Campanhas: um modelo vai aparecendo, apesar da baixaria

Luis Nassif
Na atual campanha presidencial, os candidatos abusam da propaganda negativa. Não chega aos pés da campanha de 2010, na qual o candidato José Serra logrou jogar o nível nas tubulações de esgoto.
Mesmo assim, a cantilena dos três candidatos é maçante. Aécio Neves repercute as denúncias da revista Veja – que têm desanimado até os demais veículos de imprensa, pela leviandade. Marina Silva pratica a lamúria permanente e Dilma tenta convencer o eleitorado que haverá um segundo governo menos centralizador.
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Mesmo assim, as circunstâncias da economia e da política acabaram quase que conduzindo a um modelo de gestão que vai acabar se impondo.
No âmbito dos jornais e das redes sociais, persiste uma radicalização anacrônica entre esquerda e direita.
Cada proposta é analisada sob esse prisma. As grandes transformações brasileiras foram eminentemente pragmáticas, sem a tentativa de dividir o mundo entre medidas de esquerda ou direita.
Abaixo da espuma tem a substância, um conjunto de políticas públicas quase inescapáveis, se se quiser de fato aspirar a uma nova etapa do desenvolvimento nacional.
No plano estratégico, o país terá que definir políticas industriais consistentes, em cima de aspectos competitivos: os mercados que proporcionam ganhos de escala e os setores que podem se beneficiar de políticas de compras públicas. E necessita continuar desenvolvendo todo o macroambiente competitivo.
No plano microeconômico, os sistemas de inovação, as ferramentas de financiamento, o aprimoramento das compras públicas, enfim, um autêntico receituário desenvolvimentista.
Mas não poderá adiar mais as reformas microeconômicas, a desburocratizaçao, colocar ordem na parte fiscal e outras medidas destinadas a melhorar o ambiente econômico e que, em geral sao vocalizadas pelos chamados setores neoliberais.
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Tem que apoiar setores estratégicos, como propõem os desenvolvimentistas, mas corrigindo os exageros  das decisões unilaterais, como defendem os neoliberais.
A política econômica precisa ser proativa e, ao mesmo tempo, previsível. Trata-se de desafio perfeitamente factível desde que se tenha um plano de vôo.
Precisa-se de um Estado forte, mas para cumprir o papel de indutor do setor privado. A contrapartida ao Estado forte é a exigência de definição de regras claras na concessão de benefícios, que impeçam as práticas odiosas dos benefícios a empresas ou setores, de acordo com a vontade do governante.
Há a necessidade de uma política fiscal transparente, mas o ajuste não pode contemplar apenas as despesas correntes, mas encarar definitivamente a questão dos juros.
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A postura da política monetária não é de ser a favor ou contra o capital, mas de mudar o rumo do dinheiro, da renda fixa e da aplicação preguiçosa em títulos públicos para o financiamento do desenvolvimento e a busca das aplicações de risco.
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Caso Dilma seja reeleita, terá que aprender que política econômica proativa só se legitima se for absolutamente transparente e discutida com todos os setores sociais e econômicos.
Terá que trocar a roupa de gerente pela de Estadista. Se conseguirá, é uma incógnita.

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