Guerra ao tráfico: o que fazer com o usuário?

O sociólogo Dillon Soares, de 76 anos, se dedica há 35 ao estudo da criminalidade urbana. É professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).
Sua análise das ações militares contra o narcotráfico no Rio de Janeiro não revela grande otimismo, embora reconheça que um passo importante foi dado.
Segundo o especialista, os ataques até agora foram direcionados as áreas controladas por uma das faccções criminosas que controlam o tráfico de drogas no Rio, o Comando Vermelho. Não representam, portanto o controle sobre o crime organizado na cidade.
Para ter resultados mais efetivos o governo deve avançar com outro tipo de medidas. O professor Soares sugere que o governo brasileiro siga o exemplo do governo de Álvaro Uribe (2002/2010) na Colômbia.
“É o que chamo de de uma proposta de rendição: os soldados do tráfico, os integrantes das facções, se integrariam na sociedade, como esquecimento dos crimes passados, em troca do abandono das armas”.
O governo colombiano ofereceu perdão para os crimes cometidos e até uma bolsa de 180 dólares para garantir sua reinserção de bandidos na sociedade.
Em três anos, conseguiu que 13 mil pessoas entregassem suas armas, principalmente milicianos. No Rio, a questão das milícia ainda não foi atacada.
Quando à ação dos bandidos, diz o especialista que não é inédita a ofensiva que deu origem à reação do governo. Nos últimos anos, desde 2000, mais de 800 ônibus incendiados no Rio, com as ocorrências sempre ligadas à prisão, remoções e mortes de traficantes.
“O que chamou atenção agora foram os ataques em diversos pontos da e uma concentração menor no tempo, o que indica uma coordenação, mas uma coordenação de grupos fragilmente organizados. É um erro pensar as facções como empresas com linhas hierárquicas organizadas. Elas se conectam fragilmente. Vem uma ordem e cada um age do jeito que pode”.
Para Soares, uma das conseqüências inevitáveis dos eventos no Rio é a volta certos temas ao debate, como o fim da maioridade penal aos 18 anos.”A linha dura contra a bandidagem vai ganhar muito terreno”, diz ele. O grupo de intelectuais “foucaultiano” (seguidores do filósofo francês Michel Foucault) que desconfia das instituições e se alinhou com o que se convenciona chamar de política de direitos humanos, sai disso tudo muito enfraquecido”.
A questão mais polêmica que vai se colocar daqui pra frente, segundo Soares, é a questão do usuário. Ele diz:
“Esse é o grande problema: o que fazer com o usuário de drogas. As opções estão ganhando uma definição nítida: ou libera-se ou crimininaliza. Mas fumador de crack das ruas e os que fumam maconha nas redações, nas universidades, nas repartições pública precisam receber o mesmo tratamento”. (Entrevista ao Valor Econômico)