Sem contar os cataventos que no século passado puxavam água de poço ou acendiam lâmpadas e aparelhos de rádio em fazendas na campanha gaúcha, a energia eólica chegou ao Rio Grande do Sul em meados de 2006, quando o parque de Osório começou a enviar eletricidade para uma subestação da CEEE.
Em seis anos,13 parques eólicos operam no Estado, com capacidade para gerar 414 megawatts, 22% do total instalado no país.
No ano passado, os 600 aerogeradores espetados em diversos pontos do Estado mandaram para a rede elétrica 150 megawatts, energia suficiente para abastecer uma cidade como Santa Maria.
Mesmo com a desvantagem de ser inconstante, o vento fornece uma energia complementar limpa, que permite economizar nas hidrelétricas e nas térmicas.
NORDESTÃO QUEM DIRIA…
O vento Nordeste, que sempre irritou os moradores do litoral Sul, hoje é motivo de orgulho em Osório. É ele que move o primeiro parque eólico do Rio Grande do Sul.
Construído pela espanhola Elecnor em parceria com os alemães da Wobben Windpower. Começou a operar em abril de 2006, com 75 aerogeradores somando 150 MW de capacidade instalada.
Por ser o primeiro do Rio Grande, gozou de condições privilegiadas oferecidas pelo Programa de Incentivo a Fontes Alternativas (Proinfa), do Ministério das Minas e Energia.
A maior vantagem foi o preço do megawatt/hora: R$ 240, três vezes mais caro do que a energia de origem hídrica na época e quase o dobro da cotação da energia eólica no leilão de agosto do ano passado promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica.
Nesse último leilão, a cotação do megawatt hora caiu para R$ 130,86, bem mais baixo que o valor ofertado pelas usinas movidas a queima de bagaço de cana (R$144,20) e pelas pequenas centrais hidrelétricas (R$141,93).
O sucesso do empreendimento de Osório virou um marco no litoral norte, onde o vento dominante (o nordestão) garante um aproveitamento (da potência instalada) acima da média mundial (33%).
Se o rendimento é de 34%, 36% ou 40% nunca se soube, mas o fato é que os aerogeradores de Osório só param para manutenção.
Acossada por um enxame de concorrentes – a argentina Impsa, a norte-americana General Electric, a espanhola Gamesa, a indiana Suzlon, a dinamarquesa Vestas, a francesa Alstom, a alemã Siemens –, a pioneira Elecnor não se acomodou e conseguiu licença para implantar novos geradores em Osório e na vizinha Palmares do Sul.
Somados, os dois parques terão sua capacidade total ampliada para 500 MW.
Dona da rede de transmissão, a CEEE se tornou sócia (10%) do grupo espanhol operador dos cataventos de Osório e Palmares do Sul.
Em 2011, o grupo colocou em operação o Parque Cidreira I (70 MW), também no litoral norte.
CATAVENTOS NA COXILHA
Mais de uma década depois de ter seu parque de geração totalmente privatizado, a Eletrosul tornou-se, em julho de 2011, a primeira empresa do Sistema Eletrobras a produzir energia a partir dos ventos – no Cerro Chato, em Santana do Livramento, um dos lugares mais pobres do Rio Grande do Sul, área de grandes propriedades dominadas pela pecuária extensiva, na fronteira do Brasil com o Uruguai, no extremo sul.
A reviravolta da Eletrosul começou em 2004, quando o presidente Lula enviou ao Congresso uma medida provisória elaborada pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que reorganizava o setor elétrico e retirava as estatais, incluíndo a Eletrosul, no Plano Nacional de Privatizações.
A partir dali, os valores investidos somente em geração saltaram de R$ 189,9 milhões, em 2008, para R$ 723,4 milhões em 2012. E seguem crescendo.
VENTOS NA FRONTEIRA
São dois ventos dominantes na fronteira oeste do Rio Grande do Sul – o Aragano, no verão, e o minuano, no inverno. Sopram o ano inteiro, chegam a 80 quilômetros por hora.
Para colher a energia deles, a Eletrosul ergueu 45 cataventos a 98 metros de altura distribuídos em 25 áreas de propriedade particular. Cada torre rende ao proprietário do terreno R$ 2.500 por mês de aluguel. Uma centena de pessoas trabalha na administração e manutenção do parque eólico. O ICMS do município cresceu 10% em 2012.
Em termos energéticos, Cerro Chato está aquém das expectativas. Ao longo do último ano, ele não conseguiu alcançar 30% da sua capacidade.
Mas o negócio é bom, tanto que a Eletrosul está construindo mais três complexos eólicos – em Santana do Livramento, Santa Vitória do Palmar e Chuí – que irão acrescentar 480 MW ao sistema elétrico a partir de 2014.
O maior deles é o Geribatu (em Santa vitória), com 129 aerogeradores e potência instalada de 258 MW.
Nesses projetos serão investidos mais de R$ 1,5 bilhão, abrindo a possibilidade de incrementar a interligação energética com o Uruguai.
O Grupo CEEE estuda parceria com a Eletrosul para implantar o Parque Eólico Serra dos Antunes, em Osório, com 98 MW.
ENERGIA QUE MAIS CRESCE
Há 20 anos, a energia eólica era uma utopia improvável. Hoje o vento já contribui com 4,2% da energia consumida no mundo e é uma das fontes que mais crescem.
Há dois anos cresce acima de 20% ao ano.Já está presente em 80 países.
A capacidade total das usinas eólicas supera os 200 mil MW, segundo o Conselho Global de Energia Eólica.
Na América Latina, o Brasil apresenta as maiores taxas de crescimento. Mais de 1.800 MW já podem ser gerados nos parques eólicos brasileiros. E o crescimento é exponencial.
Pesquisas estimam que o potencial eólico no país chegue a 143 mil MW, mais de dez vezes o que é gerado pela Usina Hidrelétrica de Itaipu, cuja potência é de 14 mil MW.
Embora o Brasil tenha o maior parque eólico da América Latina, os ventos ainda correspondem a menos de 1% da energia produzida no território brasileiro. No ranking dos países produto res, os Estados Unidos lideram com 35 mil MW de capacidade instalada. Na sequência vêm a China, com 26 mil MW e a Alemanha, com 25,8 mil MW, segundo a Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na sigla em inglês).
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, prevê que em três anos o parque eólico do país chegará aos 8 mil MW, figurando entre os dez maiores produtores.
“O setor continuará crescendo, inclusive a indústria de aerogeradores, facilitada pelo governo que estabeleceu pelo menos 60% de conteúdo nacional nos equipamentos”, observa.
UM PARQUE EM VIAMÃO
Há outros empreendimentos, com estudos ambientais aprovados, que aguardam a abertura de novos leilões de energia.
Algumas empresas mantêm sigilo sobre seus projetos, enquanto outras divulgam seus investimentos e anunciam a intenção de disputar contratos de venda de energia.
Em Viamão, a Oleoplan constrói um parque eólico com potência de 25,6 MW. O investimento de R$ 100 milhões deve estar concluído em 2014. Segundo seu presidente Irineu Boff, que apostou na produção de biodiesel de soja, o grupo Oleoplan não vai ficar num único investimento eólico.
TODA PRODUÇÃO É COMPRADA
Uma grande vantagem das eólicas brasileiras é dispor de passagem livre nas redes de transmissão. As concessionárias como a CEEE não podem recusar a corrente oriunda dos aerogeradores.
Ou seja, com vento forte ou brisa leve, um catavento girando é sinal de que o parque eólico está faturando. Se estiver sobrando energia na rede, devem parar as hidrelétricas para poupar água nas represas e as térmicas para economizar combustível. Os cataventos não descansam.
ONZE USINAS EM 2013
Hoje, 13 parques geram 414 MW no Estado, o que representa 22% da produção nacional. As regiões sul, nordeste, centro-norte, litoral norte e fronteira oeste oferecem as melhores condições para a instalação de parques eólicos no Estado, não só pelo maior constância de ventos mas, também, pela boa infraestrutura do sistema elétrico de transmissão.
A energia contratada em sete leilões realizados pelo governo brasileiro entre dezembro de 2009 e dezembro de 2012, para ser entregue até 2017, foi de 7 mil MW, sendo mais de 1 mil MW em solo gaúcho, com previsão de investimentos de R$ 4,9 bilhões. Em apenas dois leilões de 2011, foram vendidos 506,4 MW em três complexos eólicos no litoral sul, onde a velocidade média dos ventos chega a 9,0 m/s, ou 32,4 km/h.
Neste ano, estão previstos entrar em operação 11 usinas, com 725,8 MW. Até 2016, a previsão é que o Rio Grande do Sul tenha instaladas 49 usinas eólicas.
Tentando turbinar o setor, o governo gaúcho isentou 17 produtos entre máquinas e equipamentos eólicos do pagamento de ICMS até 31 de dezembro de 2015. Além disso, garantiu financiamentos dos bancos públicos em que tem mando ou influência.
DILMA DEU O SOPRO INICIAL
A exploração econômica do vento no Rio Grande do Sul começou em 1999, quando Dilma Rousseff, secretária de Energia do governo Olívio Dutra (1999 2002), mandou medir a velocidade desse fenômeno meteorológico tradicionalmente associado ao folclore regional.
Sem dados concretos sobre o potencial eólico, não seria possível atrair investidores dispostos a montar usinas de produção de eletricidade.
Os primeiros contatos para elaborar o Atlas Eólico gaúcho foram feitos no segundo semestre de 1999, quando se realizou o primeiro seminário sobre a energia eólica no RS. Nesse evento apareceram pela primeira vez os espanhóis da Elecnor que mais tarde fundariam a Ventos do Sul Energia, com sede em Porto Alegre e base operacional no litoral norte. Antes disso, apenas a CEEE, dirigida por Telmo Magadan no governo de Antonio Britto (1995-1998), havia feito alguns movimentos para iniciar a exploração dos ventos no Rio Grande do Sul.
Coordenado pelo engenheiro elétrico Ronaldo Custódio dos Santos, funcionário da Secretaria de Energia que na época fazia mestrado em energia eólica, o primeiro protocolo para medição dos ventos no RS envolveu a CEEE e a empresa alemã Wobben Windpower, que possuía uma fábrica de componentes eólicos em Sorocaba e montaria uma parceria com a Elecnor.
Para fazer o trabalho de campo, foi contratada a empresa Intercâmbio Eletro Mecânico, do imigrante Hans Dieter Rahn, que desde a década de 1950 mora em Porto Alegre, onde representa uma fábrica alemã de anemômetros (medidores da velocidade do vento).
Em 2001, havia 21 torres recolhendo dados no litoral e no interior gaúcho.
Em 2002, esse número chegou a 34 torres, as primeiras medindo a velocidade do vento a 50 metros de altura, outras a 75 metros e as mais novas com 100 metros. Armazenados na Secretaria por Anderson Barcelos, jovem funcionário que se tornaria assessor direto de Dilma quando ela ascendeu ao ministério do presidente Lula e depois chegou à Presidência, os números deram origem ao Atlas Eólico do Rio Grande do Sul.
Publicado em 2002, esse documento-gigante identificou um potencial para gerar 15 840 MW em solo firme com aproveitamento mínimo de 30% da potência dos aerogeradores, considerando-se úteis os ventos acima de 7 metros por segundo a 50 metros de altura. Esse potencial de geração representava quatro vezes a demanda média do Estado na época. Entretanto, nas medições que se seguiram, concluiu-se que, quanto mais alto fosse instalado um aerogerador, melhor seria o seu rendimento, pois é longe do chão que os ventos sopram mais fortemente. Por isso o pioneiro projeto da ventos do Sul Energia em Osório, que inicialmente previa torres de 75 metros e aerogeradores com capacidade de 1,5 MW, foi alterado para operar a 100 metros com geradores de 2 MW.
Com o sucesso do parque eólico de Osório, que opera desde fins de 2006, outros investidores encomendaram medições dos ventos à IEM do velho Rahn e a outras empresas como a Camargo Schubert, de Curitiba, responsável pelo Atlas do Potencial Eólico do Território Brasileiro (Eletrobrás, 2001).
Os levantamentos confirmaram o que se sabia desde a chegada dos primeiros colonizadores portugueses – em fevereiro de 1727, o “mau tempo” (chuvas e ventos) impediu por dez dias a entrada a frota do brigadeiro José da Silva Paes, fundador de Rio Grande, no canal de ligação da Lagoa dos Patos com o Atlântico.
Os ventos gaúchos são mais intensos na segunda metade do ano. No litoral são mais fortes no período da tarde; no interior, sopram mais à noite. Predominam os ventos do leste e do nordeste com velocidades médias anuais de 5,5 a 6,5 metros por segundo. Ventos de mais de 7 m/s sopram de Imbé para o sul e também na Campanha, onde predominam o aragano ou pampeiro (em 60% do ano) e o minuano (40%, mais no inverno). Não por acaso, foi nas coxilhas de Sant’Anna do Livramento que a Eletrosul, sob a direção do engenheiro Custódio dos Santos, se tornou a primeira estatal a produzir energia eólica, desde meados de 2011.
EÓLICAS TAMBÉM INCOMODAM
Os estudos ambientais realizados em Santana do Livramento começaram em 2008. Foram necessárias várias licenças dos órgãos de fiscalização, como Fepam, DEMA e ICMBio. Embora o complexo eólico não esteja na Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, um trecho da linha de transmissão atravessa porção da APA, o que provocou mudanças no traçado original.
Segundo a geóloga Bibiane Michaelsen, contratada para realizar a supervisão ambiental da UECC, antes do início das obras foi feito o monitoramento da fauna durante um ano para identificar locais de reprodução, nidificação e alimentação de espécies, obedecendo ainda uma distancia mínima de 600 metros desses locais e 400 metros das residências, devido ao ruído e à sombra provocada pelos aerogeradores.
A disposição desalinhada das torres obedece critérios técnicos mas, sobretudo, segue orientações dos estudos ambientais.
A recuperação de áreas alteradas durante as obras e o monitoramento mensal das aves e morcegos se estenderá até 2015.
No livro sobre a Usina Cerro Chato (reprodução abaixo) podem ser vistos alguns animais comuns da Campanha, como as cobras, tatus, lebres, ratões do banhado, lagartos, além de milhares de espécies de aves e os animais de criação como gado, ovelhas e emas.
Antes, durante a construção do Parque Eólico de Osório, os órgãos ambientais (Fepam e Ibama) exigiam apenas estudos para evitar interferência na vida das aves migratórias.
Depois se viu que a operação dos cataventos interferia na vida dos morcegos e dos sapos. E também se concluiu que os estudos prévios deviam levar em consideração os humanos que habitam os arredores.
No Ceará, pioneiro na exploração dos ventos para geração de eletricidade, o Ministério Público Federal denunciou diversos problemas socioambientais como devastação de dunas, aterramento de lagoas, interferência em aquíferos.
Em outros países o aumento dos conflitos sociais gerados pelos grandes parques eólicos intensificou os estudos sobre os impactos dessa modalidade de negócio.
Na Alemanha, aerogeradores foram obrigados a parar de funcionar em horários matutinos em que as pás produziam um giro de sombras no interior das residências vizinhas. Para evitar reclamações, os investidores passaram a construir geradores em torres dentro do mar.
Bom dia
Sou arquiteto e urbanista de Porto Alegre e pretendo iniciar atividade com energias alternativas
em Santa Maria, principalmente eólica, com aerogeradores para fazendas.
Solicito a gentileza se pode me enviar material de contato como cursos e empresas
que estão na frente destes equipamentos, mesmo para possível representação.
Fico muito agradecido!
Abraços…
O Sindicato dos Engenheiros criou um portal que pode te ajudar: http://www.conexoesengenharia.com.br/