O que apareceu até agora das mudanças na RBS é a face mais visível de um plano estratégico, que não é coisa da cabeça do Duda Melzer.
Ele mesmo diz, em sua desastrada nota, que foi trabalho de um ano.
Com certeza, envolveu toda a cúpula da empresa e teve a influência de altas e renomadas consultorias externas.
As demissões, que não devem se limitar às 130 já anunciadas, apenas revelam o aspecto mais agressivo, mais impactante do processo. Não o essencial, certamente.
“Otimizar custos” é o sentido claro do corte de pessoal. Centralizar a produção de certos conteúdos, comuns aos diversos jornais impressos, como foi anunciado, é o caminho óbvio nessas circunstâncias.
Nada disso, porém, toca no essencial. São paliativos ante a questão central para a qual eles não têm resposta: como manter a hegemonia num “mercado” que se altera rápida e inevitavelmente.
Em seu diagnóstico, cita-se apenas a internet como o agente das mudanças, o responsável pelos “novos hábitos de consumir de mídia”, como diz Duda Melzer.
O buraco é mais em cima. Não é só a tecnologia que determina as mudanças.
Há uma sociedade cuja qualidade política se altera, há um processo de organização e participação que avança na contra-mão dessa dominação dos meios informativos.
As grandes corporações de mídia não estão perdendo terreno porque fazem mal o que fazem (embora isso também seja verdadeiro, quando se trata de jornalismo).
A questão é que essas gigantescas e esclerosadas estruturas não dão mais conta das novas demandas por informação e diversidade que a sociedade hoje apresenta.
Esse jornalismo faccioso, sustentado por grandes anunciantes, não engana mais ninguém. Não adianta mudar de plataforma.
A crise na RBS é a ponta de um iceberg rumo ao qual navega impávido o Titanic de toda a dita “mídia nativa”, cevada na ditadura.