Maciel nega tudo

O mais esperado depoimento da fase final da CPI do Detran foi uma aula de poder político. Antônio Dornéu Maciel começou a falar pouco depois das quatro da tarde desta segunda-feira, 2 de junho. “Ele é o Zé Dirceu do Detran”, brincou um repórter quando ele começou a falar.
A CP, instalada há seis meses, tenta desvendar a teia política que encobriu o desvio de R$ 40 milhões para uma quadrilha do colarinho branco, denunciada e indiciada pelo Ministério Público e a Policia Federal.
Ele começou por um breve currículo político para demonstrar que sabia muito bem quem estava ali para inquiri-lo. Em certos momentos seu tom foi nítidamente provocativo.
Antônio Dornéu Maciel foi um dos 13 presos em novembro de 2007 quando foi deflagrada a Operação Rodin, quando vieram a tona as investigações que a Polícia Federa fazia há três meses. Tem sido citado em matérias na imprensa, em entrevistas e até em depoimentos na CPI como um dos pivôs do esquema que fraudava o Detran.
Disse que tem em arquivo todas das declarações, entrevistas, reportagens em rádio, jornal ou televisão em que ele seja mencionado. Como quem diz: pensem bem no que estão dizendo a meu respeito.
O ex-diretor da CEEE, ex-diretor-geral da Assembléia Legislativa e ex-tesoureiro do Partido Progressista, disse que irá provar sua inocência durante o processo. Obviamente negou que em qualquer momento tivesse mencionado o nome de do secretário Delson Martini em ligações telefônicas ou em qualquer outro contato que fez enquanto ocupava cargo na CEEE.
Destacou ainda que conhece Flávio Vaz Neto há 30 anos e que nunca pediu favor ao amigo quando ocupava a presidência do Detran.
Acompanhado por dois advogados, Maciel disse que não existe o mínimo indício de prova de que algum dinheiro tenha passado pela sua casa. Salientou que não sabia das ações das sistemistas e que conheceu os dirigentes das empresas denunciadas somente na Polícia Federal. Maciel mora no flat que, segundo as investigações da PF, serviu como local de encontro para pagamento de propina aos envolvidos na fraude.
Depois de ter sido elogiado pelo deputado Postal por sua atuação no Parlamento, Maciel disse que foi um “paisão” na Assembléia, e que sempre recebeu todos os deputados e ajudou-os na medida do possível.
Rejeitada convocação de Martini
Dos cinco requerimentos votados ontem pela CPI, foram aprovados um pedido do deputado Adilson Troca (PSDB), relator da CPI, para que seja disponibilizada uma sala e a infra-estrutura adequada para elaborar seu relatório, e três convocações para prestar esclarecimentos dos quatro nomes citados: Cenira Maria Ferst Ferreira, irmã do empresário e suposto lobista Lair Ferst; Rafael Höher, filho do contador Rubem Höher, ex-coordenador do projeto do Detran na Fundação para o Desenvolvimento e o Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura (Fundae); e Eduardo Wegner Vargas, filho do conselheiro João Luiz Vargas, presidente do Tribunal de Contas do Estado.
O requerimento para convidar a depor o secretário-geral de Governo, Delson Martini, rendeu longos discursos favoráveis e contrários a sua convocação. Quase todos integrantes da Comissão se manifestaram. Pela quinta vez entrou em votação e foi novamente reprovado. A alegação da base governista é que não há fatos novos para convocar Martini, ex-presidente da CEEE.
O primeiro a se manifestar foi Alexandre Postal (PMDB). Disse que até o momento não há nenhum fato novo que possa ter relação com o secretário geral de governo. “Não há elemento que possa comprovar o envolvimento de Delson Martini. Por isso, peço que seja retirado da pauta o pedido de convocação de Martini até porque as gravações que supostamente citam o nome do deputado ainda não chegaram as nossas mãos. Se eu escutar aqui do Dorneu ou escutar na fita alguma citação de Delson Martini, aí sim eu votarei favorável”. Paulo Azevedo (PDT), vice-presidente da CPI, criticou a blindagem do Delson Martini e destacou que a CPI possuía vários motivos para convocar Martini.