanas da epidemia”.

Contrário a qualquer apelo dramático, o mais importante virólogo alemão invoca a cautela recomendada pelas autoridades. “Passamos por um teste, como não vivíamos desde o fim da segunda guerra mundial, ninguém faz com prazer, mas é a verdade, temos, hoje, não o final da pandemia, mas o começo”, consentiu a primeira ministra, Angela Merkel, durante seu discurso no Parlamento.

“O Estado é absolutamente dispensável. É tempo de relaxar a restrição de direitos fundamentais, e delegar a responsabilidade pelas medidas de proteção a cada individuo”, defendeu Alexander Gauland, uma das proeminentes figuras do Afd (Alternative für Deutschland), partido de extrema direita da Alemanha.

Para o líder do Partido Verde no Reichtag, Anton Hofreiter, se o assunto é prevenção, então não podemos esquecer da questão climática. Enquanto “a crise do Cororna” monopoliza atenções, o Hemisfério Norte arde, com incêndios florestais espalhados pela Ucrânia, Russia, Polônia, Alemanha e Holanda.

Na Alemanha a seca é recorde desde 2018. Ainda assim, os alemães assistem impassíveis a recordes de temperatura e de redução pluvial. Dados oficiais apontam que praticamente um terço do país vive uma seca extraordinária para os padrões observados pela ciência há pelo menos cem anos. “É uma verdadeira catástrofe”, diz Philipp Fölsch, diretor da Produtos Agrários Dambec enquanto cava no solo seco e arenoso da sua plantação de milho. Segundo Dr. Andreas Marx, do Centro Helmholtz de Pesquisa em Meio Ambiente, as medições de umidade do solo indicam que a seca irá perdurar por toda temporada de verão.

Autor: Mariano Senna

Mariano Senna, nasceu em Porto Alegre. Formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (1995). Trabalhou em veículos impressos diários, semanários e mensários no Sul do Brasil. No JÁ, coordenou o projeto dos jornais de bairro (JÁ Bom Fim, JÁ Moinhos) e a criacao da Agência de Notícias Ambientais - Ambiente JÁ, no final dos anos 90. Em 2003 mudou-se para Berlim, na Alemanha, onde atua como correspondente, tradutor e consultor. Mariano têm mais de 20 anos de experiência no acompanhamento e reportagem de temas controversos, envolvendo interesses corporativos. É mestre (Master of Science) em mídia digital pela Universidade de Lübeck e tem doutorado (PhD) em ciência da informação no Instituto de Biblioteconomia e Ciência da Informação (IBI) da Universidade Humboldt de Berlim.

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