Debate na FEE mostra que os juros são o problema

Retomando suas tardes de debates, a Fundação de Estatísticas e Estudos (FEE) apresentou à inteligência portoalegrense, na terça-feira (12/8), o economista Mark Setterfield, do Centro de Pesquisa Social de Nova York. Barbudinho de pouco mais de 30 anos, ele leciona no Trinity College, de Hartford, EUA, e é bolsista de uma fundação financiada pelo megaespeculador global George Soros.
Seu objeto de estudo é a relação entre consumo, endividamento e desigualdade de renda na sociedade norte-americana, onde “os trabalhadores se endividam para tentar imitar o consumo dos ricos” (que ele chama de rentistas). Outra lição dele que se encaixa na realidade brasileira: “Quanto maior a desigualdade de renda, maior o consumo por emulação dos ricos”.
Setterfield vem pesquisando como o processo maluco de endividamento das famílias americanas desembocou na crise financeira de 2008, cujo desfecho foi o aumento das desigualdades entre famílias e rentistas, isto é, entre a base social e o topo da pirâmide de renda, enfim, entre pobres e ricos. Quando se estabelece, o endividamento popular contribui para o crescimento econômico, mas ninguém garante a sustentabilidade do processo, que Setterfield comparou à construção de pirâmides à base do chicote sobre escravos. Foi a única vez que a platéia de 60 pessoas riu.
Pode ser que Setterfield nem seja o cara, mas ficou claro que a direção da FEE está procurando subsídios para tirar o Brasil do atual impasse da economia brasileira, cujo crescimento baseado no consumo da população de baixa renda estaria se esgotando, segundo conclusão de vários economistas.
Como interface do americano nos debates, a FEE colocou o economista da casa Bruno Paim, que exibiu uma tabela mostrando que desde 2004 o consumo tem sido o principal ingrediente do crescimento econômico brasileiro, o qual está em declínio, mas ainda acima do crescimento vegetativo da população. Mas há algo positivo no cenário brasileiro: o saldo das operações de crédito das pessoas físicas é de seis a sete vezes mais baixo do que nos EUA, e o prazo médio de endividamento também é dos mais baixos da América Latina. “O problema são os juros elevados demais”, diz Paim, salientando que entre 2004 e 2013 o percentual dedicado pelas famílias à amortização das dívidas aumentou de 30% para 40%.
Assim, as situações vividas pelo Brasil e os EUA não são comparáveis, até mesmo porque, ao contrário do ocorrido na sociedade americana, o endividamento dos brasileiros não teve como consequência um aumento da desigualdade e sim uma diminuição. Isso tudo com os bancos batendo recordes de lucros a cada trimestre. Daí a conclusão de Setterfield: “Dado o peso dos juros no Brasil e a tendência de aumento dos juros nos EUA, a economia brasileira pode sair prejudicada no futuro…”.

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