Lynch transcendental

Paula Bianca Bianchi
O público, mais jovem que o habitual, lotou o salão de atos da UFRGS na noite de domingo, 10 de agosto, para ver o cineasta David Lynch falar de meditação e cinema. Mais meditação do que cinema, como ficou claro ao longo da conversa de mais de uma hora. Divertido e informal, o autor de O Homem-Elefante (1980), Veludo Azul (1986) e Twin Peaks (1990) não revelou quem matou Laura Palmer mas fez questão de frisar os benefícios que a meditação transcendental trouxe para a sua vida. “Você fica mais feliz e menos estressado”, afirmou. “Ela é uma chave que abre a porta para o inconsciente, um lugar onde podemos ser realmente criativos.”
Praticante da técnica há 35 anos, Lynch lançou ontem no Brasil o livro Em Águas Profundas – Criatividade e Meditação (Ed. Gryphus), onde explica a influência que o método tem sobre a sua criação cinematográfica. A fundação David Lynch tem entre seus pressupostos divulgar a técnica, criada pelo indiano Maharishi Mahesh Yogi em 1959. Questionado sobre o ar sombrio dos seus filmes e a felicidade que diz experimentar o cineasta sorriu. “Você não precisa levar um tiro para filmar uma cena de assassinato. Quanto mais nós sofremos, menos nós podemos ser criativos”.O mediador até tentou aprofundar a conversa na obra do autor, mas Lynch veio para divulgar a meditação transcendental, e foi o que fez.
“Há pesquisas científicas que comprovam o bem que a meditação faz. A pessoa descansa três vezes mais do que quando está dormindo”, declarou.
Quando o cantor folk Donovan Leitch, que viajou com o Beatles à Índia em 1968 e hoje divulga a meditação transcendental pelo mundo, subiu ao palco boa parte do público começou a abandonar o salão de atos. O objetivo: estar entre os primeiro a receber um autógrafo de Lynch. Antes mesmo de a conferência terminar a fila já alcançava os portões da UFRGS.
Quanto aos projetos futuros, o cineasta disse que por enquanto não pensa em filmar nenhum longa-metragem. “Não me preocupo com isso. Me dedico à pintura, à música e viajo.”
Por fim, Lynch voltou ao palco e junto com a editora brasileira do livro leu um breve poema em que terminava desejando a todos paz. “Se todos meditassem, o mundo já estaria em paz”, declarou.

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