Neste instigante ensaio “literário e filosófico”, o dr. João Gomes Mariante usa o bisturi da psicanálise para dissecar a política.
Serve-se de três dos maiores personagens da política brasileira, para identificar – por trás das atitudes destemidas, do discurso altissonante e, até, dos recuos e negaças – as motivações inconscientes da ação política.
Os líderes de uma situação revolucionária, que se resolve pelo recurso às armas, sempre carregam a culpa de um crime, diz o autor.
Podem mascarar a culpa dizendo que foi necessário matar em nome de algo maior. No seu íntimo, nada pode apagar que foi um crime. Mesmo o mais frio dos ditadores sente-se culpado.
Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha e Flores da Cunha foram os vitoriosos de 1930. Tomaram o poder pelas armas, jogaram a vida para alcançar o poder.
Desafiaram a morte e não hesitaram quando foi necessário matar.
Tudo em nome do povo. Para melhorar a vida do povo – libertá-lo dos grilhões da pobreza, resgatá-lo para a vida republicana, dos direitos e oportunidades iguais.
Por trás dos bons propósitos, os ressentimentos, o medo, a frustração, a ambição desmedida . Tanto que para manter o poder (hoje se diria governabilidade) tiveram que implantar um regime de arbítrio, com mais crimes, mais culpa.
Em 1954, depois de ter caído e ter voltado “nos braços do povo”, Getúlio Vargas deu um tiro no coração. Quis matar os inimigos dentro de si mesmo.
Mas, ao contrário do que diz o senso comum, não foram os inimigos externos que o levaram à morte.
Foram os inimigos internos – os componentes que fizeram dele um homem retraído, melancólico, de tendências suicidas.
As circunstâncias dramáticas que se armaram em torno dele criaram as condições externas para o ato, que já estava gravado internamente.
Aranha e Flores de certa forma tentaram o mesmo ao se expor insanamente ao perigo, muitas vezes sem necessidade.
Eram temperamentos diferentes, extravasavam as pressões internas por outros mecanismos. Faltaram-lhes as circunstâncias para o gesto último.
Esses são os caminhos que o autor percorre na sua intenção de identificar os elementos inconscientes sempre presentes nas motivações dos homens que se entregam a política.
“Três no Divã”, de João Gomes Mariante, lançamento Já Editores dia 15 de abril na Assembléia Legisltativa do Rio Grande do Sul.