Os 47 anos do golpe de 1964 serão lembrados no seminário Memória, Verdade e Justiça: Marcas das Ditaduras do Cone Sul , dias 30 e 31 de março e 1º de abril, em Porto Alegre.
O evento é promovido pela Escola do Legislativo, da Assembléia gaúcha, pelas secretarias estaduais da Administração e da Cultura, e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Participarão das mesas Maria do Rosário, Ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos; Raul Pont, deputado estadual; Luis Puig, deputado uruguaio; Sereno Chaise, prefeito da Capital cassado em 1964; Antenor Ferrari, ex-presidente da Assembleia Legislativa; Suzana Lisbôa, integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos; Estela de Carlotto, presidente da Asociación Abuelas de Plaza de Mayo; Camilo Casariego Celiberti, filho de Lilián Celiberti, sequestrado em Porto Alegre em 1978; e Edson Teles, sequestrado em 1972.
No dia 30, o seminário começará no Memorial do Rio Grande do Sul (Rua Sete de Setembro, 1020, Centro), às 18h30. No dia 31, segue no Plenarinho da Assembleia (Praça Marechal Deodoro, 101, Centro), també, a partir das 18h30. No dia 1º de abril, termina no Salão de Atos II da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110, Centro), às 18h. As mesas serão precedidas por manifestações culturais. Todas as atividades são gratuitas e abertas à comunidade.
Programação:
30 de março, no Memorial do Rio Grande do Sul
18h30 – Pocket show: Cale-se: as músicas censuradas pela ditadura militar, promovido pelo Teatro de Arena
19h – Mesa: “Ditaduras de Segurança Nacional: o Sequestro de Crianças”
Convidados:
Camilo Casariego Celiberti
Edson Teles
Exibição de Documentário
Mediação: Ananda Simões Fernandes, Historiadora do Arquivo Histórico do RS
31 de março, na Assembleia Legislativa (Plenarinho)
18h30 – Apresentação musical: Raul Ellwanger, músico e compositor
19h – Mesa: “Memórias da Resistência no Rio Grande do Sul”
Convidados:
Raul Pont
Sereno Chaise
Antenor Ferrari
Mediação: Cesar Augusto Guazzelli, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UFRGS, e Jeferson Fernandes, deputado, presidente da Escola do Legislativo
1º de abril, na UFRGS (Salão de Atos II)
18h – Intervenção teatral: Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
19h – Mesa: “Memória, Verdade e Justiça: Os Direitos Humanos e os Deveres do Estado”
Convidados:
Maria do Rosário
Suzana Lisbôa
Estela de Carlotto
Luis Puig
Mediação: Enrique Serra Padrós, professor do IFCH/UFRGS
OS PAINELISTAS
Antenor Ferrari – Advogado, deputado estadual pelo MDB, presidiu a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a primeira do Brasil, criada em 1980. Também foi presidente da Casa em 1983.
Camilo Casariego Celiberti – Filho de Lilián Celiberti, sequestrada em 1978 em Porto Alegre num operativo Condor que congregou o aparato repressivo uruguaio e brasileiro, conhecido como “o sequestro dos uruguaios”. Depois da denúncia do jornalista Luiz Cláudio Cunha e do fotógrafo J.B. Scalco, a operação foi desmanchada. Camilo (sete anos) e sua irmã Francesca (três anos) também foram sequestrados e levados para o Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul (Dops/RS). Camilo teve um papel decisivo ao confirmar o local do seu cativeiro em Porto Alegre: reconheceu o Arroio Dilúvio, que ele via do segundo andar do prédio da Secretaria de Segurança Pública, onde funcionava o Dops.
Edson Telles – Professor de Ética e Direitos Humanos do curso de Pós-graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo. Filho e sobrinho de presos políticos, aos quatro anos de idade foi sequestrado e levado para as dependências do Doi-Codi de São Paulo, juntamente com sua irmã, Janaína (cinco anos), e sua tia, Criméia de Almeida, grávida de oito meses. As crianças ficaram presas durante dez dias no centro de repressão, assistindo às sessões de tortura as quais seus pais foram submetidos. Em 2008, a família Almeida Teles ganhou na Justiça a ação declaratória contra o chefe do Doi-Codi/SP, Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Estela de Carlotto – Presidente da Asociación Abuelas de Plaza de Mayo. Sua filha foi sequestrada e enviada a um centro de detenção clandestino quando estava grávida de três meses. O corpo de sua filha lhe foi devolvido. Seu neto, no entanto, não lhe foi entregue. Até hoje, Estela segue em sua busca. A ditadura argentina sequestrou e expropriou a identidade de mais de 500 crianças. Até o presente momento, cerca de cem crianças tiveram suas identidades restituídas.
Luis Puig – Sindicalista, secretário de Direitos Humanos do Plenario Intersindical de Trabajadores – Convención Nacional de Trabajadores (PIT – CNT). Representante da CNT na Coordenação Nacional pela Anulação da Ley de Caducidad (lei de anistia similar à brasileira) e deputado do Partido por la Victoria del Pueblo (PVP), pela Frente Ampla.
Raul Pont – Deputado Estadual pelo PT. Historiador, foi líder estudantil e presidiu o DCE Livre da UFRGS, em 1968. Foi perseguido pela ditadura brasileira. Participou da fundação do jornal Em Tempo. Fundador do PT, atuou como deputado estadual constituinte, deputado federal e prefeito de Porto Alegre (1997-2000).
Sereno Chaise – Advogado e trabalhista histórico, foi cassado pelo Golpe Civil-Militar em 1964, quando era prefeito de Porto Alegre. Foi deputado estadual entre 1959 e 1963 pelo PTB. Foi um dos fundadores do PDT.
Suzana Keniger Lisbôa – Integrante da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos. Seu marido, Luiz Eurico Tejera Lisbôa, foi o primeiro desaparecido político da ditadura a ser reconhecido oficialmente pelo Estado como assassinado pelo sistema repressivo.
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33 anos sem Jango
“Sob a miséria do povo não se constrói a paz social”
(João Belchior Marques Goulart)
A semana que passou foi marcada por homenagens à memória de meu avô João Goulart em praticamente todo o Rio Grande do Sul.
Peço permissão ao leitor para, ao menos neste texto, referir-me ao Presidente João Goulart apenas como meu avô. Em São Borja, na Fronteira Oeste, na Capital e em muitas cidades, seu sacrifício em prol da pátria foi saudado com reverência.
Sem dúvida, um herói da República, a quem, gradativamente, o Brasil reforça o reconhecimento ao seu legado político reformista.
Jango foi um injustiçado. Um líder de vanguarda. Um fazendeiro próspero de São Borja, que teve a coragem de contrariar os interesses econômicos de sua própria classe ao propor uma reforma agrária capitalista em nosso país. Mas ele foi além. Seu projeto de nação, amparado nas reformas estruturais e institucionais do Estado brasileiro, visava uma mudança profunda na concepção de interesse público.
Meu avô sonhou que, para lograr um desenvolvimento soberano em nosso país, com reais chances de ser considerado “primeiro mundo”, uma consciência coletiva deveria ser aplicada na prática.
Por isso transcendeu ao discurso e ousou comprometer-se publicamente com as conhecidas reformas de base, no maior comício registrado na história nacional, em 13 de março de 1964.
Sonhou com a efetiva justiça social, contrariando interesses das elites dominantes que mandam até hoje no Brasil. Morreu pela pátria, na solidão do exílio, no dia 6 de dezembro de 1976. Não é pouca sorte lutar e morrer pela pátria, em busca da realização de um sonho libertário.
Passados 33 anos do assassinato de meu avô no exílio – ele começou a morrer lentamente quando foi forçado a deixar sua terra natal – saudamos a sua luta.
Esse é o nosso compromisso. O legado de meu avô não será em vão. Podem ter silenciado sua voz, através de sua morte programada por uma conspiração dos serviços secretos do Brasil, Uruguai, Argentina e Estados Unidos, mas jamais calarão o sentimento transmitido de geração para geração.
Sua lição transforma-se em caminho a ser seguido, neste momento tão singular da perda de valores éticos e morais que atravessa o nosso país.
Momento de tantos exemplos negativos para as novas gerações, descrentes dos políticos e sem esperanças, que não conheceram o passado dos que, como meu avô, tombaram no caminho da liberdade, democracia e justiça social.
Por tudo isso reafirmamos nosso pacto de continuar lutando por um país que ofereça oportunidades iguais a todos os brasileiros. Continuamos a escutar a voz de Jango!
Jamais esqueceremos as palavras pronunciadas por meu avô, no comício do dia 13 de março de 1964: “… quero dizer que me sinto reconfortado e retemperado para enfrentar a luta que tanto maior será contra nós quanto mais perto estivermos do cumprimento de nosso dever.”
Jango Vive!
Christopher Goulart
Presidente da Associação Memorial João Goulart