Cleber Dioni Tentardini
Com a entrada em operação neste mês de julho dos 17,9 megawatts (MW) do Parque Eólico Chuí 9, o Rio Grande do Sul chega a 1.321,6MW de capacidade instalada de energia eólica. Isso representa 20% da produção nacional, que hoje é de 6,6GW, conforme dados da Associação Brasileira de Energia Eólica – ABEEólica.
Através de uma estimativa, pode-se dizer que essa capacidade pode gerar 375 gigawatts hora(GWh) e abastecer em média 2 milhões de residências mensalmente. Segundo o Balanço Energético Nacional – BEN 2014, publicado pela EPE, a geração estimada seria capaz de abastecer o consumo residencial de eletricidade do Acre, que consumiu 373 GWh em 2013.
No RS, estão produzindo energia 51 parques distribuídos em nove municípios da região metropolitana de Porto Alegre, Llitoral Norte e Sul e Fronteira-Oeste. Além desses, já estão contratados e em construção mais 41 parques eólicos no Estado, que somam 764,3 MW para entrar em operação até 2017.
O novo parque em Chuí com dez aerogeradores de 80 metros ocupa uma área de 112 hectares no Chuí, Litoral Sul, fronteira com a cidade uruguaia de Chuy. Recebeu a licença de operação da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) no final de junho e parecer de acesso do Operador Nacional do Sistema – ONS e aguarda sinal positivo da Agência Naconal de Energia Elétrica (Aneel) e demais órgãos responsáveis para começar a operar. Conforme a LO, a empresa deverá manter monitoramento de aves, morcegos, mamíferos terrestres, anfíbios, répteis e peixes anuais e sinalizar as estradas para controle de atropelamento de animais.
Megausina de Campos Neutrais
Os novos aerogeradores fazem parte de um conjunto de seis usinas do Parque Eólico Chuí, que terá 144 MW de potência instalada. O investimento é da Eletrosul /Eletrobras (49%) em parceria com o Fundo de Investimentos em Participações (FIP) Rio Bravo, que detém 51% do negócio.
Somado aos outros dois parques que estão sendo construídos naquela região litorânea – os parques eólicos Geribatu, com 258 MW, e Hermenegildo, com 181 MW de capacidade, ambos em Santa Vitória do Palmar – formam o Complexo Eólico de Campos Neutrais, que pretende ser o maior da América Latina. Os 583 megawatts (MW) de capacidade instalada é suficiente para atender ao consumo de 3,3 milhões de habitantes.
Os investimentos em Campos Neutrais chegam a R$ 3,5 bilhões, levando em conta os parques e as obras do sistema de transmissão, que leva a energia do extremo Sul ao Sistema Interligado Nacional (SIN). A Eletrosul em parceria com a Companhia Estadual de Geração e Transmissão de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE-GT), construíram perto de 490 quilômetros de linhas de transmissão (525 kV), três novas subestações e ampliando uma unidade existente.
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A Revolução Eólica (49) – Usina Cerro Chato terá novo centro de visitações
O Centro de Visitações da Usina Eólica Cerro Chato (UECC), em Santana do Livramento, deve ser inaugurado em janeiro, informa o coordenador, o guia turístico Nereo Rodrigues Mendes.
O centro está sendo construído no topo de cerro que dá nome à região. Aliás, foi bem naquele ponto que D. Pedro II e familiares, acompanhados do Luis Filipe Gastão de Orléans, o Conde d’Eu, genro do imperador, estiveram no dia 10 de outubro de 1865 em visita ao amigo ‘Machado’ (possivelmente trata-se do sesmeiro Silvano Machado do Couto). A comitiva vinha de Uruguaiana em direção à vila de Santana do Livramento.
O projeto do Centro de Visitações é da arquiteta Claudia de Moura Incerti, 41 anos, Ela foi selecionada pelo arquiteto Sato Yoshiki, quem supervisionou as obras de construção da subestação coletora de energia Cerro Chato e da linha de transmissão. “Quando fui conhecer o Cerro Chato, já visualizei o centro como um cartão postal para a cidade, uma casa integrada àquela região e, principalmente, que não agredisse o meio ambiente”, diz.
Claudia tomou como exemplo a casa inteligente da Eletrosul em Florianópolis, com telhado verde, painéis solares e incorporou outras ideias resultados de suas pesquisas e sugestões do próprio Sato. O terraço do prédio terá terá um jardim e o guarda-corpo será de vidro para facilitar a vista do parque eólico. Os painéis solares e um aerogerador que inicialmente iriam fornecer energia para os jardins, agora se prevê que possam abastecer pelo menos a metade da energia consumida no centro. Também irão ajudar a aquecer a água. O telhado verde que ajudará na captação da água da chuva.
“Haverá tratamento de esgoto, será feito através de uma zona de raízes, que é ecologicamente correto. Não é simplesmente uma fossa e filtros. Então são vários sistemas que serão instalados ali. Uma casa autossustentável”, resume a arquiteta.
Por enquanto, os visitantes dos parques eólicos são recepcionados por Mendes e auxiliares num posto de informações improvisado junto ao aerogerador nº 5 do Parque III. São visitantes do próprio município e da vizinha cidade de Rivera, Uruguai, assim como turistas vindos das mais diversas cidades do Estado e do País, e do Norte do Uruguai. Durante os dias de semana são programadas visitas escolares das mais diversas escolas da cidade, universitários de diversas universidades existentes no Estado. Ali, recebem orientações, cartilhas explicativas e são convidados a assistir a um vídeo sobre a Usina. As dicas são indispensáveis para quem quiser ir além do registro fotográfico.
A Revolução Eólica (48) – Nova rede vai conectar usinas do Extremo Sul
Além dos contratos de locação das áreas, do licenciamento ambiental e da exata localização das torres, outra exigência para um projeto poder disputar o leilão de energia do governo federal é a capacidade de escoamento do que será produzido pela futura usina.
Assim, a Eletrosul Centrais Elétricas, em parceria com a Companhia Estadual de Geração e Transmissão de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE-GT), está construindo cerca de 470 quilômetros de linhas de transmissão, além de três novas subestações de energia e ampliando uma unidade existente, a fim de conectar os parques eólicos em construção naquela parte do litoral gaúcho e integrar a metade sul do Rio Grande do Sul ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Serão investidos aproximadamente R$ 900 milhões no sistema de transmissão que inclui linhas nos trechos Nova Santa Rita – Povo Novo, Povo Novo – Marmeleiro (inclui 15 km dentro da Estação Ecológica do Taim), Marmeleiro – Santa Vitória do Palmar (todas em 525 kV); e seccionamento da linha Camaquã 3 – Quinta na SE Povo Novo (230 kV). Também foram construídas três subestações de energia – Povo Novo (525/230 kV), Marmeleiro (525 kV) e Santa Vitória do Palmar (525/138 kV) e ampliada a subestação Nova Santa Rita.
A Transmissora Sul Litorânea de Energia S.A – TSLE, sociedade de propósito específico (SPE), é a responsável pela construção, operação e manutenção do sistema de transmissão, Foi constituída entre Eletrosul (51%) e CEEE-GT (49%) em julho de 2012, um mês após o consórcio arrematar os projetos no leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica.
O diretor técnico da TSLE, engenheiro Carlos Matos, garante que todo o sistema estará pronto dentro do prazo previsto pela Aneel, até o final deste ano. “As subestações já estão prontas, falta finalizar a parte de infraestrutura das unidades, ruas, iluminação e cercamento, o que ocorrerá até final do ano”, projeta Matos.
(Cleber Dioni Tentardini, com Assessoria de Imprensa da Eletrosul)
A Revolução Eólica (47) – Vem aí a megausina de Campos Neutrais
Por Cleber Dioni Tentardini
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou o início dos testes em 14 aerogeradores do Parque Eólico Geribatu, em Santa Vitória do Palmar. A subestação coletora começou a escoar a energia ainda por meio de uma conexão provisória, em uma linha de transmissão da CEEE Distribuidora.
O Complexo Eólico de Campos Neutrais, como foi batizado um conjunto de três parques gigantes que estão sendo construídos nos municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí, no litoral Sul gaúcho, será o maior da América Latina. Geribatu, Chuí e Hermenegildo terão 583 megawatts (MW) de capacidade instalada, suficiente para atender ao consumo de 3,3 milhões de habitantes.
Os acessos para as dez usinas de Geribatu e para as seis do Chuí estão prontos. No primeiro parque, que terá um total de 129 aerogeradores, 121 já estão com a montagem mecânica concluída, dos quais 108 também já estão com a montagem elétrica finalizada. A previsão é que comecem operar comercialmente ainda este ano. No segundo, estão sendo construídas as primeiras de um total de 72 bases para os cataventos gigantes. Começa a abastecer a rede elétrica nacional no primeiro semestre de 2015.
O Parque Eólico Hermenegildo ainda aguarda a emissão da Licença de Instalação (LI) pela Fepam – Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler – para o início das obras, o que deve se dar ainda neste semestre. Deve iniciar a operação primeiro trimestre de 2016.
A previsão é de que os três parques beneficiem três mil trabalhadores, direta e indiretamente.
Investimentos chegam a R$ 3,5 bilhões
Os investimentos no Complexo Eólico de Campos Neutrais chegam a R$ 3,5 bilhões, levando em conta os parques e as obras do sistema de transmissão, que irá escoar a energia e integrar o extremo Sul ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
O Parque Eólico Geribatu, com 258 MW divididos em dez usinas, e o Parque Eólico Chuí, que terá 144 MW de potência instalada em seis usinas, são uma parceria da Eletrosul (49%) com o Fundo de Investimentos em Participações (FIP) Rio Bravo, que detém 51% do negócio.
O consórcio construtor é formado pela empresa espanhola Gamesa, que fabricará os 129 aerogeradores; a Schahin Engenharia S.A., que ficará responsável pela parte de construção civil, como as bases das torres eólicas, e a implantação da rede de média tensão; e a ABB, que fornecerá os equipamentos do sistema de transmissão.
Já o Parque Eólico Hermenegildo, que terá 13 usinas com 181 MW de capacidade é um projeto da estatal subsidiária da Eletrobras (99,99%) com a Renobrax (0,01%).
Quase metade da potência instalada de geração eólica no Rio Grande do Sul, contratada nos leilões desde 2009, é de empreendimentos da Eletrosul e parceiros, que somam aproximadamente 800 MW.
“Com esse gigantesco complexo, a Eletrosul consolida sua presença como maior empreendedora em energia eólica no Sul do país, e queremos manter essa tendência de crescimento”, afirmou o presidente da estatal, Eurides Mescolotto.
Campos Neutrais
A denominação do complexo eólico remete ao período da colonização. A área compreendida entre os banhados do Taim e o Arroio do Chuí, onde foram posteriormente instalados os municípios de Santa Vitória do Palmar e Chuí, foi palco de várias disputas entre tropas portuguesas e espanholas. Para evitar mais conflitos, com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, em 1777, a região ficou sendo um território neutro e, portanto, conhecida como Campos Neutrais.
A Revolução Eólica (46) – Mais três parques eólicos no Pampa
Começa esta semana a construção de mais três parques eólicos na região do Cerro Chato, em Santana do Livramento (RS), na fronteira com o Uruguai, em pleno pampa.
O projeto, fase 2 do Complexo Eólico Livramento, que prevê quatro parques, com 34 aerogeradores numa área de 4.380 hectares, e capacidade instalada de 68 megawatts (MW) de energia.
Por enquanto, três foram contemplados no último leilão realizado pelo governo federal. São eles: Galpões (8MW), Capão do Inglês (10MW) e Coxilha Seca (30MW). Apenas Ibirapuitã II (20MW) ficou de fora.
Os contratos preveem o início de suprimento em 1º de setembro de 2015, com prazo de vinte anos. O investimento é de R$ 270 milhões.
Assim como a fase 1 do Complexo Eólico Livramento, estes também são gerenciados pela Eletrosul Centrais Elétricas, que detém 49% do investimento, em parceria com a Fundação Eletrosul de Previdência e Assistência Social – Elos, com 10%, a Renobrax, empresa de engenharia de Porto Alegre, e o Fundo de Investimento Privado (FIP) Rio Bravo , com 41% das ações. A estatal e as parceiras constituíram a Livramento Holding S.A para gerenciar as usinas.
Três empresas formam o consórcio construtor: a fabricante argentina de aerogeradores IMPSA; o grupo português Efacec, especializado em equipamentos eletromecânicos; e a Iccila, empreiteira local da construção civil, que está executando os trabalhos de infraestrutura da área – abertura das vias de acesso aos locais onde serão instalados o canteiro de obras e as turbinas.
Leilão teve recorde de projetos
O Leilão de Reserva que o governo federal promoveu em 23 de agosto do ano passado, exclusivo para fonte eólica, teve cadastrados na Empresa de Pesquisa Energética (EPE) 655 projetos em nove estados, somando capacidade instalada de 16.040 megawatts (MW).
“É recorde, o maior número de projetos já inscritos em um leilão para energia eólica no mundo”, entusiasmou-se o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim.
A Bahia foi a campeã em inscrições com 238 parques, que somam 5.854 MW. Em segundo aparece o Rio Grande do Sul, com 153 projetos para produzir 3.437 MW.
O leilão apresentou duas novidades: a primeira é que atrela a contratação de parques eólicos à garantia de conexão na rede de transmissão, que elimina o risco de os empreendimentos ficarem prontos e não terem como escoar a produção. A segunda, é que a energia negociável será calculada com base em um critério de pelo menos 90% de chance de a produção dos empreendimentos eólicos ser igual à quantidade vendida. “Haverá apenas 10% de probabilidade de o parque gerar menos energia do que o volume vendido no leilão”, explicou Tolmasquim. (Cleber Dioni Tentardini)
A Revolução Eólica (44) – Cerro Chato produz mais 30MW
Mais três parques eólicos estão produzindo eletricidade em Santana do Livramento, totalizando 30MW. São eles: Cerro Chato IV, Cerro Chato V e Cerro dos Trindades. A nova energia se soma aos 90MW em operação desde 2012 na Usina Eólica Cerro Chato.
Dessa primeira fase do Complexo Eólico Livramento, ainda estão sendo instalados 12 aerogeradores do Cerro Chato VI e outros 12, do Ibirapuitã I.
Esses cinco parques representam o Entorno I, com 78 MW, e ocupam uma área de 4.776 hectares e terão capacidade para abastecer 180.117 residências com 574.573 habitantes.
O gerenciamento é da Eletrosul Centrais Elétricas, que detém 49% do investimento, em parceria com a Fundação Eletrosul de Previdência e Assistência Social – Elos, com 10%, e o Fundo de Investimento Privado (FIP) Rio Bravo , com 41% das ações. A estatal e as entidades constituíram a Livramento Holding S.A para gerenciar as usinas.
Três empresas formam o consórcio construtor: a fabricante argentina de aerogeradores IMPSA; o grupo português Efacec, especializado em equipamentos eletromecânicos; e a Iccila, empreiteira local da construção civil, que está executando os trabalhos de infraestrutura da área – abertura das vias de acesso aos locais onde serão instalados o canteiro de obras e as turbinas.
Os empreendimentos foram viabilizados no último Leilão de Energia Nova (A-3), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), realizado em agosto de 2011. Nesse certame, saíram vencedores 21 empreendimentos que somam 492 MW de potência. Entre eles, novas usinas no Litoral Sul do Rio Grande do Sul, batizados de Geribatu (258 MW), em Santa Vitória do Palmar, e Chuí (144 MW), no município de Chuí.
A Revolução Eólica (42) – Embalados pelos ventos
Sem contar os cataventos que no século passado puxavam água de poço ou acendiam lâmpadas e aparelhos de rádio em fazendas na campanha gaúcha, a energia eólica chegou ao Rio Grande do Sul em meados de 2006, quando o parque de Osório começou a enviar eletricidade para uma subestação da CEEE.
Em seis anos,13 parques eólicos operam no Estado, com capacidade para gerar 414 megawatts, 22% do total instalado no país.
No ano passado, os 600 aerogeradores espetados em diversos pontos do Estado mandaram para a rede elétrica 150 megawatts, energia suficiente para abastecer uma cidade como Santa Maria.
Mesmo com a desvantagem de ser inconstante, o vento fornece uma energia complementar limpa, que permite economizar nas hidrelétricas e nas térmicas.
NORDESTÃO QUEM DIRIA…
O vento Nordeste, que sempre irritou os moradores do litoral Sul, hoje é motivo de orgulho em Osório. É ele que move o primeiro parque eólico do Rio Grande do Sul.
Construído pela espanhola Elecnor em parceria com os alemães da Wobben Windpower. Começou a operar em abril de 2006, com 75 aerogeradores somando 150 MW de capacidade instalada.
Por ser o primeiro do Rio Grande, gozou de condições privilegiadas oferecidas pelo Programa de Incentivo a Fontes Alternativas (Proinfa), do Ministério das Minas e Energia.
A maior vantagem foi o preço do megawatt/hora: R$ 240, três vezes mais caro do que a energia de origem hídrica na época e quase o dobro da cotação da energia eólica no leilão de agosto do ano passado promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica.
Nesse último leilão, a cotação do megawatt hora caiu para R$ 130,86, bem mais baixo que o valor ofertado pelas usinas movidas a queima de bagaço de cana (R$144,20) e pelas pequenas centrais hidrelétricas (R$141,93).
O sucesso do empreendimento de Osório virou um marco no litoral norte, onde o vento dominante (o nordestão) garante um aproveitamento (da potência instalada) acima da média mundial (33%).
Se o rendimento é de 34%, 36% ou 40% nunca se soube, mas o fato é que os aerogeradores de Osório só param para manutenção.
Acossada por um enxame de concorrentes – a argentina Impsa, a norte-americana General Electric, a espanhola Gamesa, a indiana Suzlon, a dinamarquesa Vestas, a francesa Alstom, a alemã Siemens –, a pioneira Elecnor não se acomodou e conseguiu licença para implantar novos geradores em Osório e na vizinha Palmares do Sul.
Somados, os dois parques terão sua capacidade total ampliada para 500 MW.
Dona da rede de transmissão, a CEEE se tornou sócia (10%) do grupo espanhol operador dos cataventos de Osório e Palmares do Sul.
Em 2011, o grupo colocou em operação o Parque Cidreira I (70 MW), também no litoral norte.
CATAVENTOS NA COXILHA
Mais de uma década depois de ter seu parque de geração totalmente privatizado, a Eletrosul tornou-se, em julho de 2011, a primeira empresa do Sistema Eletrobras a produzir energia a partir dos ventos – no Cerro Chato, em Santana do Livramento, um dos lugares mais pobres do Rio Grande do Sul, área de grandes propriedades dominadas pela pecuária extensiva, na fronteira do Brasil com o Uruguai, no extremo sul.
A reviravolta da Eletrosul começou em 2004, quando o presidente Lula enviou ao Congresso uma medida provisória elaborada pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que reorganizava o setor elétrico e retirava as estatais, incluíndo a Eletrosul, no Plano Nacional de Privatizações.
A partir dali, os valores investidos somente em geração saltaram de R$ 189,9 milhões, em 2008, para R$ 723,4 milhões em 2012. E seguem crescendo.
VENTOS NA FRONTEIRA
São dois ventos dominantes na fronteira oeste do Rio Grande do Sul – o Aragano, no verão, e o minuano, no inverno. Sopram o ano inteiro, chegam a 80 quilômetros por hora.
Para colher a energia deles, a Eletrosul ergueu 45 cataventos a 98 metros de altura distribuídos em 25 áreas de propriedade particular. Cada torre rende ao proprietário do terreno R$ 2.500 por mês de aluguel. Uma centena de pessoas trabalha na administração e manutenção do parque eólico. O ICMS do município cresceu 10% em 2012.
Em termos energéticos, Cerro Chato está aquém das expectativas. Ao longo do último ano, ele não conseguiu alcançar 30% da sua capacidade.
Mas o negócio é bom, tanto que a Eletrosul está construindo mais três complexos eólicos – em Santana do Livramento, Santa Vitória do Palmar e Chuí – que irão acrescentar 480 MW ao sistema elétrico a partir de 2014.
O maior deles é o Geribatu (em Santa vitória), com 129 aerogeradores e potência instalada de 258 MW.
Nesses projetos serão investidos mais de R$ 1,5 bilhão, abrindo a possibilidade de incrementar a interligação energética com o Uruguai.
O Grupo CEEE estuda parceria com a Eletrosul para implantar o Parque Eólico Serra dos Antunes, em Osório, com 98 MW.
ENERGIA QUE MAIS CRESCE
Há 20 anos, a energia eólica era uma utopia improvável. Hoje o vento já contribui com 4,2% da energia consumida no mundo e é uma das fontes que mais crescem.
Há dois anos cresce acima de 20% ao ano.Já está presente em 80 países.
A capacidade total das usinas eólicas supera os 200 mil MW, segundo o Conselho Global de Energia Eólica.
Na América Latina, o Brasil apresenta as maiores taxas de crescimento. Mais de 1.800 MW já podem ser gerados nos parques eólicos brasileiros. E o crescimento é exponencial.
Pesquisas estimam que o potencial eólico no país chegue a 143 mil MW, mais de dez vezes o que é gerado pela Usina Hidrelétrica de Itaipu, cuja potência é de 14 mil MW.
Embora o Brasil tenha o maior parque eólico da América Latina, os ventos ainda correspondem a menos de 1% da energia produzida no território brasileiro. No ranking dos países produto res, os Estados Unidos lideram com 35 mil MW de capacidade instalada. Na sequência vêm a China, com 26 mil MW e a Alemanha, com 25,8 mil MW, segundo a Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na sigla em inglês).
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, prevê que em três anos o parque eólico do país chegará aos 8 mil MW, figurando entre os dez maiores produtores.
“O setor continuará crescendo, inclusive a indústria de aerogeradores, facilitada pelo governo que estabeleceu pelo menos 60% de conteúdo nacional nos equipamentos”, observa.
UM PARQUE EM VIAMÃO
Há outros empreendimentos, com estudos ambientais aprovados, que aguardam a abertura de novos leilões de energia.
Algumas empresas mantêm sigilo sobre seus projetos, enquanto outras divulgam seus investimentos e anunciam a intenção de disputar contratos de venda de energia.
Em Viamão, a Oleoplan constrói um parque eólico com potência de 25,6 MW. O investimento de R$ 100 milhões deve estar concluído em 2014. Segundo seu presidente Irineu Boff, que apostou na produção de biodiesel de soja, o grupo Oleoplan não vai ficar num único investimento eólico.
TODA PRODUÇÃO É COMPRADA
Uma grande vantagem das eólicas brasileiras é dispor de passagem livre nas redes de transmissão. As concessionárias como a CEEE não podem recusar a corrente oriunda dos aerogeradores.
Ou seja, com vento forte ou brisa leve, um catavento girando é sinal de que o parque eólico está faturando. Se estiver sobrando energia na rede, devem parar as hidrelétricas para poupar água nas represas e as térmicas para economizar combustível. Os cataventos não descansam.
ONZE USINAS EM 2013
Hoje, 13 parques geram 414 MW no Estado, o que representa 22% da produção nacional. As regiões sul, nordeste, centro-norte, litoral norte e fronteira oeste oferecem as melhores condições para a instalação de parques eólicos no Estado, não só pelo maior constância de ventos mas, também, pela boa infraestrutura do sistema elétrico de transmissão.
A energia contratada em sete leilões realizados pelo governo brasileiro entre dezembro de 2009 e dezembro de 2012, para ser entregue até 2017, foi de 7 mil MW, sendo mais de 1 mil MW em solo gaúcho, com previsão de investimentos de R$ 4,9 bilhões. Em apenas dois leilões de 2011, foram vendidos 506,4 MW em três complexos eólicos no litoral sul, onde a velocidade média dos ventos chega a 9,0 m/s, ou 32,4 km/h.
Neste ano, estão previstos entrar em operação 11 usinas, com 725,8 MW. Até 2016, a previsão é que o Rio Grande do Sul tenha instaladas 49 usinas eólicas.
Tentando turbinar o setor, o governo gaúcho isentou 17 produtos entre máquinas e equipamentos eólicos do pagamento de ICMS até 31 de dezembro de 2015. Além disso, garantiu financiamentos dos bancos públicos em que tem mando ou influência.
DILMA DEU O SOPRO INICIAL
A exploração econômica do vento no Rio Grande do Sul começou em 1999, quando Dilma Rousseff, secretária de Energia do governo Olívio Dutra (1999 2002), mandou medir a velocidade desse fenômeno meteorológico tradicionalmente associado ao folclore regional.
Sem dados concretos sobre o potencial eólico, não seria possível atrair investidores dispostos a montar usinas de produção de eletricidade.
Os primeiros contatos para elaborar o Atlas Eólico gaúcho foram feitos no segundo semestre de 1999, quando se realizou o primeiro seminário sobre a energia eólica no RS. Nesse evento apareceram pela primeira vez os espanhóis da Elecnor que mais tarde fundariam a Ventos do Sul Energia, com sede em Porto Alegre e base operacional no litoral norte. Antes disso, apenas a CEEE, dirigida por Telmo Magadan no governo de Antonio Britto (1995-1998), havia feito alguns movimentos para iniciar a exploração dos ventos no Rio Grande do Sul.
Coordenado pelo engenheiro elétrico Ronaldo Custódio dos Santos, funcionário da Secretaria de Energia que na época fazia mestrado em energia eólica, o primeiro protocolo para medição dos ventos no RS envolveu a CEEE e a empresa alemã Wobben Windpower, que possuía uma fábrica de componentes eólicos em Sorocaba e montaria uma parceria com a Elecnor.
Para fazer o trabalho de campo, foi contratada a empresa Intercâmbio Eletro Mecânico, do imigrante Hans Dieter Rahn, que desde a década de 1950 mora em Porto Alegre, onde representa uma fábrica alemã de anemômetros (medidores da velocidade do vento).
Em 2001, havia 21 torres recolhendo dados no litoral e no interior gaúcho.
Em 2002, esse número chegou a 34 torres, as primeiras medindo a velocidade do vento a 50 metros de altura, outras a 75 metros e as mais novas com 100 metros. Armazenados na Secretaria por Anderson Barcelos, jovem funcionário que se tornaria assessor direto de Dilma quando ela ascendeu ao ministério do presidente Lula e depois chegou à Presidência, os números deram origem ao Atlas Eólico do Rio Grande do Sul.
Publicado em 2002, esse documento-gigante identificou um potencial para gerar 15 840 MW em solo firme com aproveitamento mínimo de 30% da potência dos aerogeradores, considerando-se úteis os ventos acima de 7 metros por segundo a 50 metros de altura. Esse potencial de geração representava quatro vezes a demanda média do Estado na época. Entretanto, nas medições que se seguiram, concluiu-se que, quanto mais alto fosse instalado um aerogerador, melhor seria o seu rendimento, pois é longe do chão que os ventos sopram mais fortemente. Por isso o pioneiro projeto da ventos do Sul Energia em Osório, que inicialmente previa torres de 75 metros e aerogeradores com capacidade de 1,5 MW, foi alterado para operar a 100 metros com geradores de 2 MW.
Com o sucesso do parque eólico de Osório, que opera desde fins de 2006, outros investidores encomendaram medições dos ventos à IEM do velho Rahn e a outras empresas como a Camargo Schubert, de Curitiba, responsável pelo Atlas do Potencial Eólico do Território Brasileiro (Eletrobrás, 2001).
Os levantamentos confirmaram o que se sabia desde a chegada dos primeiros colonizadores portugueses – em fevereiro de 1727, o “mau tempo” (chuvas e ventos) impediu por dez dias a entrada a frota do brigadeiro José da Silva Paes, fundador de Rio Grande, no canal de ligação da Lagoa dos Patos com o Atlântico.
Os ventos gaúchos são mais intensos na segunda metade do ano. No litoral são mais fortes no período da tarde; no interior, sopram mais à noite. Predominam os ventos do leste e do nordeste com velocidades médias anuais de 5,5 a 6,5 metros por segundo. Ventos de mais de 7 m/s sopram de Imbé para o sul e também na Campanha, onde predominam o aragano ou pampeiro (em 60% do ano) e o minuano (40%, mais no inverno). Não por acaso, foi nas coxilhas de Sant’Anna do Livramento que a Eletrosul, sob a direção do engenheiro Custódio dos Santos, se tornou a primeira estatal a produzir energia eólica, desde meados de 2011.
EÓLICAS TAMBÉM INCOMODAM
Os estudos ambientais realizados em Santana do Livramento começaram em 2008. Foram necessárias várias licenças dos órgãos de fiscalização, como Fepam, DEMA e ICMBio. Embora o complexo eólico não esteja na Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, um trecho da linha de transmissão atravessa porção da APA, o que provocou mudanças no traçado original.
Segundo a geóloga Bibiane Michaelsen, contratada para realizar a supervisão ambiental da UECC, antes do início das obras foi feito o monitoramento da fauna durante um ano para identificar locais de reprodução, nidificação e alimentação de espécies, obedecendo ainda uma distancia mínima de 600 metros desses locais e 400 metros das residências, devido ao ruído e à sombra provocada pelos aerogeradores.
A disposição desalinhada das torres obedece critérios técnicos mas, sobretudo, segue orientações dos estudos ambientais.
A recuperação de áreas alteradas durante as obras e o monitoramento mensal das aves e morcegos se estenderá até 2015.
No livro sobre a Usina Cerro Chato (reprodução abaixo) podem ser vistos alguns animais comuns da Campanha, como as cobras, tatus, lebres, ratões do banhado, lagartos, além de milhares de espécies de aves e os animais de criação como gado, ovelhas e emas.
Antes, durante a construção do Parque Eólico de Osório, os órgãos ambientais (Fepam e Ibama) exigiam apenas estudos para evitar interferência na vida das aves migratórias.
Depois se viu que a operação dos cataventos interferia na vida dos morcegos e dos sapos. E também se concluiu que os estudos prévios deviam levar em consideração os humanos que habitam os arredores.
No Ceará, pioneiro na exploração dos ventos para geração de eletricidade, o Ministério Público Federal denunciou diversos problemas socioambientais como devastação de dunas, aterramento de lagoas, interferência em aquíferos.
Em outros países o aumento dos conflitos sociais gerados pelos grandes parques eólicos intensificou os estudos sobre os impactos dessa modalidade de negócio.
Na Alemanha, aerogeradores foram obrigados a parar de funcionar em horários matutinos em que as pás produziam um giro de sombras no interior das residências vizinhas. Para evitar reclamações, os investidores passaram a construir geradores em torres dentro do mar.
JÁ retoma série sobre energia eólica
O jornal JÁ retoma em seu site a série de matérias sobre a expansão da energia eólica no Rio Grande do Sul. A cobertura reinicia com a reportagem Embalados pelos Ventos, publicada na Revista JÁ, que traz uma visão ampla dos parques que estão em funcionamento e dos projetos eólicos em solo gaúcho. A matéria foi ganhadora de Menção Honrosa na categoria reportagem econômica do Premo Ari de Jornalismo, um dos mais antigos e conceituados da imprensa brasileira.
A Revolução Eólica (41) – O despertar da Fronteira dos Ventos
Por Cleber Dioni Tentardini | Fotos Antonio Henriqson
Com a inauguração neste mês de março da Usina Eólica Cerro Chato, Santana do Livramento, na fronteira-oeste gaúcha, vislumbra uma oportunidade única, após décadas de estagnação, para recuperar sua economia de forma sustentável. Em alguns anos, pode se tornar o maior pólo eólico da América Latina.
Santana do Livramento, na divisa com Uruguai, em uma década pode se tornar o maior pólo eólico da América Latina. Pelo menos uma dúzia de parques para geração desse tipo de energia renovável está projetada para o município, que passará a ser conhecido como a Fronteira dos Ventos.
Os projetos formatados até agora para Livramento, de pequeno, médio e grande portes, somam mais de 950 megawatts (MW). Representam quase a metade de todo potencial eólico do Estado, que gira em torno de 2 mil MW. À frente dos investimentos, que ultrapassam os três bilhões de reais, estão empresas públicas e privadas.
Três parques já estão fornecendo energia à rede elétrica nacional. Eles integram a primeira fase do Complexo Eólico Cerro Chato, um projeto da Eletrosul Centrais Elétricas, que foi incluído na segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC 2, do governo federal.
A inauguração das primeiras usinas, em março, contará com a presença da presidenta da República, Dilma Rousseff, que se empenhou no fortalecimento do setor eólico enquanto era ministra de Minas e Energia no governo Lula.
O empreendimento simboliza um marco histórico não só para a empresa responsável por sua implantação e gerenciamento, a estatal, subsidiária do Sistema Eletrobras, como para o município sede, que deslumbra uma oportunidade única, após décadas de estagnação, para recuperar sua economia de forma sustentável e melhorar a qualidade de vida da população.
O prefeito de Livramento, Wainer Machado, espera duplicar a arrecadação municipal até 2014 somente com as primeiras usinas da Eletrosul. “Vamos aumentar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, por conta da primeira usina, em torno de 40% a 50% do valor. “Se hoje é R$ 25 milhões, acreditamos que vai aumentar R$ 12 milhões a partir de 2013”, comemora Machado. Os cinco parques da Eletrosul aprovados no último leilão, projetados para gerar mais 78 MW a partir de 2014, irão render mais R$ 15 milhões/ano aos cofres do município.
Um pólo eólico no Pampa
A Usina Eólica Cerro Chato, de 90 MW, capazes de abastecer três vezes o município de Livramento, cerca de 240 mil habitantes, entra para a história da Eletrosul, assim como a cidade, pois é com ela que a estatal voltou à geração de energia, treze anos após a privatização. A empresa detém 90% dos quase R$ 500 milhões investidos no complexo. Os 10% restantes são da Wobben Windpower, subsidiária do grupo alemão Enercon GmbH, fabricante de aerogeradores.
A ampliação do Cerro Chato já começou, com a construção de mais 39 aerogeradores para produzir 78 megawatts. A terceira fase do complexo eólico, que compreende mais quatro parques com 34 torres no total e capacidade instalada de 68MW, pode ser definido no leilão de energia agendado pelo governo federal no dia 22 deste mês.
Santa Rufina – Outro empreendimento previsto para a mesma região é a Central Geradora Eólica Santa Rufina, de 60MW, com investimento previsto de 40 milhões de dólares da Zeta Energia, empresa do Grupo Ecopart. A propriedade está dentro da APA do Ibirapuitã, área de proteção ambiental mantida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente.
Cerros Verdes – Para a região dos Cerros Verdes, o grupo espanhol Fortuny tem projetos eólicos que somam 180 MW, com investimentos em torno de R$ 750 milhões. Há um entrave ambiental que pode provocar mudanças no projeto: a falta de autorização do ICMBio, órgão gestor da APA do Ibirapuitã.
Coxilha Negra –A Eletrosul possui projetos que estão sendo desenvolvidos na Coxilha Negra, na linha divisória com o Uruguai. Estima-se uma potência energética que pode chegar a 550 MW em uma área de 20 mil hectares. O investimento ultrapassa R$ 1,5 bilhão. Existe a possibilidade de interligação com o país vizinho.
Menos gases efeito estufa
Até 2010, o Brasil tinha 18 usinas eólicas em operação. Com isso, eram gerados 1 milhão de MWh/ano – o equivalente ao consumo médio de 4 milhões de pessoas – que contribuíram para a redução de aproximadamente 600 mil toneladas de emissão de CO2 por ano, um dos gases causadores do efeito estufa. A partir de 2012, com a estimativa de aumentar para 40 usinas eólicas no país, os números dobrarão, sendo gerados 2 milhões de MWh/ano, o que representa o consumo médio de 8 milhões de pessoas e a redução de aproximadamente 1,2 milhão de toneladas de emissão de CO2 por ano.
No Rio Grane do Sul, os primeiros 150MW produzidos pelos Parques Eólicos de Osório evitaram a emissão anual de aproximadamente 148 mil toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. Mas os benefícios ambientais não se restringem aos efeitos climáticos.
Nova energia para Livramento
Município de porte médio, com o segundo maior território do Estado, numa área com6,9 mil km², atrás apenas de Alegrete. População chegando aos 85 mil habitantes. Prédios abandonados no centro de Santana do Livramento denunciam que, nas últimas décadas, a cidade amargou muitas perdas, das indústrias à mão de obra qualificada. Muitos jovens foram embora. O último Censo do IBGE registrou 20 mil habitantes a menos. Falta gente até para trabalhar no campo.
Espera-se, agora, uma mudança no cenário. Os parques eólicos viraram símbolos da recuperação econômica da região, com benefícios ambientais e sociais. A Eólica Cerro Chato se responsabilizou pelo Programa de Controle do Capim-annoni e vai plantar 2,6 mil mudas de árvores na cidade, dentre outras ações. Os proprietários rurais foram beneficiados principalmente com a construção de estradas e açudes, sem mencionar os royalties da energia produzida.
Muitos que trabalharam no canteiro de obras da usina eólica receberam cursos de capacitação e esperam ser contratados para os próximos parques. Outros adquiriram experiência, aprenderam novas profissões e melhoraram a renda da família. O motorista Denizart Silveira acompanhou diariamente os operários do início ao fim das obras. Era ele quem transportava o pessoal para a Campanha. Eram doze homens no início, entre serventes, pedreiros, carpinteiros.
A cada semana chegavam mais dez trabalhadores. “Pegamos o pior do inverno, quatro graus negativos, mas duvido quem não gostaria de voltar pra lá, porque pagavam bem, horas extras, e muitos tiveram oportunidade de crescer”, lembra. Silveira viu servente promovido a chefe do almoxarifado, motoristas de caminhão virarem operadores de máquinas gigantes, passando a ganhar quatro mil reais por mês.
“Conheço pai e filho que foram trabalhar em linhas de transmissão em São Paulo, funcionários com carteira assinada, e um mecânico, dono de borracharia, que lucrou muito fazendo o socorro de todos lá fora, a qualquer hora do dia ou da noite”, conta.
O sentimento geral dos santanenses é de que as oportunidades de trabalho ainda têm de melhorar, mas as expectativas mudaram. E não são só nos cerros que os ventos têm soprado a favor. Na esteira do desenvolvimento, a cidade natal do folclorista Paixão Côrtes vê ampliar de forma significativa os cursos técnicos e universitários gratuitos, da Unipampa, Uergs, UFPel, UFSM e da Escola Técnica Federal.
Free shops brasileiros — Há muita expectativa em torno da instalação de free shops brasileiros nas cidades fronteiriças – projeto de Lei 6316/2009, de autoria do deputado Marco Maia (PT/RS). Seria uma forma de reagir à explosão desse tipo de zona de livre comércio do outro lado da fronteira – somente em Rivera, beneficiado pelo valor baixo do dólar, essas lojas de produtos importados comercializam por ano cerca de 600 milhões de dólares.
Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Livramento (ACIL), Sérgio Oliveira, a posição geográfica do municípioencarece muito a logística e a matéria-prima. “Os municípios distantes têm de oferecer incentivos tributários para as empresas vir se instalar aqui”, defende o empresário.
Mais hotéis — A rede de hospedagem tem se expandido tanto na zona urbana como na rural para atender a demanda. O Sindicato dos Empregados em Turismo e Hospitalidade (Sethl), registra 22 hotéis e pousadas na cidade. “Até pode haver mais, mas alguns estabelecimentos abrem e fecham muito rápido”, afirma a presidente da entidade, Edila Goulart.
Uma boa opção são as pousadas nas estâncias, onde são oferecidas atividades de lazer, comidas típicas e a tranquilidade da Campanha.
Na cidade, o médico e empresário Mozart Hillal é um dos que mais investem no segmento. “A infraestrutura da cidade tende a melhorar a partir de agora, porque a prefeitura vai dobrar sua receita com os royalties da energia eólica”, destaca Hillal, que ocupa a presidência da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e a vice-presidência do Sindicato dos Lojistas (Sindilojas).
Aluguéis caros — A ampliação dos cursos e a adesão das universidades locais aos exames nacionais ENEM e ProUni levaram ao município muitos alunos e professores de outras cidades gaúchas e estados. Soma-se a isso chegada de funcionários das empresas que prestam serviços nos parques eólicos e a falta de investimentos na construção civil. Resultado: disputa acirrada para locar imóveis com preços exorbitantes. Apartamento de um dormitório chega a R$ 700.
Conforme o delegado do Sindimóveis/RS, Carlos Simas, Livramento começa a recuperar sua economia agora, com a vinda de algumas indústrias, mas o processo de qualificação da infraestrutura da cidade é lento. “Nosso mercado da construção civil está estagnado há muito tempo”, explica Simas.
Potencial turístico — O potencial turístico de Livramento, hoje, é proporcionalmente inversa aos investimentos nesse setor, que são muito baixos. De olho nas novas perspectivas, as guias turísticas Vera Reis e Viviane Ávila voltaram para a cidade natal e reativaram a sociedade na Corticeira’s Guia de Turismo, e já lançaram dois novos roteiros: A Rota Internacional do Vinho e a Rota dos Ventos. A luta é diária para que a cidade deixe de ser apenas dormitório para o turismo de compras. “Oferecemos alternativas de lazer às pessoas que vem em busca dos free shops, e tentamos direcioná-los para que conheçam mais nossa Fronteira”, explica Viviane. “A gente tem que alavancar nossas potencialidades para o caso de algum dia esse cenário comercial mudar”, completa Vera.
A Revolução Eólica (40) – Visitantes superlotam Cerro Chato no fim de semana
Apenas cinco dos 45 aerogeradores estão funcionando, e produzindo 10 megawatts (MW) de potência, mas já é o bastante para levar milhares de pessoas ao canteiro de obras da Usina Eólica Cerro Chato, em Santana do Livramento. Calcula-se que no último final de semana passaram por lá quase mil veículos.
“No domingo, cruzaram por aqui uns 600 carros”, garante Nereo Mendes, responsável pela recepção aos visitantes, agora com auxílio de quatro estagiários.
O movimento intenso levou a Eletrosul à improvisar um container próximo à entrada do parque eólico, onde as pessoas são convidadas a assistir um vídeo de seis minutos e recebem informações sobre o empreendimento e a energia alternativa utilizada.
“Além da população em geral, recebemos autoridades municipais, muitos universitários e engenheiros de outros municípios e estados e até do Uruguai”, aponta. “Cheguei a falar ininterruptamente das 9h às 15h”, comenta Mendes, referindo-se ao dia 5, que registrou o maior movimento.
Ainda que não seja parada obrigatória, ele recomenda às pessoas que assistam ao vídeo. “Todos podem percorrer as estradas internas, mas querem avançar nas áreas privadas e chegar próximo às torres, o que não é permitido por questões de segurança, tanto dos visitantes como dos trabalhadores”, avisa.
Mendes, que diariamente coordena a Biblioteca Pública do município, também alerta para os cuidados com os animais. “Da estrada dá para ver as torres gigantes, as pessoas ficam maravilhadas e esquecem do cuidado que deve-se ter com os animais, não só os domésticos ou de criação. Constantemente cruzam pela estrada cobras e aranhas do tamanho do palmo da mão”, alerta, lembrando que a ninguém é permitido matar esses animais.
As visitas devem ser feitas preferencialmente aos sábados e domingos, a partir das 9 horas, quando Mendes e seus auxiliares já estão à disposição para orientar a população.
O complexo eólico Cerro Chato, que está sendo construído pela estatal brasileira Eletrosul (90%) em parceria com a Wobben (10%), subsidiária no Brasil da empresa alemã Enercon, será formado por três parques com capacidade instalada de 90MW.