PERFIL – Marcello Chiodo: do salão de beleza à Câmara

Por Marcelo Gigante Ortiz

Ele foi o último a chegar ao legislativo da capital. Após ficar com a terceira suplência do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o cabeleireiro Marcello Chiodo assumiu uma vaga na Câmara de Vereadores de Porto Alegre graças à saída de Elói Guimarães (PTB) para o executivo estadual. Admirador de Zambiasi e criador do projeto “Beleza ao Alcance de Todos”, Chiodo conseguiu se eleger em sua terceira candidatura.
O trabalhista de 40 anos fez 3401 votos na eleição de 5 de outubro e ficou em oitavo lugar entre os candidatos do PTB, partido que elegeu cinco vereadores. No dia em que os eleitos foram empossados, Maurício Dziedricki (PTB) e Dr. Goulart (PTB) pediram licença para assumir secretarias municipais, abrindo duas vagas. Chiodo era o terceiro suplente, portanto, ainda não era a vez dele.
Porém, a governadora Yeda Crusius chamou Elói Guimarães para a Secretaria Estadual da Administração e dos Recursos Humanos, abrindo mais uma vaga para os petebistas no legislativo municipal. Dessa forma, no dia 3 de fevereiro, Chiodo assumiu a sua cadeira, com promessas de ajudar os mais pobres, os idosos, os animais e a sua classe, os cabeleireiros.
O novo vereador é cabeleireiro há 20 anos. Após tentar, sem sucesso, ingressar nas faculdades de Administração de Empresas e Fisioterapia, ele começou a trabalhar com a mãe no salão dela. “Eu me apaixonei, nunca mais fiz faculdade nem nada e estou até hoje trabalhando de cabeleireiro”, conta o petebista, que disse sempre ter gostado de trabalhar com as mãos.
Foi atuando no ramo que o ariano de 1,77 e 80Kg conheceu sua esposa, com quem tem dois filhos, Marcelle, 15 anos, e João Gabriel, 8. “Conheci a minha mulher quando eu abri o meu salão de beleza. Ela era a minha secretária. Aí a gente casou”, comenta.
A preocupação com a aparência alheia se manifestou desde a infância no vereador. Ele diz que quando era pequeno implicava com o visual de um amigo seu. “Era Fernando o nome dele. Usava aquele cabelinho de príncipe que era todo redondinho, todo certinho. Eu achava aquilo horrível”, admite. De acordo com Chiodo, cortar o cabelo do amigo foi a sua primeira tarefa após se tornar cabeleireiro.
Bate-papo
Mas a clientela cresceu e através dela o cabeleireiro começou a conhecer alguns problemas da cidade. Como o salão de beleza é um bom lugar para o bate-papo, os clientes aproveitavam para comentar sobre problemas de calçamento, árvores que tinham que ser cortadas e tudo o mais. O vereador, inclusive, conta que foi após uma reclamação sua que a prefeitura resolveu abrir uma rua que atravessa a Borges de Medeiros pela Demétrio Ribeiro. A partir dos debates no salão, nasceu o interesse dele pela política.
Então, o petebista resolveu se candidatar a vereador em 2004 e, depois, a deputado federal em 2006. Mas antes de conquistar a vaga na Câmara em 2009, Chiodo iniciou o projeto social “Beleza ao Alcance de Todos”, um curso de estética realizado em vilas de Porto Alegre e um antigo desejo seu.
A intenção do projeto é proporcionar capacitação para o trabalho em salões de beleza a pessoas em situação de risco social. Para facilitar o ingresso dos alunos, ficou decidido que as aulas seriam dadas nas próprias comunidades. “As pessoas ficam conhecidas como cabeleireiras dentro da vila, vão criar uma clientela no próprio curso, vão abrir um salão perto de onde elas fizeram o curso, que é onde elas moram”, destaca Chiodo. Ele também cita a dificuldade em pagar o transporte como um impeditivo para que as pessoas se deslocassem.
Além de oito bairros, entre eles Belém Novo, Cohab Cavalhada, Glória e Lomba do Pinheiro, o projeto também foi realizado com meninas na exploração sexual e no presídio feminino Madre Pelletier. Dessa forma, as mulheres em tais condições tinham a possibilidade de ter uma fonte de renda e fortalecer a sua auto-estima. Com certeza, esse público ajudou o vereador-cabeleireiro a conquistar os seus mais de 3 mil votos.
Quem também ajudou Marcello Chiodo a se tornar vereador foi seu irmão Agnello. Por causa de um simples detalhe: os dois são gêmeos. Durante a campanha, Agnello ajudou a visitar as comunidades e a entregar santinhos. Mesmo que Chiodo sempre tenha deixado claro quem era quem, a figura pública do candidato duplicada pode ter ajudado na eleição.
E agora eleito, o vereador, que continua trabalhando em seu salão de beleza, quer estender o seu projeto social e dar dança nas praças para pessoas da terceira idade. Além disso, pretende ajudar a ONGs de animais e incentivar a castração dos mesmos. Ele também admite ter o objetivo de conseguir a regulamentação da profissão de cabeleireiros. “Se eu não conseguir agora, talvez a gente consiga como deputado futuramente”, declara, o que indica que o vereador do PTB tem a ambição de crescer dentro da política.
E porque o PTB? O vereador se diz uma pessoa equilibrada, nem muito de direita, nem muito de esquerda, que procura ouvir todos os lados para formar uma opinião e isso teria feito com que ele se identificasse com o partido. Além de usar as características pessoais como justificativa, Chiodo se declara admirador do senador Sérgio Zambiasi (PTB). “Pelo trabalho dele. É a mesma coisa que eu faço: atender aos pobres e aquelas pessoas que não tem condições”, afirma o cabeleireiro, que não cita outras referências e diz ainda estar conhecendo os políticos.