O grupo chileno CMPC, que assumiu o controle da fábrica de celulose que pertenceu à Aracruz, em Guaiba, está pautando seus primeiros movimentos por uma atenção especial ao relacionamento com a comunidade gaúcha.
Manteve praticamente intacto o quadro de executivos que já vinham desenvolvendo o projeto de expansão da produção e, na primeira apresentação de seus planos no Estado, em almoço com a imprensa na última quinta-feira, 4, fez questão de prometer transparência nas suas atividades e respeito às peculiaridades locais.
“Queremos falar sempre, na alegria e na tristeza”, disse Francisco Bueno, que permanece à frente da assessoria de Comunicação.
“Será permanente a nossa preocupação com a licença social, dada pela opinião pública, que para nós é tão importante quanto as licenças legais”, reforçou Walter Lídio Nunes, que já estava à frente do projeto da Aracruz e agora assume a presidência da nova empresa. “Queremos ser e parecer uma empresa afinada com os interesses do Estado”.
Segundo Nunes, o próprio nome adotado – “Celulose Riograndense” – é uma demonstração da sensibilidade dos controladores para os valores locais. “Era para ser Celulose Brasil, mas um dos dirigentes do grupo, que veio ao Estado, sugeriu a mudança, ao saber o quanto os gaúchos são ciosos dos seus valores”.
A CMPC é o maior grupo chileno do setor, com faturamento da ordem de 3 bilhões de dólares e uma trajetória empresarial de 80 anos. A compra da unidade de Guaiba, por 1,43 bilhão de dólares, é o maior investimento feito por um grupo chileno no exterior.
O negócio foi fechado em dezembro passado, como uma saída para a crise que inviabilizou a Aracruz.
Abalada por gigantescas perdas no mercado financeiro em decorrência da crise internacional de 2008, a Aracruz foi absorvida pela Votorantim Celulose e Papel, dando origem à Fíbria, a maior empresa do setor no país. Mas devido ao elevado grau de endividamento que herdou e à necessidade de investimentos maciços para levar adiante o projeto de expansão da unidade de Guaiba, a Fibria preferiu transferí-la para o grupo chileno.
A continuidade do projeto de expansão – das atuais 450 mil para 1,8 milhão de toneladas anuais – já está assegurada pela CMPC, mas o ritmo da retomada dos investimentos vai ser ditado pelas condições do mercado.
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VCP e Aracruz formam maior empresa de celulose do mundo
Fibria é o nome da empresa resultante da incorporação da Aracruz pela VCP, que já nasce como líder no mercado mundial de celulose, com receita líquida anual estimada em R$ 6 bilhões.
A companhia, que será apresentada nesta terça-feira aos investidores, tem capacidade para produzir 6 milhões de toneladas de celulose e papel por ano.
Os projetos de expansão, já anunciados nos últimos anos e suspensos por conta da crise internacional, deverão ser executados “de acordo com as condições de mercado”, segundo material de apresentação.
Quando concluídos, esses projetos deverão agregar mais 6,7 milhões de toneladas à capacidade de produção da nova empresa.
A presidência da Fibria ficará a cargo de Carlos Aguiar, executivo originário da Aracruz. José Luciano Penido, executivo da VCP, assume a presidência do Conselho de Administração. A Fibria mantém em R$ 4,5 bilhões previsão inicial de sinergias a serem geradas pela fusão da Aracruz com a VCP.
“Os negócios de papel seguem na estratégia, porque ele mitiga o risco em mercados cíclicos, como o de celulose”, afirmou o diretor da área de papel, estratégia e suprimento, Marcelo Castelli.
Em evento para o lançamento da marca e do nome Fibria, o diretor comercial da companhia, João Felipe Carsalade, disse que alguns mercados na Europa têm mostrado sinais de melhora mais consistente da demanda, mas ainda insuficientes para se falar em novo reajuste de preços.
“Vamos esperar o final do verão no Hemisfério Norte para ter mais clareza sobre os movimentos futuros”, comentou. No ano, as produtoras de celulose já anunciaram quatro aumentos de preço. “Os ajustes de preços têm buscado recuperar a paridade das moedas”, explicou.
A dívida líquida da empresa, que será reestruturada segundo seus executivos, estava em R$ 13,4 bilhões ao final do segundo trimestre. De acordo com o diretor de Tesouraria e Relações com Investidores da Fibria, Marcos Grodetzky, a empresa está empenhada em perseguir a classificação grau de investimento junto às agências de rating, nota que Aracruz e VCP perderam com a piora de seus indicadores financeiros.
“Temos um leque de alternativas para melhorar nossos indicadores. Em breve a empresa dará claramente demonstrações disso para o mercado”, afirmou Grodetzky, sem dar detalhes. (fonte: Invertia)
Estudo relata impactos da monocultura do eucalipto sobre mulheres do Rio Grande do Sul
Por Carlos Matsubara, Ambiente JÁ
A ONG Amigos da Terra Brasil (NAT) apresentou no dia 19 na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul um estudo que apontou possíveis impactos da monocultura de eucalipto sobre as mulheres.
Entre outros impactos, o estudo de autoria da bióloga e mestre em Educação Ambiental, Cíntia Barenho, relata situação de violência e assédio sexual. Foi relatado que a chegada de trabalhadores incitou formas de assédio sexual, atitudes machistas e sexitas.
“A Aracruz geralmente não contrata funcionário do município, então, os que vêm de fora mexem com as mulheres, não se tem caso de abuso, mas de assédio sexual sim, ficam chamando as mulheres de ‘gostosas’, inclusive no interior, quando as mulheres vão fazer caminhadas, isso acontece cotidianamente,” disse uma agricultora não identificada pelo estudo.
Para Cíntia, esta forma de migração pendular que ocorre, cria uma situação favorável (comunidade “desconhecida”, família não está presente) a tais fatos. As mulheres relataram a bióloga que a presença destes trabalhadores desconhecidos promove medo e insegurança por parte das mulheres e suas famílias. “Anteriormente, se ocorresse qualquer eventualidade era possível contatar algum empregado da estância ou propriedade, porém agora devido aos maciços de eucaliptos, dificilmente encontra-se alguém que possa ajudar”, diz, ao fazer a ressalva que não há casos conhecidos de prostituição.
O estudo que foi feito em parceria com a Friends of the Earth e Movimiento Mundial por los Bosques Tropicales (WRM), traz ainda relatos como assaltos a propriedades rurais. Conta uma agricultura, que uma prima sua teve a casa assaltada, coincidentemente depois de ter negado vender suas terras para uma empresa de celulose e papel. “Após o assalto ela se sentiu coagida, com medo e resolveu pela venda”, diz Cíntia.
Também em Encruzilhada do Sul, uma residência cercada pelos eucaliptos teria sido assaltada. A família ficou com receio de permanecer por lá e mudou-se para a casa os pais da esposa. Para uma das mulheres entrevistadas, além da presença de homens desconhecidos, também as estradas têm facilitado os roubos (devido a melhoramentos realizados).
Contaminação da terra
Ainda entre os impactos relacionados pelas mulheres, o estudo de caso mostra dificuldades com relação às condições sociais e de sobrevivência diária, como a contaminação do ambiente e de animais devido a utilização de grande quantidade de agroquímicos nas lavouras de eucalipto; a precária situação das estradas rurais devido ao tráfego de veículos pesados; escassez de água; degradação da terra e condições de trabalho são precárias. “Como conseqüência a reforma agrária está neutralizada e o abandono do campo tem se intensificado”, destaca a bióloga.
O estudo contou com a participação de vinte mulheres de movimentos sociais do campo e da cidade que relataram diferentes impactos da silvicultura em suas vidas. As participantes moram em Rio Grande, Hulha Negra, Piratini, Encruzilhada do Sul, Barra do Ribeiro, São José do Norte, Santana do Livramento, Herval e Porto Alegre.
O “desempoderamento” das mulheres
O trabalho de Cíntia faz parte de um projeto desenvolvido pelas ONGs intitulado “A função da União Européia no desempoderamento das mulheres no Sul através da conversão dos ecossistemas locais em plantações de árvores”.
“É uma importante ferramenta não só para a luta contra a expansão dos megaprojetos de celulose e papel dos movimentos sociais e ambientalistas, mas também para todos os setores da sociedade porque mostra a realidade de mulheres que pouco ou quase nada têm sido divulgado pela mídia,” afirma a bióloga. Conforme ela, a situação destas mulheres ainda é de invisibilidade social, apesar de elas já estarem protagonizando lutas de resistência.
Aracruz suspende projeto em Guaíba
A Aracruz informou na tarde desta sexta-feira (17), por meio de sua assessoria de imprensa, que o projeto de expansão da sua fábrica em Guaíba está suspenso para “preservar a liquidez da companhia”. A empresa teve prejuízo líquido de R$ 1,642 bilhão no terceiro trimestre deste ano, sendo que, no mesmo período do ano passado, obteve lucro de R$ 260,9 milhões.
Conforme a direção da companhia, existe a necessidade de adequar os estoques de celulose e papel, em decorrência da crise internacional, que prejudicou os resultados financeiros da empresa. A Aracruz ainda anunciou que pode retomar os investimentos em Guaíba assim que a situação do mercado se estabilizar.
Destaque na fabricação de celulose
A Aracruz recebeu o prêmio Destaques do Setor, promovido pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), na categoria “Fabricante de Celulose de Mercado”. A escolha dos destaques ocorreu em duas etapas: a primeira, aberta para a opinião pública, e a segunda, disputada pelas três empresas mais votadas em cada categoria. Os vencedores foram eleitos pela Comissão Especial de Julgamento, integrada por representantes da diretoria da ABTCP, especialistas em diversas áreas da cadeia de produção, gestores de RH e empreendedores florestais. A entrega da premiação será dia no dia 15 de outubro, em São Paulo.
Quadruplicação da Aracruz: o que mostram estudos sobre dioxinas?
Cláudia Viegas, Ambiente JÁ
Na memória do morador da Região Metropolitana de Porto Alegre que já passou dos 30 anos de idade, especialmente os da orla da Capital, um dos fatos mais marcantes foi sem dúvida o odor exalado pela Borregaard. A antiga planta de celulose, fechada em dezembro de 1973 pelas autoridades da Saúde do Estado, reaberta alguns meses depois, fechada novamente no final de 1974, e só reativada depois de vários compromissos de melhorias tecnológicas para reduzir impactos ambientais, representou um dos marcos mais importantes da luta socioambiental pelo direito de respirar melhor em Porto Alegre e arredores.
Nos dias atuais, esta que é Aracruz, que já foi Riocell e Klabin, não apenas afugentou um nome estranho como também deixou de atormentar os porto-alegrenses com o velho conhecido cheiro. Porém, a contenda não parou por aí. A consciência ecológica atiçada dos gaúchos desviou seu olhar do próprio nariz para as caladas águas do Lago Guaíba e seu percurso no cotidiano coletivo, da bomba de captação às torneiras. Se água não tem gosto, pelo menos não deveria ter, isto não quer dizer que não possa trazer danos à saúde. Uma grande bandeira se levantou, desta vez apontada contra as chamadas dioxinas e furanos, compostos cancerígenos e mutagênicos que muito comumente se formam a partir de certos processos industriais que utilizam o cloro e seus compostos.
Ar e água
As emissões atmosféricas são a marca registrada da fábrica de celulose em sua trajetória de aproximadamente três décadas e meia em Guaíba. Mas as melhorias no processo de produção, a introdução de sistemas de filtros mais eficientes e, especialmente, a conversão do processo de branqueamento – que, em meados dos anos 90 passou a ser livre de cloro elementar para adotar compostos de cloro – levaram, aos poucos, a uma nova rotina de questionamentos populares sobre os efeitos ambientais das ações da fábrica, desta vez, em relação à água. O principal ponto de dúvidas voltou-se à emissão de organoclorados (dioxinas e furanos), considerados extremamente prejudiciais ao meio e à saúde humana por sua persistência no ambiente, baixa volatilidade e característica lipofílica, ou seja, de facilmente se acumular no tecido gorduroso, causando toxicidade aguda, com efeitos como o câncer e disfunções no sistema reprodutivo.
As dioxinas, na realidade, são o nome genérico de uma família de aproximadamente 210 compostos ente os quais se destacam 17 isômeros por sua toxicidade, em especial o grupo 2,3,7,8 tetraclorodibenzeno-para-dioxina (TCDD) e 2,3,5,7 tetraclorodibenzeno para-furano (TCDF).
No EIA da Aracruz, a abordagem da qualidade da água utilizou como parâmetros as resoluções Conama para qualidade da água, sendo analisados cerca de 120 parâmetros em 15 pontos de amostragem nas águas do Guaíba. Foi também utilizada como referência a Portaria 518/204 do Ministério da Saúde, que estabelece os padrões de potabilidade da água. A empresa, de acordo com o estudo, cumpriu todas as exigências da Fepam, atendendo a critérios de classificação existentes na literatura.
Sem limites
A questão é que, para emissões de dioxinas, não existe um parâmetro nacional de limite na legislação brasileira. Mesmo internacionalmente, os critérios para emissão deste tipo de poluente são bastante variáveis e chegam a ser controversos porque dependem de séries históricas de análises realizadas por laboratórios em níveis de detecção da ordem de nanogramas por tonelada equivalente por litro (parte por bilhão, 10-9) ou picogramas (parte por trilhão, 10-12).
O coordenador de Pesquisa Tecnológica, Qualidade e Processo e gerente de Qualidade e Meio Ambiente da Aracruz em Guaíba, engenheiro Clóvis Zimmer, confirma que “não há limites internacionais para emissões de dioxinas e furanos”. Segundo ele, pesquisadores da Universidade de Tübingen, Alemanha, realizaram uma pesquisa no Lago Guaíba sobre este assunto, em 1991, e este é um estudo de referência que está descrito no EIA. Para abordar a questão, afirma Zimmer, “a Aracruz segue padrões de potabilidade da água que são dados pela Portaria 518”. Ele explica que “pelos padrões de potabilidade da água da Agência Norte-americana de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency, EPA), é aceitável o índice de dioxinas e furanos de 30 ppq (partes por quatrilhão)”, o que significa 30x 10-12 picogramas por litro.
Zimmer destaca que a Aracruz trabalha de acordo com as diretivas do IPPC (International Plant Protection Convention), o qual resulta de uma Diretiva Européia de 1999. Esta diretiva visa a prevenir, ou, onde não for possível, reduzir a poluição de instalações industriais e outras, permitindo acesso às melhores tecnologias disponíveis. “Somos cobrados a operar dentro do conceito de Melhores Tecnologias Disponíveis (Best Available Technologies)”, diz o engenheiro.
A planta da Aracruz em Guaíba tem uma série histórica de avaliações dos teores de dioxinas emitidos há cerca de 10 anos. São realizadas duas coletas de amostras anualmente, e enviadas para análise de um laboratório canadense, pois, conforme o engenheiro, no Brasil não há instituições que realizem esses testes de detecção, que exigem rigoroso controle. “Os resultados das análises realizadas em 2 de julho de 2007 e 2 de janeiro de 2008 apontam zero emissões. O monitoramento dos efluentes vem sendo realizado desde 1998, e os valores ficaram sempre na média de 0,01 x 10-12 (ou seja, 0,01 picogramas por litro ou partes por quatrilhão). Para cada uma dessas análises, a Aracruz paga US$ 3 mil cada uma, o que implica uma média de US$ 50 mil por ano em análises.
EUA e Canadá
Em países onde há grande número de plantas de celulose, como Estados Unidos e Canadá, também se verificam parâmetros bem diferentes quanto a emissões de dioxinas. E muita controvérsia. Um estudo do governo australiano encomendado a um grupo de especialistas da consultoria Beca Amec Limited assinala que nos Estados Unidos o limite legal é de 10 picogramas tonelada equivalente (TEQ) por litro. Contudo, outro documento divulgado em 11 de julho de 2007 pelo professor Andrew W. Wadsley, consultor de riscos ligado aos meios ambientalistas australianos, que levanta dúvidas da ONG WWF sobre o relatório da Beca, defende que podem ser atingidas concentrações de 2 picogramas TEQ por litro lançando-se mão das chamadas “melhores tecnologias disponíveis” (Best Available Technologies/BAT). Em um documento de réplica, a Beca Amec atesta que a maioria das empresas de celulose em território canadense e norte-americano estão abaixo do limite legal, apresentando já índices de 2 a 3 picogramas TEQ pot litro. Incursionar por essas discussões técnicas leva a uma busca incansável por certezas, ou pelo menos a uma tentativa de reduzir cada vez mais as incertezas. Porém, isso é muito difícil quando se têm realidades diferentes entre os países e, principalmente, quando se está tratando de escalas de medida, por assim dizer infinitesimais. No final, a pergunta recorrente é: qual o limite aceitável para emissões de dioxinas que possa evitar danos à saúde?
Tira-teima
A reportagem do Ambiente JÁ consultou, além de documentos, técnicos e especialistas para verificar como funciona a detecção de emissões de dioxinas e o que é estabelecido como critério no caso da Aracruz. Foram ouvidos o engenheiro Renato das Chagas e Silva, chefe da Divisão de Controle da Poluição (Dicop) da Fepam; Josete Sanches, pesquisadora da Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Cientec); Elba Calesso Teixeira, também pesquisadora da Fepam e do Centro de Ecologia da UFRGS, doutora e pós-doutora em Geoquímica, e Fernando Willrich, assistente técnico da Divisão de Pesquisa do Dmae.
A pesquisadora Josete Sanches confirmou que não há lei limitando emissões de dioxinas e furanos no Brasil. A doutora Elba Calesso Teixeira, afirmou que não acompanha atualmente este assunto porque está dedicada a pesquisas sobre hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. O pesquisador Fernando Willrich afirmou que “as concentrações de dioxinas são muito baixas” e que esses compostos “podem ser gerados espontaneamente, por ação da luz solar, por exemplo”. De acordo com ele, “não há leis que limitem emissões de dioxinas, pois a detecção delas é algo tão preciso que até mesmo a vidraria de laboratório precisa ser muito bem controlada”. Ele concluiu que “as concentrações são tão ínfimas que não chegam a ser um problema em si, mas isto não quer dizer que não possam se acumular ao longo do tempo”.
Detecção e Restrição
Renato das Chagas e Silva, engenheiro da Divisão de Controle da Poluição da Fepam, assinalou que “o laboratório é quem determina limites para dioxinas”. Isto significa, segundo ele, que os padrões são estabelecidos pelos limites de detecção de laboratórios internacionais. “Ao avaliar que as detecções são, em uma média, 100% próximas de zero, eles estabelecem esse padrão”, observa. Segundo Chagas, que trabalhou na avaliação do EIA da quadruplicação da capacidade de produção da Aracruz, mesmo considerando os períodos em que a fábrica operou, no passado, com outras tecnologias, que possivelmente levaram a maiores níveis de emissões, “não foi encontrado nada gritante”. Ele garante que “a Fepam exigiu sempre um teste por semestre”, quando, em muitas situações, no exterior, são exigidas análises anuais. “Existe uma série histórica indicando a não-ocorrência de dioxinas, ou índice praticamente zero neste caso. A não-detecção não quer dizer zero, mas é insignificante, da ordem de picogramas”, diz.
Chagas destaca que a Fepam trabalha em uma linha restritiva, “quer dizer, busca a redução na geração”. O órgão “exige que o resultados sejam inferiores sempre aos limites de detecção”, o que, de acordo com ele, garante uma melhoria contínua. “A Aracruz tem mais ou menos 15 anos de monitoramento. Em 1991, o processo de branqueamento dela era com cloro elementar, e foi modificado para livre de cloro elementar (Elementar Chlorine Free, ECF). A fábrica fez outras mudanças em 2000, que ajudaram a diminuir ainda mais as emissões”, observa.
“Os resultados de AOX (compostos halogenados, de substâncias com Cloro, Iodo ou Bromo) e de dioxinas e furanos sempre ficaram abaixo dos limites de detecção do método de análise utilizado pelos laboratórios mais exigentes, os que dão as referências nesta área”, diz o engenheiro, acrescentando que “a possibilidade de toxicidade existe, mas há um padrão, e ele consiste em buscar a não-existência de dioxinas, o que só pode ser confirmado por monitoramento”. “Acredito que não exista, no Brasil, uma empresa com a série histórica de dados como a da Aracruz. É uma base de dados que serve para estudos”, constata.
Conforme dados do EIA, a carga de poluentes da Aracruz para a água, após realizado o tratamento de efluentes, resultará nos seguintes valores: demanda bioquímica de oxigênio (DBO): 600 Kg/dia; demanda química de oxigênio (DQO): 11.875 Kg/dia; sólidos suspensos totais: 1.690 Kg/dia; compostos halogenados (AOX): 0,09 Kg/tSa (tonelada seca de celulose) (a exigência legal para este último parâmetro é de 0,25 Kg/tSa).
Saúde
Cabe ressaltar que dioxinas são compostos cumulativos e não derivam apenas de processos de produção de celulose. Podem ser geradas a partir de incineração de resíduos, queimadas florestais, atividades em fornos de cimento, disposição de esgotos em aterros e até mesmo da queima de lenha para se aquecerem famílias em suas casas. Uma questão é o conhecimento e o controle de padrões de emissões para plantas industriais, a outra – tão ou mais relevante – é delimitar os níveis toleráveis pelo organismo humano a esses agentes. Em vários países, autoridades da área de saúde estabelecem limites para a ingestão diária considerando a massa corporal de um indivíduo. Assim, por exemplo, na Alemanha, tem-se o teto de 1 picograma por quilo; na Holanda, de 4 picogramas; no Canadá e nos EUA, 10 (picograma é a trilhonésima parte de um grama).
As dioxinas são armazenadas no fígado e no tecido adiposo e leva até dez anos, em media, para o corpo reduzir a metade da quantidade delas, uma vez armazenadas. Em dezembro de 1990, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu limite de 10 picogramas por quilo de peso como o limite tolerável para a ingestão diária de dioxinas da família TCDD.
Mas como controlar esta ingestão podendo esses compostos estarem presentes em alimentos diversificados como leite, ovos, peixes e diversos outros tipos de carnes? Esta é uma questão que tem levado à insegurança e, ao mesmo tempo, à disseminação de práticas de alimentação vegetariana sem agrotóxicos.
Incerteza
A incerteza sobre a quantidade de ingestão de dioxinas aliada à certeza de sua cumulatividade no ambiente e nos organismos leva à necessidade de precaução. Por um lado, apresenta-se, em geral, um vácuo legal ou uma grande variabilidade para o estabelecimento de limites. Por outro, no que diz respeito à questão da água, por exemplo, tem-se, no Brasil, uma significativa precariedade institucional. Boa parte das companhias de abastecimento de água, no país, não consegue nem fechar, na prática, o checklist relativo aos padrões de potabilidade. Segundo o técnico do Dmae Fernando Willrich, “os órgãos que trabalham com qualidade de água para abastecimento não estão conseguindo sequer trilhar todas as exigências da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde sobre potabilidade da água. Talvez três ou quatro companhias o façam no Brasil – Sabesp, Sanepar, Dmae, entre elas. Faltam recursos, investimentos, pessoas, a aplicação da metodologia é cara”, diz.
Um exemplo disto foi constatado nesta segunda-feira (08/09), quando o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) ordenou a apuração da presença de índices de alumínio acima do permitido na água consumida em Florianópolis (SC). Segundo o MP-SC, exames realizados no ano passado por um laboratório privado e pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), a pedido do síndico de um condomínio do bairro Agronômica, mostraram que a água apresentava entre 0,5% e 1% de alumínio, quando o índice máximo previsto por legislação federal é de 0,2%.
Vigilância
Ações isoladas para a vigilância da qualidade da água, ao invés de coletivas e organizadas, são o mais comum. Há um generalizado desconhecimento de leis e de recursos dos quais o cidadão pode lançar mão para obter mais informações e evitar abusos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, há uma lei recente sancionada pela governadora do Estado em junho deste ano, para garantir o acesso de qualquer pessoa a informações sobre atividades potencialmente poluidoras (produção, armazenagem, transporte) que utilizem os chamados POPs – Poluentes Orgânicos Persistentes, entre os quais se incluem compostos empregados na produção de PVC, na geração e composição de herbicidas, inseticidas e fungicidas, na incineração de lixo e nos processos industriais que empregam cloro e derivados do petróleo. Para isto, a lei, de iniciativa do deputado Elvino Bohn Gass, prevê que o interessado faça uma requisição por escrito aos órgãos ambientais responsáveis pelo controle do uso dessas substâncias.
Pelo quarto ano consecutivo, Aracruz é classificada no Índice Dow Jones de Sustentabilidade Global
A Aracruz Celulose foi classificada pelo quarto ano consecutivo na seleta lista de empresas do Índice Dow Jones de Sustentabilidade Global (DJSI World) 2008/2009, da Bolsa de Valores de Nova York, que destaca as melhores práticas em sustentabilidade corporativa no mundo. A companhia foi a líder na categoria “Recursos Florestais e Papel” e concorreu com outras 14 empresas do setor florestal do mundo. Delas, somente duas foram classificadas – a Aracruz e a VCP, esta incluída na edição deste ano.
O índice 2008/2009, anunciado em Zurique pela SAM, instituição responsável pela avaliação, é composto por 320 empresas que atuam em 57 setores industriais. Ao todo, 35 companhias brasileiras foram convidadas a participar do processo de seleção e apenas oito foram classificadas. Mais de 2.500 companhias de 51 países listadas no Índice Dow Jones foram analisadas, seguindo critérios econômicos, ambientais e sociais.
“Nossa permanência neste que é um dos índices mais cobiçados pelas grandes empresas globais reflete o compromisso da Aracruz com o futuro. Buscamos continuamente aprimorar nossas práticas, sempre com foco na efetiva criação de valor para os acionistas e a sociedade”, diz o diretor-presidente da Aracruz, Carlos Aguiar.
Criado em 1999, o DJSI World tornou-se referência para instituições administradoras de recursos estrangeiros. Ele considera não apenas o desempenho financeiro, mas principalmente a qualidade da gestão da empresa, que deve integrar o valor econômico à transparência, governança corporativa e à responsabilidade socioambiental no longo prazo.
Aracruz seleciona empresa para resgatar navio naufragado em São José do Norte
Geraldo Hasse
A Aracruz ainda não entregou à Fepam e ao Ibama o estudo de impacto ambiental sobre a construção do terminal de exportação de celulose em São José do Norte, mas na cidade a expectativa é que a obra se inicie em janeiro ou fevereiro de 2009.
Na prefeitura, com o prefeito José Vicente Ferrari em campanha pela reeleição, ignora-se a hipótese de que o terminal possa ser cancelado em função da aquisição da Aracruz pela Votorantim, que tinha planos de um terminal em Rio Grande.
De qualquer forma, antes de construir o terminal em São José, será preciso retirar do fundo do local escolhido o navio Avante, que afundou há mais de 20 anos, deixando à vista um mastro e levando para debaixo d’água um mistério – qual sua carga?
Para executar o serviço, a Aracruz está selecionando uma empresa de salvatagem marítima. A disputa estaria entre uma brasileira e uma holandesa.
Nova Aracruz começa a produzir em 2010
Cerca de 500 convidados participaram do início simbólico da construção da nova fábrica da Aracruz em Guaiba, nesta quarta-feira, 27. Houve lançamento da pedra fundamental pela governadora Yeda Crusius e discurso entusiasmado do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Alceu Moreira. Ambos afirmaram que o empreendimento “é um marco histórico” para o Rio Grande do Sul.
Houve visita ao canteiro de obras, onde 500 operários já trabalham preparando o terreno 300 metros quadrados para a construção, que começará efetivamente nos próximos dias.
“Aproveito para convidar a todos para a inauguração, em julho ou agosto de 2010”, disse o presidente da Aracruz, Carlos Aguiar. O evento foi encerrado com um almoço, sob tendas no pátio da indústria, ao som de clássicos da bossa nova a cargo do escritor Luiz Fernando Veríssimo e seu conjunto de jazz.
A nova unidade vai ter capacidade para 1 milhão e 300 mil toneladas de celulose por ano, que se somarão a produção atual, de 450 mil toneladas ano. As duas plantas, operando integradas, formarão uma das maiores fábricas de celulose do mundo, com produção de 1 milhão e 850 mil toneladas por ano, quatro vezes a capacidade atual.
Orçado em US$ 2,8 bilhões, o empreendimento mobiliza cifras portentosas: US$ 800 milhões anuais em divisas, US$ 400 milhões em compras de fornecedores locais, US$ 300 milhões em impostos, três mil novos empregos. No pico da obra, em meados de 2009, ela absorverá 7 mil trabalhadores.
Além da fábrica, a empresa vai ampliar a sua base florestal de 160 mil hectares e implantar um sistema de logística para transporte de madeira e celulose que vai reativar a combalida navegação fluvial no Rio Grande do Sul.
A hidrovia do Jacuí será reativada para o transporte da madeira do interior até a fábrica em Guaíba. A celulose sairá pela Lagoa dos Patos para um terminal portuário de exportação que será construído em São José do Norte. Os mercados asiáticos serão o principal destino da celulose produzida em Guaíba.
Empresa vai estudar impactos no Morro do Osso
Carlos Matsubara, Ambiente JA
A Aracruz Celulose recebeu na segunda-feira (25/08) ofício da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) com a queixa do Conselho de Meio Ambiente do Município de Porto Alegre (Comam).
O documento se refere a não inclusão do Parque do Morro do Osso no EIA-Rima da ampliação da fábrica em Guaíba.
Area de preservação permanente o parque, na orla do Guaiba em Porto Alegre, está a menos de dez quilômetros da indústria.
Conforme o gerente de Qualidade e Meio Ambiente da Aracruz, Clovis Zimmer, a empresa irá atender plenamente o que foi recomendado pelo ofício do Comam.
Isso significa que os estudos sobre os impactos diretos e indiretos no Parque do Morro do Osso serão iniciados em breve. “Recebemos o ofício e vamos cumpri-lo integralmente”, assegura.
O estudo será realizado pela própria empresa em conjunto com uma consultoria ainda a ser contratada. “Na realidade as recomendações do Comam não são muito diferentes do que já está no EIA-Rima, que não cita nominalmente o parque, mas abrange geograficamente a área definida pelo empreendimento”, justifica.
A Aracruz já havia anunciado que parte dos recursos de medida compensatória de R$ 18 milhões seria repassada ao parque. O valor do repasse deverá ser decidido pela administração do parque.
Suspensão da LP seria “medida extrema”
O Conselho Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre (Comam) pode pedir, em reunião hoje (28/08), a suspensão da Licença Prévia (LP) da ampliação da unidade de Guaíba da Aracruz Celulose e por conseqüência, a paralisação das obras.
Conforme a ambientalista Káthia Vasconcellos Monteiro, esta seria uma medida extrema, mas que pode ocorrer caso o conselho chegue a conclusão de que a ampliação da fábrica signifique uma ameaça ao Parque Natural do Morro do Osso, na zona sul de Porto Alegre.
Segundo a resolução 13/90 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) todo o empreendimento que causar impacto ambiental tem que necessariamente passar pela aprovação do órgão de gerenciamento da unidade de conservação num raio de 10 quilômetros. A área inclui o parque, mas a Secretaria do Meio Ambiente do Município (Smam) não foi consultada no processo de licenciamento por parte da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), nem pela Aracruz. “Vamos ouvir o que a Associação em Defesa do Morro do Osso tem a dizer para depois liberar sobre a questão”, diz a conselheira.