A Associação Nacional de Jornais (ANJ) lançou uma campanha de valorização do jornal como veículo de informações e anúncios.
A ideia em si, de uma campanha de marketing, para fazer frente à grave crise que atinge os jornais com a perda compulsiva de leitores e anunciantes, já revela o equívoco.
As primeiras peças que começaram a ser veiculadas nos jornais na quinta feira, 21, não deixam dúvida.
A ANJ acredita que o jornal ainda é o centro do universo informativo e que se souber valorizar isso pode ser beneficiado com as novas mídias. Como? Com uma campanha mostrando para as pessoas como o jornal é importante na vida delas.
Ou seja, a ANJ faz questão de continuar ignorando que jornal vem se tornando irrelevante para as pessoas desde muito antes da internet.
A crise, na base de tudo, é de um modelo de jornal sustentado pelos anunciantes que chegou ao seu esgotamento, com a crescente submissão do noticiário aos interesses do anunciante, em detrimento do leitor.
A necessidade de controles estritos levou a uma hierarquia rígida e a uma homogenização das redações. Jornalistas confiáveis, que não ficam furungando assuntos inconvenientes, têm ascensão garantida.
E o resultado é que os jornais cheiram mal nas bancas, de tão velhos. A profundidade de suas matérias e opiniões é tal que, como diria Nelson Rodrigues, “uma formiguinha atravessa com a água pela canela”.
A “imprensa nanica” já escancarou esse quadro na década de 1970, mas os jornalões contaram com a obsequiosa colaboração do regime militar para esmagar aquela semente de jornalismo independente, que se esgueirava pelas frinchas da ditadura e entre os dedos de uma imprensa acomodada.
A docilidade foi bem recompensada e seguiu-se um longo e generoso ciclo de crescimento para os grupos escolhidos. Esse é o ciclo que chega ao fim.
Se há chance para os jornais, ela exige uma revolução de método, na maneira de apurar e transmitir a informação, na organização das redações, para chegar a um novo conteúdo.
Sem isso, que só seria possível dentro de outro “modelo de negócio”, as campanhas de marketing têm o efeito de um esparadrapo num talho infeccionado. (E.B)