Gatos, gambás e papagaios retardam reforma do Araújo


Mesmo com a licença concedida há mais de 20 dias, a reforma do auditório Araújo Vianna não pode começar. Nem os tapumes podem ser instalados enquanto não forem removidos os animais que habitam o prédio, abandonado há quatro anos. São dezenas de gatos, uma família de gambás, quatro ninhos de papagaios e muitas caturritas.
Na Secretaria Municipal de Cultura, a expectativa é de que o problema se resolva na semana que vem depois de uma reunião, ainda não marcada, com o vice-prefeito José Fortunati, que coordena a elaboração de uma política municipal para os animais de rua. Estão envolvidos nessa discussão várias ongs defensoras dos animais e representantes de 12 secretarias.
Em março deste ano, quando apresentou à imprensa o projeto de reforma do auditório Araújo Vianna, o secretário de Cultura, Sérgius Gonzaga, informou que Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU), que envolve vários órgãos do poder municipal, estava em fase final e previu para “meados de abril” a liberação para o início da obra.
O EVU já foi liberado, mas como o parque é tombado subsistem pendências com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, sendo a principal delas essa dos animais que se instalaram no prédio.

Cinco gatinhos em perigo

O telefone tocou insistentemente na redação. Eram moradores de um edifício da rua Paisandu querendo que alguém vá resgatar cinco gatinhos – é a tão perseguida interatividade do leitor com o seu jornal favorito.

Nossa reportagem foi lá. Deu pra constatar que alguém sem coração anda por aí. Alguém com coragem para abandonar cinco gatinhos no meio de um monte de lajotas frias no estacionamento do edifício 305 da rua Paisandu, no Partenon.
Os bichos estão lá desde que nasceram, quase no início de maio. Veio o frio, e os cinco gatinhos ali, aninhados em si mesmos, entre as pedras. Foi a empregada de um morador que descobriu a ninhada – ouviu o choro e mandou o patrão, seu Erno, conferir.
Em todos estes dias desde a descoberta da ninhada poucos viram a mãe dos bichanos: a velha gata mãe deles é uma vadia que aparece de vez em quando pra lhes oferecer as tetas. Bem ou mal, não dá pra dizer que eles estejam abandonados, porque estão gordinhos.
Seu Erno botou apenas um pedaço de pano branco do tamanho de um guardanapo para que eles fiquem em cima. A filha dele se condoeu dos bichinhos e apenas uma vez em 15 dias levou pra eles um pires de leite – sua única refeição humana neste início de vida.
Nossa repórter não conseguiu apurar o sexo dos gatinhos – não foi possível levantar nenhum deles pra saber se tinha pipi. Ela notou as cores. Um é branco, outro é preto, dois malhados cinza com preto e o último é cinza.
Na visita da nossa repórter hoje à tarde deu para notar que o branquinho não se mistura com os irmãos – e os quatro, mais espertos, se encostam uns nos outros pra ganhar calor.
Um depoimento sobre a mãe, dada pelos moradores do prédio: ninguém conhece a gata pessoalmente. Sabem que ela é arisca, que rola pelos muros da redondeza em busca de comida. O pai, ninguém sabe quem é.
Os gatinhos parecem gostar de ficar atrás das pedras – pra tirar uma foto deles foi preciso meter a mão no buraco.
Seu Erno quer que alguém de alguma entidade defensora de animais passe por lá e recolha a bicharada, antes que a vizinhança de canse deles e jogue tudo na calçada pro caminhão do lixo. (Com reportagem de Daniela de Bem)

Gatos vencem batalha da Redenção

Vice-prefeito José Fortunatti garante que ninguém vai tirar a bicharada do parque.

Dirigentes de várias ongs de proteção animal estiveram reunidos quinta pela manhã com o vice-prefeito José Fortunatti e o secretário do Meio Ambiente Professor Garcia, assim como representantes da administração do parque, para decidir o futuro dos gatos e cachorros que são abandonados no local. Pelo menos um ponto ficou claro: o poder público não pretende remover ou exterminar os animais. Palavra de Fortunatti, “bicheiro” de longa data.
Mas as reivindicações da ong Movimento Gatos da Redenção, que atua há mais de 10 anos e já tratou e encaminhou para doações responsáveis mais de 1000 animais resgatados ali, ficaram pendentes de promessas vagas. Sim, os voluntários podem continuar alimentando os animais (o que fazem de seu próprio bolso), desde que em novos locais delimitados pela administração. Podem continuar usando, provisoriamente, um pequeno espaço como recinto de quarentena para filhotes e adultos debilitados. E podem, é claaaaro, continuar higienizando, esterilizando, curando e doando os animais, com seus próprios recursos, atividade voluntária sem a qual hoje a superpopulação de gatos e cachorros no parque seria caótica.
O MGR quer porém um compromisso formal e público, estabelecendo o cumprimento de três pontos:
1.Local seguro, funcional e garantido para a casa de passagem (abrigo provisório até a adoção).
2.Material de divulgação alertando contra o abandono de animais (que é crime) e pela posse responsável.
3.Treinamento dos guarda-parque para vigilância contra o abandono.
Despejo
A polêmica em torno dos gatos e cães deixados no parque e atualmente sob guarda das ongs começou no final de março, quando o MGR foi comunicado que deveria desocupar o local onde mantinha 16 filhotes em tratamento, concessão da administração anterior. Também foram ordenadas várias medidas que dificultavam o trato dos animais, como restrições aos locais de alimentação. As justificativas: higiene do parque, e possíveis contaminações da fauna silvestre por doenças dos felinos, suposição derrubada por laudo veterinário apresentado na reunião.
A comunidade de ativistas pela causa animal iniciou então uma campanha de e.mails de apoio, a partir do site do GAE – Grupo pela Abolição do Especismo – que chegou às 2.500 mensagens, enviadas ao poder público e mídia. O resultado foi o agendamento da reunião de hoje, onde a rigor, tudo ficou como está. Ficar onde estão, no entanto, já significa uma grande vitória para os animais provisoriamente abrigados no parque.