Richard Serra e Lynne Cooke estarão no Fronteiras do Pensamento

David Byrne cancela sua apresentação
O músico e artista multimídia David Byrne não virá ao Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem. Alegando problemas de ordem pessoal, Byrne cancelou sua apresentação em Porto Alegre, marcada para o dia 15 de setembro.
O escultor Richard Serra, considerado por muitos críticos o mais importante artista da atualidade, estará em Porto Alegre participando do Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem. Junto com ele, Lynne Cooke,
curadora da Dia Art Foundation, em Nova Iorque, e professora de artes em diversas universidades
dos Estados Unidos. A dupla fala sobre arte, excepcionalmente, na noite de 12 de novembro, uma quarta-feira.
Richard Serra nasceu em São Francisco em 1939. Criador de obras de força e imponência, trabalhos determinados e afirmativos, que supõem nos indivíduos a capacidade de enfrentar as situações de maneira prática e destemida, é autor de esculturas em aço de grande escala que se erguem como muros, labirintos ou casas sem teto. Suas obras são como cidades, nas quais é preciso se perder para viver novas experiências.
Para a artista Vera Chaves Barcellos, Richard Serra é um dos mais relevantes artistas da minimal art no cenário internacional. “A obra dele se caracteriza pelo grande equilíbrio entre a massa e o vazio e a
valorização do contato entre o espectador e a presença da matéria escultórica”, afirma Vera. Para o crítico de arte Ronaldo Brito, Serra permanece fiel à noção de escultura como o pensamento adequado à experiência física da presença, à investigação da participação material do homem no mundo. “Suas enormes placas de aço e desenhos negros pesados exibem uma concisão inesperada peculiar aos aforismos, a mesma linguagem lapidar com um amplo escopo, o mesmo senso de humor ocasionalmente cáustico”, diz Brito.
Como artista emergente nos inícios da década de 60, Serra contribuiu para mudar a natureza da produção artística, seguindo influências da arte povera e do minimalismo. Nessa década, iniciou experiências com
combinações invulgares de materiais e técnicas (como borracha, metais e lâmpadas). Em 1970, conseguiu o equilíbrio exato entre as placas de aço, apoiadas entre si sem a ajuda de um suporte externo, o que permitiu a transição para uma concepção da escultura. Uma vez imersa no espaço real do espectador, a escultura cria uma nova relação com o observador, cuja experiência fenomenológica de um objeto se converte em essencial para compreender seu significado.
Nas duas últimas décadas, Serra dedicou-se fundamentalmente a obras de grande escala e de lugares específicos, que geram o diálogo com seu entorno arquitetônico, urbano ou paisagístico concreto e, dessa forma, redefinem esse espaço e a percepção do espectador. Donaldo Schüler, consultor acadêmico do Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem, acredita que o minimalismo de Richard Serra, nascido em ambientes fechados, atravessa paredes em busca de espaços abertos, de lugares freqüentados.
“As esculturas monumentais de Serra geram protesto, recurso a que recorre o escultor para dar sentido político à arte”, sentencia Schüler. Serra realizou uma única exposição no Brasil, a convite da curadora
Lynne Cooke, no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, entre 27 de novembro de 1997 e março de 1998. Lynne Cooke foi recentemente nomeada curadora-chefe do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, na Espanha. Foi co-curadora do Carnegie Internacional e diretora artística da Bienal de Sydney. Organizou inúmeras exposições na Europa, América do Norte e América Latina.
Entre suas várias publicações destacam-se seus recentes ensaios sobre Rodney Graham, Jorge Pardo, Diana Thater e Agnes Martin. É co-autora de Richard Serra: Torqued Ellipses e Richard Serra Sculpture: Forty Years.

Ação inusitada no Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem

Estúdio Nômade prepara intervenção artística para palestra de Philip Glass
Na segunda-feira, 1º de setembro, noite em que os alunos do curso de altos estudos Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem recebem o músico norte-americano Philip Glass, o Estúdio Nômade apresenta uma ação denominada Mínimas Fronteiras. De acordo com os artistas visuais que participaram da criação – Rômmulo Conceição e Tina Felice e os músicos Gustavo Telles e Diego Silveira –, Mínimas Fronteiras ilustra o encontro com Philip Glass na fusão entre a estética visual e a sonora.
A função, que será apresentada após a conferência, busca uma ação, um olhar para o minimalismo, um modo de intensificar a compreensão, uma releitura minimalista de um movimento instaurado. Não são respostas, mas sim possibilidade de novas perguntas. Convergindo a música em suporte e a atenção dos espectadores em discussão, ou simplesmente proporcionando um momento artístico integrado, o Estúdio Nômade promete algo inusitado para o décimo encontro do Fronteiras. “O projeto desafiou cada artista, obrigando-os a invadir o espaço do outro, transgredindo as mínimas fronteiras”, diz Rômmulo Conceição.
Para a concepção das fotografias conceituais do projeto, a mesma linha de criação da obra foi utilizada: a fusão de linguagens artísticas e a intervenção em espaços. Além da performance, o Mínimas Fronteiras entregará um livreto aos participantes e um site entrará no ar a partir do dia 1º de setembro

Lynch transcendental

Paula Bianca Bianchi
O público, mais jovem que o habitual, lotou o salão de atos da UFRGS na noite de domingo, 10 de agosto, para ver o cineasta David Lynch falar de meditação e cinema. Mais meditação do que cinema, como ficou claro ao longo da conversa de mais de uma hora. Divertido e informal, o autor de O Homem-Elefante (1980), Veludo Azul (1986) e Twin Peaks (1990) não revelou quem matou Laura Palmer mas fez questão de frisar os benefícios que a meditação transcendental trouxe para a sua vida. “Você fica mais feliz e menos estressado”, afirmou. “Ela é uma chave que abre a porta para o inconsciente, um lugar onde podemos ser realmente criativos.”
Praticante da técnica há 35 anos, Lynch lançou ontem no Brasil o livro Em Águas Profundas – Criatividade e Meditação (Ed. Gryphus), onde explica a influência que o método tem sobre a sua criação cinematográfica. A fundação David Lynch tem entre seus pressupostos divulgar a técnica, criada pelo indiano Maharishi Mahesh Yogi em 1959. Questionado sobre o ar sombrio dos seus filmes e a felicidade que diz experimentar o cineasta sorriu. “Você não precisa levar um tiro para filmar uma cena de assassinato. Quanto mais nós sofremos, menos nós podemos ser criativos”.O mediador até tentou aprofundar a conversa na obra do autor, mas Lynch veio para divulgar a meditação transcendental, e foi o que fez.
“Há pesquisas científicas que comprovam o bem que a meditação faz. A pessoa descansa três vezes mais do que quando está dormindo”, declarou.
Quando o cantor folk Donovan Leitch, que viajou com o Beatles à Índia em 1968 e hoje divulga a meditação transcendental pelo mundo, subiu ao palco boa parte do público começou a abandonar o salão de atos. O objetivo: estar entre os primeiro a receber um autógrafo de Lynch. Antes mesmo de a conferência terminar a fila já alcançava os portões da UFRGS.
Quanto aos projetos futuros, o cineasta disse que por enquanto não pensa em filmar nenhum longa-metragem. “Não me preocupo com isso. Me dedico à pintura, à música e viajo.”
Por fim, Lynch voltou ao palco e junto com a editora brasileira do livro leu um breve poema em que terminava desejando a todos paz. “Se todos meditassem, o mundo já estaria em paz”, declarou.

Fronteiras do multiculturalismo

Alexandre Haubrich
Pontualmente às sete e meia da noite de 30 de junho, Ayaan Hirsi Ali, aquela mulher negra, de traços fortes subiu ao palco da Reitoria da UFRGS. Vestida com um terninho bege que delineava sua silhueta elegante ela abriu o quinto encontro do Fronteiras do Pensamento Copesul Braskem.
Nascida na Somália, viveu no Quênia, Arábia Saudita e Holanda, onde foi ativista política dos direitos humanos das mulheres e se elegeu deputada. Hoje mora nos Estados Unidos sob forte esquema de segurança, depois de ser ameaçada pelos assassinos do cineasta holandês Theo Van Gogh, com quem realizou o documentário “Submissão – parte 1”, no qual denunciavam a exploração feminina por fiéis islâmicos.
O tema foi abordado pela primeira vez em seu livro “Infiel” (Companhia das Letras, R$ 51,50), que conta sua experiência de vida em um continente onde o machismo assume traços cruéis – inclusive da mutilação genital.
Sua participação no Fronteiras do Pensamento não fugiu do assunto. Na tribuna, Ayaan narrou a história de Nasra, uma garota somali que ela conheceu quando trabalhava como intérprete na Holanda.
A narração da chegada de Nasra, seus sete irmãos e seu pai à Holanda transpareceu o mesmo deslumbramento com o Velho Continente quer fica latente em “Infiel”. “O aeroporto holandês era como uma cidade. A coisa mais surpreendente foi a mudança na população. Antes, todos eram negros, agora eram brancos”, relatou.
Ayaan lembrou a preocupação do pai de Nasra, de que aquela, era uma terra de infiéis o que significava dificuldades de manter a cultura africana. A previsão do muçulmano se confirma e, assim como aconteceu com Ayaan, a garota perde sua identidade, envolvida pelo efeito fantástico do consumo e do glamour europeu.
Ayaan criticou aqueles que condenam seu abandono da cultura milenar africana, e sua defesa da sociedade européia. “Nem as tradições nem as culturas merecem respeito. Apenas o que vai de encontro ao bem-estar do ser humano. Se as culturas entram em conflito com o bem-estar individual, este deve prevalecer”, acredita.
Renato Mezan contra a política do multiculturalismo
Maior especialista brasileiro na obra de Freud, o psicanalista Renato Mezan abriu mão do seu tema tradicional para seguir a linha da palestra que o antecedeu, trazendo novamente pontos discutidos por Ayaan Hirsi Ali, especialmente a identidade cultural.
O psicanalista disse que a imposição do multiculturalismo causada pela expansão do Islã e a chegada de muitos muçulmanos ao Ocidente assemelha-se ao que ocorreu com os judeus no século XIX. “A assimilação de uma nova cultura pode trazer dificuldades, inclusive psicológicas, para todos os lados envolvidos”, alertou.
Mezan contou que, já no século XIX, a Europa começava a disseminar sua cultura nos países colonizados, o que, segundo ele, levou às guerras de independência, mas também à modernização.
“Hoje, os judeus já assimilaram a cultura ocidental. Esse deve ser o caminho para os muçulmanos”, avalia.
Aliás, o ponto em que o palestrante mais se deteve foi exatamente a assimilação da cultura local pelos imigrantes, usando como exemplo a história narrada pela somali Ayaan.
“Quem deve cuidar para que as tradições somalis sejam mantidas é a família, não o Estado holandês. Se está na Holanda, tem que se integrar, viver como holandês”, defende.
O psicanalista ainda comparou a situação com a colonização alemã e italiana no Rio Grande do Sul, onde, segundo ele, os imigrantes conseguiram manter algumas de suas tradições, transformadas posteriormente em folclore, sem depender do Estado. “O Estado não pode colocar-se na tarefa de proliferar as minorias culturais”, concluiu