Em depoimento à Comissão de Finanças, nesta quinta-feira (4), o vice-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Porfírio Peixoto, rebateu as acusações de irregularidades trazidas pelo auditor-substituto de conselheiro Aderbal Amorim à Assembléia Legislativa no mês de julho.
Amorim havia denunciado casos de recebimento irregular de diárias, nepotismo, compra e uso desnecessário de veículos e funcionamento de instituição privada dentro do órgão. Ele apontou, ainda, o “sumiço” da representação do Ministério Público de Contas (MPC) contra o Detran, apresentada em agosto de 2007 e ignorada durante nove meses pelo TCE.
Segundo Porfírio, Aderbal Amorim cometeu um deslize ao denunciar fatos que chegaram ao conhecimento dele (Amorim), mas que não foram identificados em apuração feita pelo próprio Tribunal.
Diárias
Em 10 de julho, Amorim disse à Comissão de Finanças que os conselheiros Porfírio Peixoto, Helio Mileski e Victor Faccioni teriam, entre 2000 e 2005, recebido R$ 761.256,75 em diárias. Do total, R$ 342.672,72 teriam ficado com Mileski, R$ 287.772,76, com Faccioni, e R$ 130.811,27, com Porfírio.
O vice-presidente do Tribunal de Contas rebateu as denúncias e afirmou que há dois anos a instituição vem cortando despesas e reduzindo gastos, principalmente com diárias. De acordo com Porfírio Peixoto, de janeiro a julho deste ano foram pagos em torno de R$ 26 mil em traslados, o que representa aproximadamente R$ 3,7 mil por mês.
“Não estou aqui desmentindo qualquer informação. Estou apenas colocando as coisas como elas realmente são”.
Têm direito a diárias os sete conselheiros do TCE, os sete conselheiros substitutos e os dois promotores do Ministério Público de Contas. Porfírio disse, ainda, que a instituição tem os valores mais baixos de diárias se comparadas com os demais poderes. Em viagens dentro do Estado, a diária é de R$ 234,03. Para fora do Rio Grande do Sul, o Tribunal de Contas paga R$ 468,06 e, para fora do país, o valor é de R$ 819,10.
Nepotismo
O conselheiro Aderbal Amorim disse, que existiriam no TCE, na Assembléia Legislativa, no Judiciário e no Tribunal de Justiça Militar casos de nepotismo de três tipos: o direto, o cruzado e o “de rodízio”.
Porfírio Peixoto destacou que, desde 2005, nenhum servidor do Tribunal de Contas do Estado contrata parente até terceiro grau, conforme determinação do Conselho Nacional de Justiça.
Disse, no entanto que, pessoalmente, não vê impedimento na contratação de parentes por políticos. Porfirío, que foi deputado estadual entre 1975 e 1989, acredita que um mandato é feito por pessoas competentes e de confiança do parlamentar. “Quem tem mandato deve ter absoluta liberdade para contratar quem o acompanha”, enfatizou.
Redução de Despesas
O TCE tem 817 servidores e, segundo seu vice-presidente, é a instituição de seu tipo mais enxuta do país, e tem priorizado a melhoria na qualidade do serviço público e a redução de gastos. De acordo com o vice-presidente, nos últimos três anos o Tribunal devolveu aos cofres públicos R$ 80 milhões que sobraram do orçamento anual.
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Três auditores farão inspeção especial nos pedágios
Três auditores do setor de Obras Públicas do Tribunal de Contas do Estado começam a analisar no início de outubro os contratos com as empresas que operam os pedágios, uma das questões mais polêmicas do Estado, desde que foram implantados há dez anos.
Por enquanto, os técnicos – dois engenheiros e um economista – estão elaborando um projeto, que deverá ser aprovado pelos conselheiros do Tribunal antes do início da auditoria operacional.
O coordenador do setor Obras do TCE, Alcimar Andrade Arrais, explica que após a CPI dos Pedágios, os técnicos verificaram que ainda existiam muitas informações desencontradas, que contribuíram para dividir ainda mais a opinião pública. “A análise é técnica, não haverá qualquer influência política”, garante Arrais.
Por ser um tipo de auditoria mais detalhada, e que exige maior tempo, a intenção é apresentar um relatório ao governo do Estado e à Assembléia Legislativa até o final do ano. “Esse relatório vai analisar os serviços prestados pelas concessionárias, a validade de um aditamento contratual e, se for o caso, fornecer outras alternativas”, ressalta.
Salários do TCE não serão cortados, diz Vargas
Cleber Dioni
O presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), João Luiz Vargas (foto), afirmou na terça-feira após reunião que debateu a reorganização do órgão para contenção de despesas, que a atual legislação não obriga a fazer nenhum corte nos salários. “Se a lei determinar que sejam cortados aqueles que estão acima do teto, não resta outro caminho. Nós estamos exatamente dentro da lei, aliás dentro da Lei Britto, estabelecida para um teto entre os poderes do Rio Grande do Sul”, afirmou.
O TCE paga alguns dos salários mais altos do serviço público do Estado e que, em alguns casos, ultrapassam em mais de cem porcento o teto salarial.
Segundo Vargas, a partir de fevereiro ou março deste ano, o TCE estabeleceu o seu teto, semelhante ao do Judiciário e ao do Ministério Público. “Aqueles que, pelos direitos que já tinham adquirido anteriormente, estão acima desse teto, têm os seus salários congelados”, completou.
Sobre a readequação do Tribunal, Vargas informou que será apresentado um relatório até sexta-feira com as medidas de contenção de despesas que podem incluir a extinção de coordenações e o reagrupamento de serviços.
O conselheiro presidente não quis comentar a análise que será feita pelo pleno do Tribunal, no próximo dia 28, da sugestão de seu afastamento da presidência do TRE, apresentada pelo procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo da Camino. “Não quero criar nenhum constrangimento aos colegas”, justificou.
O procurador Geraldo da Camino pediu o indiciamento e o afastamento de Vargas por considerar que “há fortes indícios da relação do presidente do TCE com a fraude no Detran.”
Auditor sugere CPI para investigar Tribunal de Contas do Estado
O mais antigo integrante do TCE afirmou que o tribunal está impregnado de irregularidades. Amorim enumerou três práticas de nepotismo utilizadas, citou elevado reembolso de diárias por parte de alguns conselheiros e a existência de exagerado número de cargos de confiança (CCs) por parte dos conselheiros, a grande maioria (seis em cada 10), segundo ele, parentes dos próprios integrantes.
O auditor ressaltou que as irregularidades denunciadas em estatais e departamentos como o Detran, Daer e Banrisul “são resultado da omissão do TCE” e que possivelmente elas não ocorreriam “se o órgão entregasse menos troféus e mimos e cuidasse mais do erário público”.
O sumiço, por nove meses, da representação do Ministério Público de Contas sobre irregularidades no Detran, de agosto de 2007, também foi relatado pelo depoente. Segundo Amorim, o processo desapareceu no dia em que seria levado ao pleno do tribunal. A representação foi mencionada em ligação telefônica feita pelo auditor do TCE Cézar Santolin ao então presidente do Detran Flávio Vaz Netto. No telefonema, interceptado pela Polícia Federal e tornado público pela CPI do Detran, o funcionário alertava o dirigente da autarquia sobre a existência da representação, que seria aprovada pelo pleno.
Ele destacou o Poder Legislativo como o órgão fiscalizador nato e criticou a existência de 10 CCs por conselheiro no Tribunal de Contas do Estado – “alguns inclusive instruindo processos, o que é de uma gravidade brutal”.
Disse que o Parlamento “muitas vezes distrai-se na escolha dos seus para comporem os Tribunais de Contas” e que a idéia de criação de um Conselho de Tribunais de Contas – iniciativa do conselheiro Victor Faccioni, que tramita no Congresso Nacional com grandes possibilidades de aprovação, segundo ele – “é um atentado à razão, é terrível, de brutal inconstitucionalidade”. A iniciativa, em sua opinião, visa, apenas, criar mais cargos, mais diárias e viagens.
O auditor-substituto disse que vive uma luta desigual no órgão, que está sozinho enfrentando desmentidos freqüentes, que é chamado de mentiroso na imprensa, que tem sido acossado e que só se manifestará publicamente após seu depoimento na Assembléia, “em respeito a esta Casa”.
Nepotismo e diárias
Amorim criticou o conselheiro Porfírio Peixoto que, segundo ele, tem afirmado que realizou auditoria interna a partir de suas denúncias, “mas a auditoria apontou que não há irregularidades; ele abafou tudo e não fala a verdade publicamente, sustenta-se em cima de vários cargos em comissão, inclusive no controle da imprensa do órgão”.
Ele acusou Peixoto e os conselheiros Helio Mileski e Victor Faccioni de embolsarem mais de R$ 761 mil em diárias, entre os anos de 2000 e 2005, com viagens a “países inesperados”. “Há explicações, mas não justificativas para isto”, acusou. E citou três tipos de nepotismo existentes no órgão: direto, cruzado e em rodízio. Disse que parentes são empregados em triângulo, em vários órgãos da Justiça e nos outros poderes, mas admitiu que é difícil decifrar o que classificou de verdadeiro labirinto.
“O Porfírio Peixoto, por exemplo, tem um primo, uma prima, um concunhado, um sobrinho e uma sobrinha dele e da senhora dele empregados lá. O Mileski tem dois filhos em cargos trocados com dois procuradores de Justiça e em seu gabinete estão dois filhos de desembargadores”. Amorim só salvou da prática o Ministério Público de Contas.
O auditor disse estranhar o fato de que, a cada três pedidos de revisão de processos, dois são julgados procedentes e elencou escritórios de advocacia que freqüentemente obtêm “grande sucesso em processos de revisão”. Finalmente, confirmou a suspeita dos parlamentares que integraram a CPI do Detran sobre o desaparecimento da representação do MP de Contas contra o Detran um dia antes de pedido ingressar no Pleno do TCE, conforme denunciado pela CPI a partir de conversas telefônicas captadas pela Polícia Federal entre um conselheiro e o ex-diretor do órgão, Flávio Vaz Neto.
Ineficiência no controle
O presidente da comissão, deputado Nelson Marchezan Jr. (PSDB), citou as dificuldades enfrentadas pelo Legislativo em conseguir informações junto ao TCE e adiantou que a comissão irá tratar do assunto após o recesso, devendo ouvir o presidente do órgão, entre outros, “em virtude da gravidade das afirmações aqui colocadas”.
Marchezan manifestou dúvidas sobre um recente relatório que encaminhou ao TCE pedindo a apuração de denúncias sobre a instalação de pardais no Estado, pelo qual foi pago R$ 8 milhões a mais do que o preço de mercado. E disse que recebeu como resposta do Tribunal que não havia nada de novo para ser apurado, quando os indícios apontam claramente que há fraude na licitação.
O parlamentar solicitou a transcrição na íntegra do depoimento, em Ata, e afirmou que irá discutir com os deputados a possibilidade de criação de uma CPI para investigar as denúncias apresentadas. “O fato é que há total ineficiência no controle dos gastos públicos por parte do órgão que deveria fiscalizá-los”.
Indicação de conselheiros
Em função da Ação Direta de Inconstitucionalidade que derrubou o artigo 74 da Constituição Estadual, hoje não há definição sobre a forma de nomeação dos conselheiros do TCE. Para preencher a lacuna constitucional, o deputado Raul Pont (PT), líder da bancada do PT e autor do convite ao auditor para que apresentasse na comissão as denúncias que fez no Pleno do TCE, informou que apresentou ao Colégio de Líderes da Assembléia Legislativa minuta de uma proposta de Emenda Constitucional, estabelecendo que duas das quatro vagas indicadas pelo Legislativo sejam privativas de funcionários de carreiras – uma de auditores públicos externos do TCE e outra de agentes fiscais da CAGE (controle interno do Estado).
Quanto às indicações políticas, a proposta estabelece obediência à pluralidade e à proporcionalidade entre as maiores bancadas. “Temos que construir uma proposta de consenso das bancadas. As denúncias colocam o tema na ordem do dia e exigem uma resposta do Legislativo, Poder ao qual o TCE está ligado”, justificou Pont.