O jornal britânico The Guardian publicou nesta quarta-feira ampla reportagem de Jonathan Watts sobre o aumento da derrubada da floresta na Amazônia. Ele diz que o ritmo de desmatamento volta aos piores níveis de 20 anos atrás.
Leia o texto do Guardian:
“O desmatamento da Amazônia brasileira subiu acima de três campos de futebol por minuto, de acordo com os últimos dados do governo , empurrando a maior floresta tropical do mundo para mais perto de um ponto de inflexão além do qual não pode se recuperar.
O aumento acentuado – após os aumentos anuais em maio e junho – confirma o temor de que o presidente Jair Bolsonaro tenha dado luz verde à invasão ilegal de terras, extração de madeira e queimadas.
A liberação até agora em julho atingiu 1.345 quilômetros quadrados, um terço maior do que o registro mensal anterior sob o sistema de monitoramento atual pelo sistema de satélite Deter B, que começou em 2015.
A erosão constante da cobertura de árvores enfraquece o papel da floresta tropical na estabilização do clima global.
Os cientistas advertem que a floresta está em crescente perigo de degradação em uma savana, após o que sua capacidade de absorver o carbono será severamente diminuída, com consequências para o resto do planeta.
“É muito importante continuar repetindo essas preocupações. Há vários pontos de inflexão que não estão longe ”, disse Philip Fearnside, professor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
“Não podemos ver exatamente onde eles estão, mas sabemos que eles são muito próximos. Isso significa que temos que fazer as coisas imediatamente. Infelizmente não é isso que está acontecendo. Há pessoas que negam que tenhamos um problema”.
Pode também complicar a ratificação do maior acordo comercial do Brasil com a União Européia se os legisladores da UE decidirem que a nação sul-americana não está mantendo seu compromisso de desacelerar o desmatamento em linha com o acordo climático de Paris.
Os números oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais são um constrangimento crescente para Bolsonaro, que tentou classificá-los como mentiras e criticou o chefe do instituto.
No início da semana, o presidente insistiu que os números deveriam ser exibidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e mostrados a ele antes de serem divulgados para que ele não seja “ pego de calças curtas”.
Isso aumentou o receio de que os dados pudessem ser manipulados no futuro, em vez de atualizados automaticamente on-line todos os dias, como é feito atualmente.
Em seus primeiros sete meses no poder, Bolsonaro, eleito com forte apoio do agronegócio e dos interesses da mineração, agiu rapidamente para desgastar os órgãos governamentais responsáveis pela proteção das florestas.
Ele enfraqueceu a agência de meio ambiente e efetivamente a colocou sob a supervisão do Ministério da Agricultura, cuja titular foi indicada pelo lobby agrícola.
Seu ministro das Relações Exteriores rejeitou a ciência do clima, que seria “parte de um plano marxista global”. O presidente e outros ministros criticaram a agência de monitoramento florestal, Ibama, por impor multas a grileiros e madeireiros ilegais.
O governo também moveu-se para enfraquecer as proteções para reservas naturais, territórios indígenas e zonas de produção sustentável por povos da floresta e convidou empresários a registrar contra-reivindicações de terras dentro dessas áreas.
Isso encorajou aqueles que querem invadir a floresta, limpá-la e reivindicá-la para fins comerciais, principalmente na expectativa especulativa de que ela aumentará em valor, mas também em parte para pastagens de gado, campos de soja e minas.
No início deste mês, foi relatado que milhares de garimpeiros invadiram ilegalmente o território indígena Yanomami, perto da fronteira com a Venezuela.
Em outros lugares, madeireiros ilegais realizaram pelo menos dois ataques em resposta às operações de imposição do Ibama, segundo o jornal Folha de São Paulo.
No dia 4 de julho, eles teriam queimado um caminhão do Ibama em Espigão d’Oeste, estado de Rondônia e na semana passada teriam queimado pontes em Placas, no estado do Pará.
Ao invés de defender os seus oficiais, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles apareceu a lado dos madeireiros, quando fez um discurso para um grupo deles em Rondônia logo depois, dizendo:
“A indústria madeireira merece ser respeitada … O que Acontece hoje no Brasil, infelizmente, é o resultado de anos e anos e anos de uma política pública de produzir leis, regras, regulamentos que nem sempre estão relacionados com o mundo real. O que estamos fazendo agora é precisamente trazer a parte legal do mundo real que acontece em todos os países de norte a sul. ”
Durante uma recente reunião do G20, Bolsonaro disse à chanceler alemã, Angela Merkel, que ela não tinha o direito de criticar porque o histórico de conservação do Brasil era superior ao da Europa.
Esta é uma afirmação duvidosa, de acordo com o Climate Observatory , que cita dados do Banco Mundial que mostram que a Alemanha concedeu status de proteção a uma parcela maior de suas terras do que o Brasil.
O Brasil também está indo para trás rapidamente. Após uma redução de 80% na taxa de desmatamento entre 2006 e 2012, sucessivos governos relaxaram as proteções.
No ano passado, o desmatamento aumentou 13% para o nível mais alto em uma década . Este ano está a caminho de ser muito pior e a tendência está de volta aos dias sombrios do início dos anos 2000.
“Infelizmente, é um absurdo, mas não deve surpreender ninguém. O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Ricardo Salles estão desmantelando nossas políticas socioambientais ”, disse Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima , uma ONG formada por uma coalizão de grupos ambientalistas.
Ele disse que Salles erradicou o departamento responsável pelas políticas de combate ao desmatamento, que nenhum líder foi nomeado em oito dos nove escritórios regionais do Ibama e que as operações para combater crimes ambientais diminuíram 70% entre janeiro e abril de 2019 em comparação com o mesmo período. ano.
Os dados de satélite Deter são considerados preliminares, mas geralmente são um guia para as tendências de longo prazo. Números anuais mais detalhados são geralmente divulgados no final do ano, após o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ter calculado dados do mais poderoso sistema de satélites Prodes.
As árvores são consideradas essenciais para a estabilidade climática. No início deste mês, um estudo indicou que o plantio de um trilhão de árvores poderia remover dois terços de todas as emissões que foram bombeadas para a atmosfera por atividades humanas. Mas os cientistas dizem que a manutenção de florestas existentes, particularmente nos trópicos, é muito mais importante.
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Nova classificação estabelece regras mais brandas para produtos "muito tóxicos"
As novas regras para a avaliação de risco de agrotóxicos, foram anunciadas na última terça-feira (23) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A classificação vai aparecer nas embalagens dos pesticidas e servir para orientar os agricultores na hora de usá-los. Os fabricantes terão 1 ano para se adaptar.
A Anvisa diz que o novo critério segue um padrão internacional e é mais restritivo. Mas admite que, pelo novo método, produtos que atualmente são considerados muito tóxicos poderão ter uma classificação mais branda.
Dos 2.201 agrotóxicos registrados no Brasil que estão no mercado, a Anvisa já recebeu dados para reclassificação de risco de 1.981 produtos.
A agência estimou que o volume dos considerados “extremamente tóxicos” poderá baixar de 800 para 300 na nova metodologia.
Isso porque mudou o que será levado em conta na hora de dizer o quão perigoso é o produto.
Pela lei que regula os agrotóxicos, da década de 1990, existiam 4 classificações;
Também podiam ser classificados como “extremamente tóxicos” (tarja vermelha) produtos que não necessariamente levariam à morte, mas causariam lesões ou irritação severa se ingeridos ou entrassem em contato com a pele ou olhos. Ou seja, risco de morte ou de graves lesões ou intoxicação eram tratados da mesma maneira.
Agora, serão 6 classificações, mas só vai receber o título de “extremamente tóxico” (tarja vermelha) ou “altamente tóxico” (vermelha) o produto que levar à morte se ingerido ou entrar em contato com pele e olhos.
Os que podem causar intoxicação, sem risco de morte, levarão a classificação “moderadamente tóxico” (amarela), “pouco tóxico” (azul) ou “improvável de causar dano agudo” (azul).
“Esse marco não é mais restritivo, ele aumenta os níveis de classificação, mas não significa que seja mais restritivo. A diminuição de produtos da lista de ‘muito tóxicos’ representa, sim, um afrouxamento”, disse Marina Lacôrte, do Greenpeace.
A Anvisa nega que esteja acontecendo uma flexibilização dos critérios.
“É uma palavra que pode ser utilizada [flexibilização], mas não é assim. Nós estamos igualando, como eu venho falando, o marco regulatório do Brasil com o marco regulatório do mundo. Então, se nós estamos flexibilizando, então o mundo está flexibilizando, afirmou o diretor de agrotóxicos da agência, Renato Porto.
Para o professor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP) e presidente do Conselho Científico Agro Sustentável, José Otávio Menten, a adoção do GHS como padrão para a classificação foi positiva.
Na avaliação dele, as novas categorias aproximam o Brasil de países que são referência no uso de defensivos agrícolas.
“Uma mudança importante pedida por acadêmicos, setor e técnicos em geral era a adoção do GHS, que deixa de fazer a classificação do risco pelo perigo. Não vejo nada de negativo, apenas colocou a legislação no patamar internacional”, explicou.
“Alguns produtos de baixa toxicidade tinham uma classificação muito rigorosa porque causavam irritações na pele e nos olhos, mas não traziam risco [de morte]”, José Otávio Menten, da Esalq-USP.
A Andef, que representa as fabricantes de agrotóxicos no país, recebeu de forma positiva o novo marco. “Devido à evolução científica do conhecimento em mais de duas décadas da lei que rege o sistema de defensivos agrícolas, é preciso avançar com a responsabilidade de responder às demandas do campo”, disse a entidade, em nota.
Para Marina Lacôrte, do Greenpeace, a mudança da metodologia acompanha uma movimentação do governo para maior aprovação dos agrotóxicos.
“Essa era uma coisa que estava em discussão no ‘Pacote do Veneno’ (projeto de lei que tramita na Câmara e propõe mudanças no registro de agrotóxicos). Estamos vendo uma parte deste pacote sendo aplicada diretamente pelo executivo, de forma repentina”, afirmou.
O ritmo de liberações de agrotóxicos neste ano é o mais alto já registrado.
O diretor da agência de vigilância sanitária destacou que as embalagens dos agrotóxicos terão informações mais claras do que atualmente. “Antes, eu [Anvisa] dizia que o produto era tóxico, mas não falava como ele [consumidor] deveria se proteger. O rótulo atual diz a classificação, mas não avisa qual o risco. Como quem está usando vai saber do que se proteger?”, explicou Renato Porto.
Os novos rótulos terão frases como “mata se for ingerido”, “tóxico se em contato com a pele”, e “provoca queimaduras graves” e deverão detalhar os perigos, o que não acontece atualmente.
A caveira que aparece hoje na maioria das embalagens de agrotóxicos só será usada para os que forem classificados como “extremamente tóxicos”, “altamente tóxicos” e “moderadamente tóxicos”.
Para Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), o novo padrão não levou em conta os impactos do uso de agrotóxicos no médio e longo prazo para a população e o meio ambiente.
“Infelizmente podemos dizer que é uma regulamentação voltada para aquele que manuseia o agrotóxico, muito mais relacionada à segurança do trabalho e muito menos protetiva no sentido de informar a sociedade do risco que está passando, digamos assim”, afirmou.
(Com informações do G1)
Aves em extinção sinalizam o desequilíbrio ambiental
Considerado o segundo país em diversidade de aves do mundo, o Brasil também carrega um recorde negativo: é a nação que possui mais aves globalmente ameaçadas.
Estima-se que cerca de 170 espécies correm risco de serem extintas.
Sem elas, um verdadeiro colapso socioambiental poderia tomar conta do território nacional, afetando o equilíbrio do meio ambiente e, consequentemente, influenciando diretamente a vida do ser humano.
Para evitar esse quadro, a proteção e recuperação dos habitats das aves, em florestas, cerrados e campos, é um dos caminhos que está sendo trilhado por ambientalistas e outros especialistas – medidas que também devem envolver toda a sociedade.
O diretor-executivo da BirdLife/SAVE Brasil, Pedro Develey, membro da Rede de Especialistas de Conservação da Natureza, explica que qualquer cidadão pode fazer sua parte, como respeitar a legislação ambiental, manter as propriedades rurais com reservas legais e áreas de preservação permanente ou criar reservas privadas.
“Mesmo uma pessoa que mora em uma cidade pode manter um jardim privado ou ajudar na manutenção de uma área pública ou plantar árvores nativas que produzam frutos e flores e atraiam as aves.”, completa Develey.
Ele lembra que na Mata Atlântica, por exemplo, é necessário um processo de restauração florestal. Ou seja, é preciso plantar árvores nativas nas florestas a fim de manter e preservar o habitat das aves. “Para algumas espécies que já atingiram níveis populacionais muito baixos, é preciso um manejo direto, como a criação em cativeiro para garantir uma população que poderia ser reintroduzida no futuro”, alerta.
De acordo com Develey, as aves são excelentes indicadores ambientais, atuando como um termômetro do meio ambiente. “Um país com tantas aves ameaçadas significa que não está caminhando bem do ponto de vista ambiental. As aves são importantes polinizadores e dispersores de sementes, ‘plantando’ árvores naturalmente e contribuindo para a manutenção do equilíbrio e diversidade do ambiente”, afirma. Além disso, diversas espécies de aves controlam pragas ao se alimentarem de insetos que podem ser prejudiciais à agricultura. Os pássaros também ajudam no combate a vetores de doenças. O beija-flor, por exemplo, além de se alimentar de néctar, contribui no combate ao Aedes aegypti, mosquito que transmite doenças como a dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
Perdas
Caso medidas ambientais não sejam tomadas, o Brasil corre um sério risco de perder para sempre muitas espécies de aves. No ano passado, segundo Develey, o país registrou três extinções confirmadas de aves que viviam na Mata Atlântica do Nordeste: o limpa-folha-do-nordeste, o gritador-do-nordeste e uma corujinha, a caburé-de-pernambuco.
Por outro lado, a ararinha-azul, extinta da natureza desde 2000, deve voltar ao meio ambiente nos próximos cinco meses, quando 50 exemplares da espécie devem chegar ao Brasil, repatriadas da Alemanha. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), as ararinhas serão encaminhadas até o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul, unidade de conservação criada no ano passado, em Curaçá (BA), especialmente para receber as aves. Depois de um período de adaptação em viveiro, elas serão soltas na natureza. Atualmente, existem apenas 163 exemplares da ave em cativeiro no mundo, sendo 13 no Brasil.
“Sem dúvida, o bioma com a situação mais delicada para a conservação da avifauna é a Mata Atlântica – especialmente a região entre Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Outra espécie extremamente ameaçada é a choquinha-de-alagoas, que hoje só existe na Estação Ecológica de Murici (AL) e as estimativas apontam para no máximo 30 indivíduos”, alerta o pesquisador.
Consequências
O especialista aponta que é difícil prever com precisão a extensão das consequências da extinção das espécies de aves. “Existem interações entre as espécies; o desaparecimento de uma pode influenciar diretamente outra, num efeito dominó. Talvez, a curto prazo, os efeitos não serão percebidos, mas a médio e longo prazos, o desaparecimento das aves afeta o equilíbrio de todo o ambiente, que influencia diretamente na vida do ser humano.”
Além disso, o especialista alerta para uma perda irreparável de um patrimônio natural único e insubstituível. “Costumo fazer uma analogia com as grandes obras de arte: se um incêndio destruísse o Museu do Louvre, seria uma comoção mundial. Mas estamos perdendo aves todo ano; nossas ‘Monalisas’ estão desaparecendo e a maior parte da sociedade ainda não se importa”, alerta Develey.
Sobre a Rede de Especialistas
A Rede de Especialistas de Conservação da Natureza é uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores.
(Com informações da Assessoria)
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Doença das macieiras já afeta 10% dos pomares em Santa Catarina
A secretaria da Agricultura de Santa Catarina, criou um o Comitê Especial para combater o cancro europeu, praga que ataca as plantações de maçã.
A medida era uma reivindicação dos produtores, desde que essa doença se tornou uma pragas que causa estragos aos cultivos de maçã em todo o mundo.
Santa Catarina é o maior produtor de maçãs do Brasil, com mais da metade da produção brasileira, ocupando mais de 3 mil produtores. São 16 mil hectares cultivados, que rendem mais de 600 mil toneladas por ano.
Segundo dados oficiais a doença já afeta 10% dos pomares de maçãs em Santa Catarina.
“Mesmo o índice sendo considerado baixo, a crescente detecção de pomares com a praga (mais de 2% nos últimos dois anos) revela a necessidade de manutenção da vigilância e adoção de normas rígidas de controle, prevenção e erradicação do cancro europeu das pomáceas”, destacou o vice-presidente da Federação da Agricultura e presidente do Sindicato Rural de São Joaquim, Antônio Marcos Pagani de Souza.
O cancro europeu é causado pelo fungo Neonectria ditissima (sin. Neonectria galligenaI).
A doença afeta as partes lenhosas das plantas e tem como característica a formação dos cancros, os quais prejudicam a translocação de seiva e o crescimento vegetativo. A infestação ocorre, geralmente, pelo transito de mudas contaminadas oriundas de outros países.
Embrapa ensina controle biológico de pragas agrícolas
Sessenta brasileiros de diversos estados iniciaram nesta terça-feira (9) em Sete Lagoas (MG) um curso de controle biológico e manejo integrado de pragas agrícolas. São professores, pesquisadores, estudantes, técnicos e produtores rurais. O evento, que termina sexta-feira, prova de que a Embrapa tem condições de reagir ao uso abusivo de agrotóxicos na agricultura brasileira.
“Os custos da agricultura estão cada vez mais altos e temos um conhecimento acumulado ao longo dos últimos 30 anos que podem ajudar a mudar esse cenário”, afirmou Antonio Alvaro Corsetti Purcino, chefe geral da Embrapa Milho e Sorgo, destacando a possibilidade de usar insumos biológicos em vez de químicos nocivos ao meio ambiente.
Entre os palestrantes destacam-se os pesquisadores Fernando Valicente e Ivan Cruz, que acumulam mais de 40 anos de experiência em Sete Lagoas. Também participam do curso palestrantes da Universidade Federal de São João del-Rei), da Universidade Federal de Viçosa e da Unifemm (Centro Universitário de Sete Lagoas), além de técnicos de empresas especializadas na comercialização de inimigos naturais das principais pragas agrícolas.
No primeiro dia do curso, a Embrapa Milho e Sorgo recebeu pedidos de brasileiros de diversas regiões para que o manejo integrado de pragas seja levado a outras cidades ou que seja ensinado via internet. O jornalista Guilherme Viana, assessor de comunicação da Embrapa Sete Lagoas, reconheceu que há nos meios rurais uma demanda latente por tecnologias agrícolas ecológicas. Um exemplo recorrente é o do baculovirus, criado no Centro Nacional de Pesquisa de Soja em Londrina em 1988, quando a Embrapa ainda estava longe de fazer parcerias – hoje comuns – com a indústria química instalada no Brasil.
Morte das abelhas: apicultores querem levar agrotóxicos à Justiça
Em evento inédito no CTG Cancela da Tradição, de Mata, mais de uma centena de apicultores do centro-oeste gaúcho prejudicados por venenos agrícolas autorizaram um grupo de ativistas ambientais e entidades técnicas a processar judicialmente usuários, comerciantes e fabricantes de agrotóxicos.
“Estamos aqui para dar o pontapé inicial numa briga que vai longe”, disse o veterano advogado Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, que está completando 40 anos de existência.
“É uma briga contra cachorros grandes”, completou, salientando que “a briga é justa” porque, “atualmente, o agrotóxico é antissocial, ele desorganiza a cadeia alimentar e atenta contra o direito elementar à vida”.
Durante cinco horas, os apicultores de Mata, Jaguari, Santiago e arredores receberam subsídios e instruções sobre o que precisam fazer para ressarcir-se de danos provocados por agrotóxicos.
Eles já haviam gravado depoimentos em vídeo sobre os prejuízos sofridos na última temporada primavera-verão, quando perderam centenas de colméias envenenadas por inseticidas aplicados a lavouras de soja.
Cada colmeia com mel é avaliada em pelo menos R$ 800. O problema não se resume às perdas materiais, mas aos riscos ambientais de longo prazo.
“Se não agirmos hoje, dentro de 50 anos teremos 50% menos insetos do que hoje”, disse José Renato Barcelos, professor de Direito que esteve em Mata representando a APISBio (Articulação para a Preservação da Integridade dos Seres e da Biodiversidade), a mais nova entidade ambiental, liderada por cientistas como Luis Fernando Wolff, agrônomo da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas. Wolff é o autor de “Medidas Para Combater a Mortandade das Abelhas na Região Sul”, folheto editado em 2018 pela Embrapa.
Também foram registradas manifestações do ecólogo Antonio Liborio Philomena, professor aposentado da Furg de Rio Grande; Gustavo Diehl, veterinário do Programa Nacional de Sanidade Apícola do Ministério da Agricultura; Ana Lucia de Paula Ribeiro, agrônoma fitossanitarista em São Vicente do Sul; Althen Teixeira Filho, professor de veterinária na UFPel; Jeronimo Tybusch, professor de pós-graduação em Direito na UFSM; Pedro Kunkel, guardião de sementes crioulas do Movimento dos Pequenos Agricultores.
Dando caráter internacional ao encontro, estiveram presentes ainda o vereador uruguaio Julio Roberto Cabral Barreto, do departamento de San José; e um representante da União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação (UITA).
O evento de Mata foi gravado pelo site no Face Book do Coletivo Catarse, que transmitiu on line diversos trechos das falas.
Sebastião Pinheiro alerta para a "totemização do veneno agrícola"
Em evento promovido pela Agapan, o ativista ecológico Sebastião Pinheiro foi aplaudido de pé por mais de 200 pessoas reunidas na noite de segunda-feira (25/3) no auditório da Faculdade de Arquitetura no campus central da UFGRS em Porto Alegre.
Após sua palestra sobre o poder dos agrotóxicos no Brasil e no mundo, o agrônomo de 72 anos autografou seu mais novo livro, que sintetiza em 600 páginas mais de 30 anos de estudos sobre a agroecologia, apontada por ele como o modelo alternativo à agricultura baseada na química.
Recheada de citações históricas, a palestra de uma hora se concentrou em demolir o que Pinheiro denomina “totemização do veneno agrícola” como solução científica para problemas do cultivo das plantas.
Na origem do totem, ele coloca o grupo petroleiro norte-americano Rockefeller, que trabalha até hoje, com sucesso, para difundir o uso de produtos químico na agricultura.
Outro grande totem é a Cargill, que controla 90% do fósforo existente no mundo. Fazem parte da lista dos totens as multinacionais de sementes, químicos e alimentos.
Segundo Pinheiro, o triângulo Natureza-Sociedade-Economia está desequilibrado pelo uso dos agrotóxicos e somente será sustentável, justo e viável com a prática da agroecologia. “Os agrotóxicos se tornaram o braço mais importante da indústria alimentar”, contaminada desde a origem dos produtos da terra.
Ele cita como primeira arma química o Temik, um formicida granulado vendido nas ruas do Rio de Janeiro no início do século XX como “chumbinho”.
Em 1961, quando a bióloga Rachel Carson denunciou os agrotóxicos organoclorados no livro “Primavera Silenciosa”, o presidente John Kennedy encomendou um estudo para saber se a denúncia era verdadeira.
Era: os agrotóxicos provocavam câncer. A própria Carson foi vítima deles. Sessenta fábricas de organoclorados foram desmontadas nos EUA e reconstruídas em outros países.
Em 1975 coube à Austrália liderar o controle de pragas agrícolas por via genética. Começou assim a produção de agrotóxicos cujas vítimas mais notórias, atualmente, são as abelhas. Para mostrar que o problema não está só em outros países, mas no Brasil (campeão mundial no uso de agrotóxicos), Pinheiro exibiu na tela um anúncio publicado na revista Veja em 1981.
Em uma página estava escrito que “o defensivo agrícola ajuda a combater a fome”, propaganda que se reproduz até hoje sob formas variadas.
“Atualmente”, diz o agrônomo, “há uma campanha atribuindo a morte das abelhas ao mau uso dos agrotóxicos pelos agricultores”. Na realidade, “os químicos usados nas lavouras, hoje, são 400 vezes mais potentes do que os da década de 70”.
Eles contaminam os solos, as plantas, os cursos d’água, os alimentos, as pessoas, os insetos… Os alimentos são menos saudáveis, mais perigosos.
“É necessário rebelar-se. Não se pode ter medo dos totens criados pela indústria com a ajuda da propaganda”, diz Pinheiro, salientando que “não estamos preparados para discutir os totens”, mas alguma coisa tem que ser feita, furando o bloqueio com a guerrilha verbal, o esclarecimento, o debate, a denúncia.
No momento está se discutindo o uso do 2,4D. “Em São Paulo foi criado um grupo de trabalho para provar que esse produto não é tão grave”, denunciou Pinheiro. No ano passado, esse veneno provocou a morte de abelhas e danificou vinhedos no pampa riograndense. Segundo Pinheiro, ele vai aparecer nos vinhos, como aconteceu na Austrália.
Outra discussão paralela envolve o glifosato, herbicida usado em toda lavoura de soja. Segundo Pinheiro, está provado que esse produto afeta o sistema imunológico dos animais. Em consequência, há estudos indicando que a população dos Estados Unidos está sendo afetada de várias formas e seus reflexos vão aparecer mais agudamente no futuro – maior índice de autismo e esterilidade entre outros problemas.
Diante da morte das abelhas pelos neonicotinóides (inseticidas de última geração) aplicados na soja, chegou-se à derradeira etapa do envenenamento do meio ambiente com danos diretos sobre as abelhas, que fazem mel e polinizam as plantas, ao lado de outros insetos menos observados. Por isso, Pinheiro acredita que chegou a hora de apostar na agroecologia. “No México há um curso de agroecologia há 25 anos”, diz ele, citando outros exemplos na Africa, na Asia e na América. Solos estressados podem ser recuperados com farinha de rocha. Há os biofertilizantes, o viés orgânico da agricultura, o processamento natural de grãos como a soja que, fermentada, oferece inúmeras opções na Asia.
Quem diria, o agrônomo panfletário dos anos 1970, “encostado” no Ministério da Agricultura por rebeldia inconveniente, tornou-se um pregador imbuído de certa esperança.
APISBIO
Enquanto Sebastião Pinheiro autografava seu livro, o presidente da Agapan, Francisco Milanez, cedeu o microfone para José Renato Barcelos, professor de Direito que faz parte do conselho da APISBIO (Articulação para a Preservação da Integridade dos Seres e da Biodiversidade), entidade a ser fundada na quinta-feira, durante evento pró-abelhas em Mata, RS. “Nós vamos judicializar a mortandade das abelhas”, avisou Barcelos, lembrando que os relatos, manifestações e denúncias formalizados no evento de Mata serão transformados num documento a ser entregue ao Ministério Público Estadual.
Morte de abelhas desencadeia novo ciclo do ambientalismo
Trinta instituições apoiam o seminário sobre apicultura e agrotóxicos convocado para a tarde desta quinta-feira (28/3) em Mata, o município gaúcho mais atingido pela mortandade de abelhas por agrotóxicos no último verão.
Mata, na região de Santa Maria, tem 5 mil habitantes e fica a 380 km de Porto Alegre. O seminário é aberto a intervenções populares, o que o caracteriza como uma audiência pública.
Estão programados relatos e manifestações de apicultores, pesquisadores e representantes de órgãos oficiais como a Embrapa e o Ministério da Agricultura. No final, está prevista a fundação da Apisbio (Articulação para a Preservação da Integridade dos Seres), a mais nova entidade ambiental do país, voltada especialmente para a preservação das abelhas como vetor da manutenção da biodiversidade.
No encerramento, às 18 horas, será entregue ao Ministério Público Estadual o documento oficializando a denúncia da mortandade de abelhas por um consórcio de agricultores usuários de agrotóxicos fabricados pela indústria química multinacional, vendidos no Estado por 1500 comerciantes de produtos agropecuários e aplicados por empresas de aviação agrícola e peões agrícolas mediante autorização de engenheiros agrônomos, a quem cabe assinar as respectivas receitas.
A mortandade das abelhas está abrindo um novo ciclo no movimento ambientalista do Sul. É um ciclo mais técnico do que o anterior, liderado pela ONG Amigos da Terra, há 15 anos, contra a monocultura do eucalipto. E desta vez, além do apoio de uma instituição bancária (Sicredi), há novas ferramentais de divulgação: o encontro de Mata a partir de 13h30m será transmitido pelo site do Coletivo Catarse no Facebook.