"Brasil pode dobrar produção sem tocar na Amazônia"

Entrevista com Luiz Fernando Cirne Lima
POR Geraldo Hasse
Dificilmente se encontra no Brasil de hoje uma autoridade técnica tão qualificada quanto o ex-ministro Luiz Fernando Cirne Lima para falar sobre o cruzamento da agricultura de grãos com a criação de gado, um dos assuntos do momento no mundo dos negócios rurais.
Aos 81 anos, ele já doou a fazenda em Dom Pedrito (RS) para os filhos, mas continua trabalhando como consultor e palestrante em zootecnia – sua maior especialidade, desenvolvida desde meados dos anos 1950 como livre docente da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, primeiro cargo de uma carreira brilhante.
Com pouco mais de 30 anos, Cirne Lima foi o primeiro brasileiro a julgar bovinos de raça na Inglaterra, berço da genética que deu impulso à pecuária do sul da América.
Era presidente da poderosa Farsul em 1968 quando a Secretaria da Agricultura decidiu fazer a primeira Expointer em Esteio, abandonando o parque do Menino Deus, no centro de Porto Alegre, onde desde o início do século XX se realizavam as exposições da pecuária gaúcha.
Como ministro da Agricultura no período 1969/1973, assinou a lei da fundação da Embrapa, um dos vetores do boom da soja no Brasil.
Neste depoimento, Cirne Lima fala não apenas da história da Expointer, mas do futuro do agronegócio brasileiro. “Podemos dobrar nossa produção sem tocar na Amazônia”, diz ele, sintetizando a confiança no desempenho dos agricultores brasileiros.
“A EXPOINTER ESTÁ NUMA ENCRUZILHADA”
O senhor se lembra do início da Expointer?
CIRNE LIMA – A Expointer nasceu no fim da década de 60, quando as exposições estaduais do Rio Grande do Sul, que eram apenas feiras de gado, tornaram-se praticamente inviáveis diante das limitações do parque de exposições do bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Havia ali quatro hectares da Secretaria da Agricultura. Era um parque muito bonito, muito bem conservado pelo governo do Estado. Os criadores faziam uma exposição de bom nível técnico em termos regionais, mas muito limitada em termos nacionais e diante dos países vizinhos, que historicamente nos forneciam reprodutores.
Como se deu a mudança?
CIRNE LIMA – A mudança ocorre depois que o primeiro brasileiro é convidado a julgar na Inglaterra e um grupo de criadores o acompanha para visitar a Royal Show…
Quem foi esse brasileiro?
CIRNE LIMA – Eu.
Quantos criadores gaúchos visitaram a exposição inglesa?
CIRNE LIMA – Uns 10 ou 12. Na volta ao Brasil, já havia um pensamento dominante: “Temos de sair do parque do Menino Deus e procurar um outro local”. O secretário da Agricultura era Luciano Machado, um bacharel em direito que havia sido um brilhante deputado federal. Ele era muito identificado com o setor agropecuário e acatou a mensagem trazida pelos visitantes da Royal Show. Isso significava uma mudança na própria concepção da exposição.
O que significa “mudança na concepção”?
CIRNE LIMA – No parque de Porto Alegre não se podia fazer mais do que uma exposição de animais. A Royal Show era uma feira de 55 hectares em que a pecuária ocupava apenas um segmento dessa enorme exposição, no centro geográfico da Inglaterra, perto da cidade natal de Shakespeare. A maior parte da área era para exposição de máquinas agrícolas e demonstração de tecnologias pecuárias e agrícolas.
O secretário Luciano Machado e uma comissão de produtores, uns três ou quatro, entre eles Dorval Ribeiro e Lauro Macedo, começaram a procurar um local e logo se fixaram numa propriedade da família Kroeff,  em Esteio, junto à BR-116, defronte à refinaria Alberto Pasqualini, da Petrobras. Como era amigo da família Kroeff, não participei da negociação. Mas o parque de Esteio, com 141 hectares, é fruto do trabalho de Luciano Machado e do veterinário-sanitarista Evelino Arteche, então diretor de produção animal da Secretaria da Agricultura.
É verdade que muita gente foi contra a transferência da feira de Porto Alegre para Esteio?
CIRNE LIMA – A realização da primeira Expointer foi muito polêmica porque algumas pessoas consideravam que a mudança fora precipitada. Naquela época se achava que Esteio era longe demais. Alguns criadores se negaram a expor seus animais. É verdade que faltava concluir caminhos dentro do parque e havia pistas de exposição em situação precária, mas desde a primeira vez se fez ali uma exposição diferente, com muitas máquinas e estandes de tecnologia agrícola. E o fato é que a Expointer se transformou num grande sucesso, é uma das maiores do mundo, sem dúvida a maior da América do Sul, em amplitude. Se existem hoje no mundo cinco grandes centros de negócios agrícolas, a Expointer é uma delas. A Royal Show, que foi modelo, não se realiza mais no mesmo local por causa dos custos. Hoje na Inglaterra se realizam exposições menores no interior.
No momento o parque de Esteio está em crise existencial: ser ou não ser um grande recinto de exposições…
CIRNE LIMA – Hoje o parque de Esteio precisa encontrar um modelo para administrar esse espaço que, fora a Expointer, é pouco utilizado ao longo do ano. A Expointer dura dois fins de semana. Os outros eventos do correr do ano não utilizam toda a potencialidade do parque, que se tornou um patrimônio público pouco aproveitado.
Fala-se muito em parceria público-privada.
CIRNE LIMA – Não tem outro caminho senão esse. Tem que se achar uma vocação a fim de dinamizar o parque. Hoje já existem umas tentativas. Muitas associações de criadores têm sede ali durante o ano, mas isso é pouco para o tamanho da área, a infraestrutura de energia elétrica e fornecimento de água.
É uma “cidade” que fica vazia a maior parte do ano.
CIRNE LIMA – Tem-se que achar um modelo de gestão. A Associação dos Criadores de Cavalos Crioulos está fazendo um projeto de ter lá dentro uma pista coberta para utilizar mais vezes durante o ano. É um desafio. Até agora Esteio cumpriu largamente sua missão como difusor de tecnologia, mas está numa encruzilhada.
Apesar da crise existencial do parque, a Expointer continua batendo recordes todos os anos.
CIRNE LIMA – A Expointer é muito representativa do momento que vive o agronegócio como um todo. A exposição de máquinas agrícolas de Esteio é um verdadeiro “salão do automóvel” da maquinaria agrícola do Brasil. Ainda que tenhamos em Não-Me-Toque uma exposição excepcional de tecnologia e de máquinas agrícolas, a Expointer é a grande feira brasileira de lançamentos de máquinas, novos modelos etc.
O fato de estar dentro da Grande Porto Alegre é uma vantagem?
CIRNE LIMA  – Historicamente, para o então chamado setor produtivo, a Expointer tinha um objetivo subliminar – servir como um ponto de encontro cidade-campo. Em 1970, a população brasileira estava distribuída meio a meio no campo e nas cidades, mas não havia uma integração, principalmente no aspecto psicológico. O citadino enxergava o rural como um elemento menos qualificado, menos educado etc.
JUNTO COM A EXPOINTER, OCORREU A ASCENSÃO DA SOJA
O senhor acha que houve uma integração cidade-campo?
CIRNE LIMA – O objetivo subliminar foi alcançado. No início a Expointer era visitada apenas pelas populações próximas de Esteio. Em seguida ela passou a ser visitada pela população de todo o Rio Grande. Hoje vêm ônibus de regiões longínquas que viajam 500 quilômetros para passar um dia no parque de Esteio. Num sábado ou domingo de sol entram na Expointer 150 mil pessoas. A Expointer contribuiu para uma melhor compreensão entre esses dois segmentos sociais. Hoje a população que trabalha na terra é altamente minoritária, mas a  aproximação se fez de maneira mais fácil e, sentimentalmente, mais favorável, mais simpática. Hoje se pode dizer que o citadino brasileiro é simpático ao homem rural. No máximo é indiferente, mas antagonismo ou antipatia…não vejo mais. Há 50 anos não era bem assim. A própria literatura tratava o homem rural pejorativamente.
Por coincidência, no início do parque de Esteio, a soja ensaiava sua expansão no Rio Grande do Sul.
CIRNE LIMA – No início dos anos 1950, quando me formei agrônomo, a soja era uma mera curiosidade para os estudantes. Naquela época a população consumia gordura animal. Havia um pouco de óleos vegetais – o linho incentivado pela indústria Renner e um pouco de girassol na região de São Borja e Itaqui, no oeste gaúcho. A substituição da gordura animal pelos óleos vegetais provocou uma revolução na suinocultura, que derivou para o porco-carne. Em 1970, a soja mal alcançava uma produção anual de um milhão e meio de toneladas, a maior parte no Rio Grande do Sul, mas já começava a se tornar uma lavoura industrial que se expandiria do sul do Brasil até o extremo norte. Aliás, dentro dessa revolução temos de colocar como geradora de tecnologia a Embrapa, fundada em 25 de abril de 1973.
Este ano a produção de soja chegou a quase 90 milhões de toneladas. Qual pode ser o teto para a expansão dessa lavoura?
CIRNE LIMA – Eu tenho dito que a soja está constituindo para o Brasil o mesmo que o milho foi para os Estados Unidos, mas a lavoura de soja não deve ser encarada isoladamente. Hoje é importante considerá-la ao lado do milho e do algodão como parte da integração lavoura-pecuária, que é a coisa mais importante hoje no agronegócio brasileiro.
Por que a integração lavoura-pecuária é tão importante?
CIRNE LIMA – Nós temos um rebanho bovino estimado em 190 milhões de cabeça e que utiliza uma área de 190 milhões de hectares, mas nossa pecuária não precisa dessa área toda. Talvez com a metade disso podemos manter nosso rebanho de forma produtiva. Naturalmente, a área dispensada pela pecuária poderá ser usada pela agricultura, que está concentrada em 72 milhões de hectares – 55 milhões de hectares de culturas anuais e 17 milhões de hectares de culturas permanentes. Os quase 90 milhões de toneladas de soja saem dessa área de lavouras anuais. Fora isso, ainda falta incorporar ao processo produtivo 70 milhões de hectares não utilizados nem para pastos nem para lavouras. São áreas espalhadas por todo o país e com problemas de uso, como encostas etc., mas parte disso pode virar produtiva. Hoje o incremento da produção de soja, milho e algodão está ocorrendo em áreas de pastagens degradadas. Dos 190 milhões de hectares de pastagens, 30 milhões são degradadas. A implantação de lavouras é barata, basta usar fertilizantes. É assim que podemos dobrar a produção do nosso agronegócio.
Sem tocar na Amazônia?
CIRNE LIMA – Na Amazônia tem 400 milhões de hectares que não precisam ser tocados. A ideia do desmatamento zero não é unânime no meio rural, mas tende a se tornar dominante.
Mas na Amazônia temos uma pecuária implantada com incentivos fiscais do governo…
CIRNE LIMA – O que aconteceu na Amazônia nos anos 60 e 70 tem que ser pensado de acordo com o pensamento de Ortega Y Gasset – “o homem e sua circunstância”. Naquele tempo, havia uma campanha para transformar a Amazônia em território internacional, patrimônio da humanidade… A reação brasileira foi grande, nasceu o projeto militar de estabelecer uma mínima ocupação humana da região e uma série de outras coisas, inclusive o Projeto Radam, que descobriu campos de aviação clandestinos etc. Nessa esteira foi feito um desmatamento irregular, nocivo e lamentável. A pecuária na Amazônia foi implantada de forma desordenada, mas do ponto de vista de política pública era impossível fazer diferente.

Cirne Lima no parque de exposições / Foto Divulgação ABCD
Cirne Lima no parque de exposições / Foto Divulgação ABCD

No cerrado a ocupação agrícola também foi feita de maneira predatória.
CIRNE LIMA – Na floresta amazônica houve abusos e os solos foram degradados porque os projetos eram menos tecnificados. No cerrado, os solos foram melhorados pela agricultura. A integração gado-soja é tremendamente importante. A soja faz uma rotação extraordinária.
O senhor considera positiva a entrada da soja em áreas de arroz do Rio Grande do Sul?
CIRNE LIMA – Eu como agrônomo não tenho vergonha de dizer que ainda não sei plantar soja. Na minha fazenda, que já passei para os filhos, produzimos 40 a 50 sacas de soja por hectare em terras de coxilha. Em terras baixas ainda não temos a tecnologia adequada, mas a Embrapa de Pelotas está mergulhada nisso. A gente precisa escolher a variedade certa, plantar na época correta, corrigir o solo… Há pouco fui dar uma palestra para agricultores em Santa Rosa, o berço da soja no Brasil. Na conversa depois do almoço, perguntei qual a expectativa deles para o rendimento da soja. Um produtor disse que um agrônomo que  produza menos de 70 sacas por hectare baixa a cabeça pra não passar vergonha. Esse mesmo produtor disse que a meta em Santa Rosa é chegar a 100 sacas por hectare ou, seja, 6 mil quilos.
Isso é o dobro da média regional.
CIRNE LIMA – No oeste do Mato Grosso, onde chove muito bem, estão colhendo 60 sacas por hectare, o que é mais do que se produz em Illinois e Iowa. Mas não podemos esquecer que os Estados Unidos produzem 330 milhões de toneladas de milho. Ou, seja, só de milho produzem quase o dobro do que o Brasil produz de grãos. E um terço do milho americano é usado para fazer etanol. Enfim, o Brasil se consolida como a segunda maior produção do mundo e tem áreas a incorporar ao processo produtivo. Todo isso sem tocar no bioma amazônico.
O Brasil não se tornou por demais dependente da soja?
CIRNE LIMA – De 180 milhões de toneladas de grãos que produzimos, 90 milhões são de soja. Sim, mais de 50% do valor é soja. Mas não vejo riscos. A mesma coisa acontece nos EUA, com o milho. A China, nosso grande mercado para soja, tem optado por produzir mais milho do que soja. Todos os programas de governo da China seguem anunciando compras de 10, 20, 30 milhões de toneladas por ano de soja. Os chineses não querem ficar dependentes dos EUA em milho. Em relação à China, acho que o Brasil tem 10 a 20 anos de tranquilidade. Se você considerar que todo ano 30 milhões de chineses entram no mercado consumidor, não há dúvida de que a soja brasileira vai continuar sendo comprada.
O Brasil vai continuar avançando na exportação de carne?
CIRNE LIMA – O Brasil é o maior exportador do mundo. Vende para 130 países. Conquistamos mercado vendendo carne barata mas estamos nos preparando para exportar carne mais cara. Em 1970 o rebanho brasileiro era de 80/90 milhões de cabeças. Chegamos a 190 milhões de cabeças graças a três elementos. Primeiro, a capacidade desbravadora do criador brasileiro. Segundo, os capins do gênero brachiaria tremendamente adaptados a quase todas as latitudes brasileiras. Terceiro, a raça bovina nelore, que se adaptou ao clima brasileiro e cruzou bem com todas as raças existentes no Brasil. O gado pé duro do Brasil Central ao norte, cruzado com o nelore, em duas gerações passou a produzir carne de boa qualidade.
Nesse contexto, qual o papel da pecuária do Sul?
CIRNE LIMA – O Rio Grande do Sul é uma região subtemperada dentro de um país tropical e se especializou em produzir uma carne diferenciada. Trabalhar sob extremos climáticos oferece dificuldades, mas o produtor gaúcho tem conseguido desenvolver coisas próprias como o trigo, a maçã, carnes, laticínios e a integração lavoura-pecuária, que começou no Rio Grande e virou um modelo para todo o Brasil. A experiência do Rio Grande do Sul mostra o quanto é importante a diversidade genética para produzir carne de boa qualidade. Veja o que aconteceu com as galinhas. Nos aviários industriais não se cria mais uma raça definida e, sim, o resultado de cruzamentos genéticos altamente sofisticados. Hoje você importa ovos de avós dos elementos produtivos. Nesses cruzamentos entram raças como a nossa carijó, nome nacional de uma raça inglesa chamado Plymouth Rock Barrach. A carijó tem alguns gens que fazem parte de um segredo comercial da avicultura. Quando a Embrapa foi fundada, um frango comia 4,5 quilos de ração para engordar um quilo. Hoje tem frango que come 1,1 kg para engordar um quilo. O progresso que houve nisso é uma coisa extraordinária. Nas raças bovinas é a mesma coisa.
PELA PRIMEIRA VEZ O ANGUS VENDEU MAIS SÊMEN DO QUE O NELORE
Mas como se explica o recente sucesso comercial da raça angus?
CIRNE LIMA – A explicação para o sucesso da raça aberdeen angus está no esforço brasileiro para deixar de vender carne barata e vender carne mais cara. No ano passado pela primeira vez no Brasil o angus passou o nelore em venda de sêmen. É quase inacreditável. Há dez anos atrás ninguém seria capaz de imaginar isso. As raças angus, devon e hereford predominam nos cruzamentos que buscam carne mais macia. Mas, das raças inglesas, o angus é especializado em produção de carne de alta qualidade. Ele não tem o tamanho do hereford, a conformação perfeita do shortorn, não tem a velocidade de crescimento do charolês. Mas a qualidade de carcaça é o apanágio do angus, que levou 100 anos para chegar nisso.
Há quem diga que é mais um fenômeno de marketing.
CIRNE LIMA – Os pioneiros do angus pareciam visionários há 50 ou 60 anos, quando eu comecei minha vida profissional. Eles diziam que um dia o angus teria qualidade de carne e ia vender bem. Hoje já existem preços diferenciados para essas carcaças – cruza angus, cruza devon, cruza hereford.
O que aconteceu no Brasil com aquela beleza – o shortHorn?
CIRNE LIMA – É o mais perfeito, na conformação, mas é pouco rústico, acumula muita gordura, não tem a fertilidade dos outros…
E por que o charolês saiu de moda?
CIRNE LIMA – O charolês tem velocidade de crescimento e peso vivo. Não acumula gordura. Sua carne seca não dá bom assado de grelha ou de fritura. A carne de charolês é boa pra caçarola, especialidade da cozinha francesa.
Mas o charolês esteve na moda no Rio Grande do Sul…
CIRNE LIMA – Houve um momento em que o charolês vendia mais do que o angus para cruzar com o nelore. Na década de 70, sem dúvida. Naquela ocasião se queria carne e tamanho. Hoje se quer qualidade de carne para vender por preço melhor. O charolês está esquecido, mas vamos matar tudo que é gado branco? Nada disso, é uma genética para dar tamanho que, amanhã ou depois, pode ser útil.
É verdade que a vaca charolesa tem maior dificuldade para parir?
CIRNE LIMA – Sim, por causa do tamanho dos filhotes, por isso é preciso selecionar animais de cabeça pequena para não dar problema de parto. No Mato Grosso do norte, aquelas criações de 10 mil vacas no pasto…Imagine ter de atender vaca, puxar bezerro. Impossível. Aqui no Rio Grande do Sul, numa fazenda de 30 vacas, o proprietário vai lá e puxa o bezerro, mas lá em cima morrem a vaca e a cria, não é? Como zootecnista, digo que o charolês tem que ser conservado porque pode ser necessário. Porque décadas atrás o angus estava numa situação muito pior do que o charolês hoje. Muito pior. O angus parecia um deleite de meia dúzia de fazendeiros ricos que criavam aqueles animais apostando que um dia haveria remuneração por qualidade de carne. E houve.
LEMBRETE HISTÓRICO
LF Cirne Lima
“A pecuária brasileira começa em 1532 com a introdução por Martim Afonso de Souza das primeiras cabeças de gado trazidas de Portugal para a capitania de São Vicente, de onde Álvaro Nunez Cabeza de Vaca difunde o gado para o interior do continente. No Rio Grande do Sul a pecuária começa com os jesuítas em 1632. Os padres Cristóvão Jacques e Pedro Mendonça atravessam gado vicentino da Argentina para as Missões. A pecuária se expande graças às boas condições mesológicas da metade sul do Rio Grande do Sul e se espalha por esse território que vai até as margens do Prata, hoje o Uruguai. As lutas fronteiriças tinham por objetivo o gado, que era o alimento para as tropas. Daí a noção de que muitos dos nossos guerreiros eram ladrões de gado. Na verdade o gado era o grande produto econômico da região. E os cavalos eram armas de guerra, máquinas vivas. Cavalos e gado são os móveis da Expointer.”