A Revolução Eólica ( 22 ) – ASSOCIAÇÃO DEFENDE 20 MIL MW EM DEZ ANOS

Por Cleber Dioni Tentardini
Diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Energia Eólica (Abeeólica), Pedro Perrelli, acredita que a contratação de 2 mil MW por ano, durante os próximos 10 anos, permitirá que o setor cresça de forma sustentável e, dessa forma, possa abastecer o Brasil e outros mercados.
Quais as vantagens de ter leilões exclusivos de energia eólica?
O pleito de leilões exclusivos de energia eólica na ordem de 2.000MW por ano, durante os próximos 10 anos, é uma solicitação da ABEeolica para permitir o amadurecimento e o crescimento da indústria de eólica para que esta seja sustentável e possa abastecer o Brasil, a América Latina e, inclusive, exportar para outros mercados.
O preço da energia eólica está relacionado ao número de empreendimentos, quer dizer, quanto mais projetos forem viabilizados, maior competitividade e mais barata será essa fonte alternativa?
De forma geral sim, a exemplo do ocorrido com outras indústrias (automobilística, informática e etc) cujo crescimento da base industrial provocou uma atualização da tecnologia, diversificação dos produtos ofertados e, por fim, maior competitividade dentro do segmento.
No primeiro leilão, mais de 400 projetos foram inscritos. Foi um número bom ou ainda baixo?
O número foi muito bom, diríamos até surpreendente. Surpreendeu o mercado, o MME (Ministério de Minas e Energia) e a EPE (Empresa de Pesquisa Energética). O número de projetos inscritos superou a marca de 13.500MW.
O governo contratou mais de 70 projetos. No total, quantos megawatts de capacidade instalada?
No leilão de Energia de Reserva (LER-2009), realizado em 14 de dezembro de 2009, foram contratados 1.805MW divididos em 71 projetos em cinco estados: Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia e Rio Grande do Sul.
O valor médio de 148 reais a serem pagos pelo MW/h ficou muito abaixo do que os empreendedores esperavam?
O valor médio de R$148 no LER-2009 atendeu à demanda e expectativa do mercado na medida em que toda a Energia de Reserva ofertada naquele certame foi efetivamente comercializada.
Pode-se dizer que, com valores girando em torno de 148 reais, a eólica é economicamente atrativa?
Sim, o próprio crescimento da base industrial e os leilões de 2010 (LFA-2010, LER-2010) comprovaram que esses números continuam atrativos e a energia elétrica gerada por fonte eólica é a segunda fonte mais barata logo atrás das grandes hidrelétricas.
Ao comprar energia mais cara do que a gerada pelas hidrelétricas, as companhias estatais e privadas terão necessidade de aumentar a conta de luz?
O fato de que a energia gerada por usina eólica é a segunda fonte mais barata de energia deixará mais opções ao governo, uma vez que a política de geração de eletricidade obedece ao critério de menor preço e como sabido outras fontes são ainda mais caras. Hoje a energia eólica presente na matriz de geração elétrica é menor que 1%, o efeito dessa diferença de preço não tem como ser notado no preço final pago pelo kwh fornecido.

A Revolução Eólica (20) – CERRO CHATO TERÁ ÁREA DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

Por Cleber Dioni Tentardini
As sócias Eletrosul-Wobben, responsáveis pela Usina Eólica do Cerro Chato que está sendo construída em Santana do Livramento, se comprometeram a adquirir uma área para conservação na Região da Campanha, que ainda não foi definida, além de se responsabilizar pelo Programa de Controle do Capim-annoni, dentre outras ações, como forma de compensação ambiental.
Segundo a geóloga Bibiane Lengler Michaelsen, responsável pela supervisão ambiental da Usina Eólica Cerro Chato desde setembro de 2010, já foram acertadas algumas benfeitorias com o poder público, como a doação de dez lixeiras à Prefeitura Municipal e o plantio de 2,6 mil mudas de árvores na cidade, a partir de abril. Os proprietários rurais também estão sendo beneficiados com a construção de açudes, um alento em meio a seca que castiga essa parte do Pampa.
Portoalegrense, 38 anos, Bibiane já atuou durante dois anos como fiscal de meio ambiente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) em empreendimentos como a Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó e a Pequena Central Hidrelétrica Barra do Rio Chapéu, além de ter participado do monitoramento de programas ambientais relacionados a projetos energéticos.
Conscientização ambiental
No canteiro de obras, tem dispostas em sua mesa as diretrizes estabelecidas pelas licenças ambientais dos órgãos municipal, estadual e federal a fim de orientar os trabalhadores.
“O papel da supervisão ambiental é traduzir o que está na licença para a linguagem que todos os trabalhadores possam compreender. Inclusive, todos os envolvidos na obra assistem a uma palestra de conscientização ambiental, incluindo as condicionantes das licenças, respeito ao patrimônio de terceiros, entre outros”, observa a geóloga.
As licenças são expedidas conforme os locais e as atividades. O licenciamento ambiental de atividades de impacto local passou a ser de competência da Prefeitura de Santana do Livramento a partir de um convênio firmado com a Fepam.
Foram licenciados pelo município o canteiro de obras, os acessos externos ao parque, a linha de transmissão e a ampliação da subestação Livramento 2, assim como a extração mineral, a construção de açudes e a abertura de poços artesianos.
O parque eólico, acessos internos, subestação coletora e a rede de média tensão foram licenciados pela Fepam.

“Os impactos ambientais são inerentes a qualquer obra civil do porte dos parques do Cerro Chato. A implantação desse tipo de empreendimento acaba por modificar os hábitos de alguns animais, que não estão habituados a circulação de tantos veículos, além da movimentação de terra. Certamente, a própria abertura de estradas mudou a paisagem e a rotina de todo aquele bioma”, afirma Bibiane.
Entre os animais comuns na região da Campanha estão várias espécies de aves, ascobras, tatus, lebres, além dos animais de criação como gado, ovelhas, emas. “A orientação é para que os trabalhadores se protejam e, sempre que possível, espantem os animais, até porque os animais silvestres são protegidos por lei e os animais domésticos são propriedade particular”, explica.
Com relação à flora, a supervisora ambiental ressalta que os capões de mata e a vegetação ciliar são protegidas por lei e não há intervenção nesses locais, além das ‘cactáceas endêmicas’ (cactos concentrados no bioma) que devem ser conservadas, algumas vezes implicando em remoção e plantio em outras áreas. Já os campos acabam por sofrer as maiores modificações, porém, segundo Bibiane, todas as áreas que sofreram intervenção temporária serão recuperadas, o que está previsto no Programa de Recuperação de Áreas Degradadas.
Os licenciamentos também levaram em conta as Áreas de Proteção Permanente (APPs) onde estão sendo construídos os parques eólicos no Cerro Chato. As margens de arroios e rios são consideradas APPs e não podem sofrer qualquer intervenção em função das obras. Já a Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã está bem próxima, mas não fica dentro dos limites de implantação dos parques.
Morcegos e aves
Outra questão levada em conta são os possíveis prejuízos aos morcegos e às aves, gerados pelo ruído dos cataventos. A geóloga assegura que a disposição desalinhada dos aerogeradores obedece critérios técnicos mas, sobretudo, segue orientações dos estudos ambientais.
Bibiane assegura que antes da emissão da Licença de Instalação, por exigência da Fepam, foi feito o monitoramento da fauna durante um ano, para que fossem identificados locais de importância, tais como reprodução, nidificação e alimentação, o que então é considerado para definir a disposição final das torres, obedecendo ainda uma distancia mínima de 600 metros desses locais.
“O ruído pode trazer algum incômodo aos animais, mas há vários exemplos onde eles convivem bem com as torres, e quanto às aves, o maior impacto seria a possibilidade de colisão com os aerogeradores”, diz Bibiane.
As residências também foram levadas em conta, ficando determinado um distanciamento de 400 metros dos aerogeradores.

A Revolução Eólica (19) – ELETROSUL ACERTA LOGÍSTICA PARA LEVAR AEROGERADORES À FRONTEIRA

Por Cleber Dioni Tentardini
Cerca de 60 carretas, de 12 a 40 metros de comprimento e de até 5 metros de largura, farão 2.295 viagens até Santana do Livramento, onde está sendo construído a primeira usina eólica do pampa gaúcho. Os veículos estarão transportando em média 25 toneladas de materiais a uma velocidade média de 40 quilômetros por hora.
A Eletrosul está finalizando a logística para transportar as toneladas de equipamentos do complexo eólico Cerro Chato, que está sendo construído em Santana do Livramento.
Ainda não está definido o início das viagens, mas o prazo não deve passar da próxima semana, já que a estatal decidiu antecipar o início de funcionamento do primeiro dentre os três parques eólicos, para o final de abril ou início de maio.
Os números são literalmente de peso e demonstram o tamanho do empreendimento que será formado por três parques eólicos, cada um com 15 aerogeradores, capazes de gerar 30 megawatts de energia, totalizando 90MW. Somente uma das três pás que compõem um aerogerador mede 41 metros e pesa mais de cinco toneladas.
Calcula-se que 60 carretas, de 12 a 40 metros de comprimento e de até 5 metros de largura, farão 2.295 viagens até a fronteira do Rio Grande do Sul. Os veículos estarão transportando em média 25 toneladas de materiais e irão rodar apenas durante o dia, respeitando a velocidade de 40 quilômetros por hora. A maioria terá batedores (escolta privada) e alguns serão acompanhados pela polícia rodoviária.
Os equipamentos são de diferentes locais: os geradores, as pás e demais peças foram fabricadas na Alemanha e trazidas ao país de navio. Os geradores foram montados em Sorocaba/SP pela fabricante Wobben, sócia do empreendimento, e as pás estão armazenadas no porto de Rio Grande. As torres de concreto estão sendo fabricadas em Gravataí e os segmentos metálicos que compõem parte das torres, em Erechim.
Conforme o engenheiro Franklim Lago, coordenador da implantação do complexo eólico Cerro Chato, dez bases, cada uma com 18 metros de diâmetro, já estão prontas para receber as torres de 108 metros de altura cada, chegando a 149 metros no ponto mais alto da pá.
“A nossa expectativa é de que até o dia 5 de março estejam concluídas as primeiras 15 bases e já na 1ª quinzena de março inicie a montagem das torres”, afirma Lago.
 

A Revolução Eólica (18) – UE VAI ULTRAPASSAR META 20-20

A União Europeia UE-27 irá exceder a meta de 20% do consumo bruto final de energia proveniente de fontes renováveis até 2020. A previsão da European Wind Energy Association (EWEA) aponta para uma cota de 34% das renováveis no consumo total de eletricidade, de acordo com a análise dos 27 Planos de Ação Nacional de Energia Renovável, apresentados pelos Estados-membros à Comissão Europeia.
A energia eólica vai gerar 14% da procura total de eletricidade da Europa em 2020 (494 TWh de 213 GW de capacidade instalada), mais do que qualquer outra fonte renovável, contra 4,2% em 2009. A Irlanda será o país com o maior nível de penetração de energia eólica com 36,4% do seu consumo total de eletricidade, seguido pela Dinamarca com 31%.
Dos 34%, 14,1% é proveniente da energia eólica (10% onshore e 4% offshore), 10,5% a partir de hidrelétricas, 6,6% a partir de biomassa, 2,7% a partir de energia solar fotovoltaica, 0,5% a partir de energia solar concentrada, 0,3% da energia geotérmica e 0,1% do oceano.
Em Portugal, estima-se que em 2020 a produção de eletricidade a partir de renováveis corresponda a mais de 55% do consumo total de energia, sendo que a energia eólica será responsável por 41% desta fatia. Ainda assim, o país é um dos 10 Estados-membros que cumprirão os seus objetivos nacionais.
Bulgária, Espanha, Grécia, Hungria e Alemanha estão entre os países que prevêem ultrapassar as suas metas nacionais. Apenas Luxemburgo e Itália deverão socorrer-se dos mecanismos de cooperação para atingir os seus objetivos nacionais.
Ambiente Online

A Revolução Eólica (17) – CHINA NO CAMINHO DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS

Pesquisadores da China, principal fornecedor de turbinas eólicas e paineis solares, trabalham para baratear o custo da utilização destas e de outras fontes renováveis de energia, conseguir que sejam mais eficientes e aumentar sua proporção na matriz energética deste país.
A China deu um grande salto até ficar à frente no setor de energias alternativas, mas é necessário maior investimento do governo se deseja brilhar nessa área, afirmam numerosos especialistas.
O professor Zhao Xingzhong, da Faculdade de Física da Universidade de Wuhan, pesquisa sobre células solares sensíveis à cor, uma alternativa mais eficiente e barata do que a habitual tecnologia fotovoltaica de semicondutores em estado sólido. As implicações práticas são evidentes, afirmou. “O processo de produção de células solares sensíveis à cor não produz dióxido de carbono, isto é, não causa contaminação ambiental”, disse Zhao à IPS. “Além disso, elas custam um quinto do valor dos semicondutores tradicionais fabricados com silício cristalino”, acrescentou. Sua equipe de pesquisa é única neste país e no mundo, mas ele afirma que o apoio do governo está longe de ser suficiente.
Coreia do Sul e Japão, segundo Zhao, investiram no total US$ 1,6 bilhão em tecnologia solar de terceira geração desde 2000. Na China, houve apenas cinco projetos locais na última década, sendo que cada um recebeu US$ 4,5 milhões. “É difícil superar o gargalo tecnológico pela falta de recursos econômicos”, lamentou. Nos últimos anos, a China se converteu no maior produtor de tecnologia para o setor de energias renováveis, superando os Estados Unidos na quantidade de turbinas eólicas e paineis solares fabricados.
A companhia Ernst & Young considerou, em setembro, este país como o melhor lugar para investir nessa área. As empresas chinesas, lideradas pela Suntech, com sede em Jiangsu, concentram um quarto da capacidade de produção de paineis solares e aumentam com rapidez sua participação no mercado, baixando os preços graças às fábricas de grande escala e ao seu baixo custo.
Em matéria de energia eólica, as empresas locais aumentaram com rapidez sua participação no mercado nos últimos anos, após a decisão do governo de aumentar os requisitos para associar-se com estrangeiros e de introduzir novos e grandes subsídios e outros incentivos para as companhias chinesas do setor. Em 2009, eram 67 fornecedores chineses de turbinas. A participação de empresas estrangeiras no mercado caiu de 70% para 37% nos últimos cinco anos. No entanto, a maioria das peças produzidas pelas companhias chinesas se baseiam em tecnologia desenvolvida no exterior, com escassa atenção para a inovação local no setor de energias alternativas.
A bioenergia pode ser utilizada para melhorar o padrão de vida nas áreas rurais, disse Wang Mengjie, subdiretor da Sociedade de Energia Renovável da China e ex-vice-presidente da Academia de Engenharia Agrícola. Wang trabalha em projetos para fornecer aos agricultores equipamentos capazes de transformar o lixo orgânico em biogás e fertilizantes.
A quantidade de usinas para produzir biogás nas zonas rurais da China superou os 35 milhões no final de 2009, as quais produzem mais de 12,4 bilhões de metros cúbicos ao ano, segundo o Ministério da Agricultura. O governo aumentou o orçamento para o biogás nos últimos anos para mais de US$ 754 milhões em 2009, em relação aos US$ 337,2 milhões em 2006 e 2007.
Entretanto, a China ainda tem de superar obstáculos tecnológicos na indústria da biomassa, disse Wang. “Em termos de tecnologia para óleo combustível de origem orgânica, países como Estados Unidos e Alemanha estão na frente, enquanto a China encontra-se em uma etapa incipiente”, explicou. Este país “não tem normas nem políticas definidas em matéria de energia a partir da biomassa. No contexto atual, não há possibilidades de as iniciativas se desenvolverem mais”, acrescentou.
A china
O interesse da China nas energias renováveis se deve ao fato de ser uma oportunidade de negócios, dizem os críticos. A maior parte da produção é vendida para o exterior. Este país ainda não alcançou os Estados Unidos em termos de produção de energia renovável. Além disso, é o maior consumidor de carvão do mundo e, estima-se, queimará 4,5 bilhões de toneladas em 2020, segundo a Administração Nacional de Energia.
O carvão continuará ocupando dois terços da capacidade energética da China em 2020, mas o governo prometeu investir milhares de milhões de dólares para desenvolver as energias eólica, solar e nuclear. A Assembleia Popular Nacional, o órgão legislativo da China, obriga as empresas de eletricidade a comprar 100% da produção dos geradores de energias renováveis.
As fontes de energia que emitem pouco carbono representaram mais de um quarto da matriz energética chinesa no final de 2010, informou a agência estatal de notícias Xinhua, com base em estatísticas oficiais divulgadas em abril. Os dados mostram que se espera que as energias hidráulica, nuclear e eólica geraram, em seu conjunto, 250 gigawatts em 2010, e a derivada do carvão 700 gigawatts.
Por Mitch Moxley, IPS, Envolverde, 3/1/2011

A Revolução Eólica (16) – GOVERNO PREVÊ QUE SETOR CRESÇA 320% EM DEZ ANOS

Atualmente, as usinas eólicas instaladas somam 930,5 MW espalhados por 50 parques, dos quais 40 receberam apoio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).As hidrelétricas, principal fonte de geração do país, têm 110.000 MW instalados.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que as usinas eólicas no Brasil cresçam 320% em dez anos. Atualmente, as usinas eólicas instaladas somam 930,5 MW espalhados por 50 parques, dos quais 40 receberam apoio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).As hidrelétricas, principal fonte de geração do país, têm 110.000 MW instalados.
O diretor executivo da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Pedro Perrelli, espera que o governo realize este ano outro leilão a fim de comercializar 2 mil MW. Entre 2009 e 2010 o setor vendeu mais de 3.800 MW, previstos para entrar em operação até 2013.
A expectativa do diretor da entidade é que o número de usinas no país aumente para cerca de 200, com geração total de 5.319 MW.
Pelo Proinfa estão previstos neste ano mais 510 MW distribuídos por 14 parques eólicos, totalizando 1.440 MW.
Perrelli calcula que haja potencial para instalar até 300 mil MW de energia a partir dos ventos. “O crescimento do setor é um processo irreversível, do ponto de vista ambiental e econômico, se comparado com a energia termelétrica”, afirmou o diretor da ABEEólica.

A Revolução Eólica (11) – “É PRECISO FIXAR O PESSOAL NO CAMPO”

Por Cleber Dioni Tentardini
Engenheiro eletricista com mais de 30 anos de experiência, o portoalegrense Luiz Antônio Zank já havia trabalhado na Eletrosul entre os anos de 1977 e 1988 e até o início de 2011 atuava na Areva, uma fabricante de aerogeradores, quando recebeu o convite para assumir o comando da empresa responsável pelas obras do complexo eólico Cerro Chato.
Hoje, divide seu tempo entre Santana do Livramento e Florianópolis, onde está a matriz da Eletrosul, e Porto Alegre, onde vive com sua família.
Aos 59 anos, diz que aceitou o desafio de tocar o projeto por envolver um assunto que sempre lhe interessou e por levar desenvolvimento à região. “Eu sempre acreditei que a energia eólica era uma fonte interessante para somar e suprir a rede nos momentos de seca e de grande demandas de energia, além disso, um projeto desses gera trabalho à população. Isso é uma coisa que me dispus a fazer pelo Estado, que é fixar o pessoal no campo, neste caso, no Interior. É uma das maneiras de resolver os problemas sociais que temos hoje, principalmente, nas grandes cidades”, analisa.
Quanto às ações sociais, a Eólica Cerro Chato acertou diversos convênios com a Prefeitura Municipal, como a promoção de cursos em diferentes áreas e o fornecimento de mudas de árvores e lixeiras para a cidade. “Em troca, a Prefeitura permitiu que extraíssemos argila de uma jazida do município”, completa.
Dificuldades na Campanha
Frio ou calor intensos, distância dos recursos da cidade e, para piorar, falta de infra-estrutura e mão de obra qualificada.
“É bem diferente trabalhar nessa região da Campanha, diz o engenheiro. A questão do solo, por exemplo. Eu dizia que teríamos que construir as torres em locais onde não havia banhado mas me diziam que tinham alagadiços por toda parte e eu custava a entender isso”, conta.
“No contexto estadual, essa região do pampa ficou bastante abandonada, muita gente qualificada que eu conheço saiu. Fora isso, falta estrutura, se precisar guincho grande, tem que trazer de outro município. A atividade foi muito concentrada na pecuária e alguma agricultura. Lá fora, falta energia, água, tivemos que abrir poços de 150 metros para alcançar o aquífero”, lembra.
A meta da empresa entrar em operação completa em setembro de 2011, ao invés de junho de 2012, como está no contrato. “Há os empecilhos técnicos, alguns burocráticos, de documentações, mas temos de cumprir as regras de mercado para conseguirmos entrar no sistema”, ressalta.

A Revolução Eólica (10) – ENERGIA VAI RENDER ROYALTIES A RURALISTAS

Por Cleber Dioni Tentardini
Os campos onde estão sendo instalados os cataventos, a subestação de energia e as linhas de transmissão somam cinco mil hectares e são utilizados principalmente para a atividade pecuária. Apenas uma das 27 propriedades atingidas pelas obras da Usina Eólica Cerro Chato cultiva arroz.
São 19 proprietários rurais que receberão royalties sob o que será produzido por cada torre instalada em suas terras. A maioria terá entre um e três aerogeradores, com exceção de dois ruralistas, que terão até dez torres.
Os royalties vão representar 1% da energia gerada, conforme foi acertado com a Eólica Cerro Chato. O diretor da empresa, Luiz Zank, calcula que o rendimento gire em torno de 700 reais por catavento. Esse valor representa quase a metade do que rende cada gerador no complexo eólico de Osório.
“O valor ficará abaixo porque lá existia o Proinfa, um programa de incentivo ao uso de fontes alternativas, que garantiu o valor do megawatt-hora mais alto, 280 reais em média e, consequentemente, uma remuneração mais alta aos proprietários daquelas terras. Aqui na Cerro Chato o valor do MW foi vendido a 131 reais”, explica o diretor.
Mas nessa região da fronteira, onde o vento sopra de todos os lados, pode ser que os cataventos girem muito mais do que se imagina. Há pelo menos três rotas de ventos na região: o Minuano, o Aragano e do Norte. Isso explica a disposição desordenada dos aerogeradores no Cerro Chato.
Negociação complicada
Luiz Zank assumiu a diretoria técnica da Eólica Cerro Chato no dia 9 de março do ano passado e uma das tarefas era negociar com os proprietários rurais os royalties e outras indenizações decorrentes de obras.
Tarefa complicada, segundo ele. “Eu já conhecia um pouco a cultura do pessoal daqui, descendentes dos defensores da fronteira, e tenho muitos amigos da região do pampa, então eu sabia que teria de administrar alguns possíveis conflitos.”
Zank conta que, além do valor das indenizações, uma dúvida recorrente dos ruralistas eram os prejuízos que as obras iriam causar em suas terras. “Explicamos que o maior impacto nos campos seria a abertura das estradas, que envolve a retirada de grande volume de terra, o local onde despejá-lo e a colocação de balastro para que as vias não virassem um lodaçal”, explica. Para compensar outros impactos ambientais, foram negociadas contrapartidas como a construção de açudes para garantir água aos animais e a reposição de terra fértil no lugar das pedras.
Ao mesmo tempo em que os engenheiros acertavam os locais mais apropriados para colocação dos aerogeradores e das linhas de transmissão, também se reuniam com os pecuaristas. Qualquer mudança de posição dos equipamentos, dentro ou em outras propriedades, novos encontros eram feitos. “Depois de tudo pronto, era só torcer para ventar cada vez mais, mas, mesmo assim, alguns não quiseram participar do projeto”, lamenta.

A Revolução Eólica (7): PROJETOS TIVERAM APOIO DO BNDES

A região Nordeste foi a grande vencedora do primeiro leilão de energia eólica realizado no Brasil, com 66 projetos aprovados. Entre as vantagens dos projetos concorrentes dos estados nordestinos é que a maioria conta com financiamentos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O Rio Grande do Norte foi o primeiro colocado, com 23 novos empreendimentos eólicos, num total estimado de 657MW de potência instalada. Os empreendedores vencedores no RN foram Petrobras, Dobrevê Energia (Grupo Mawee), Consórcio Brasil dos Ventos (Furnas, Eletronorte, Bioenergy e JMalucceli), CPFL (Santa Clara) e Gestamp (na Serra de Santana).
O Ceará aparece em segundo lugar com 542,7MW, a Bahia possui 390MW e Sergipe tem outros 30MW. No Sul, somente o Rio Grande do Sul venceu, com 186MW.
O leilão negociou 753 MW médios de 71 empreendimentos, ao preço médio de R$ 148,39/MWh.. Esses projetos representam uma capacidade instalada de 1.805,7 MW (ou 783 MW médios de garantia física), localizados entre os estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Rio Grande do Sul e Sergipe.
Esse volume é o triplo do montante de energia eólica em operação no País hoje, que soma 602 MW de potência. Entre as empresas que venderam energia estão a Petrobras, a CPFL Energia (com sete usinas), a Renova Energia. A estimativa do governo é de que os investimentos nos projetos somam R$ 9,4 bilhões.
Uma alternativa para compensar a baixa competitividade das empresas de energia eólica do RS seria realizar leilões regionalizados. Outra, seria melhorar as condições de financiamento dos projetos já aprovadas, da empresa Ventos do Sul e da Eletrosul.

Estado Projetos(nº) Potência Quant comprada Pr(MWmédio) Invest(R$)  
RN 23 657 286 150,96 3087,900
CE 21 542,7 218 150,40 2550,690
BA 18 390 171 145,19 1833,000
RS 8 186 68 141,87 874,200
SE 1 30 10 152,50 141,000

 

A Revolução Eólica (6): ENERGIA LIMPA A R$131

No primeiro leilão de energia eólica do País, que aconteceu via internet no dia 14 de dezembro de 2009, a Eletrosul e sua sócia, a Wobben, venderam a energia que será produzida pelos três parques eólicos do Cerro Chato, em Santana do Livramento, por R$ 131,00 por megawatts/hora, representando um deságio de 31,7% em relação ao teto estabelecido que era de R$ 189,00 – vencia quem oferecesse o menor preço. A previsão anual de receita é de R$ 1.928.520,00.
O sucesso da Eletrosul no leilão de eólica foi comemorado pelo presidente da empresa, Eurides Mescolotto. “Quase oito horas e depois de 75 lances conseguimos marcar definitivamente a entrada da Eletrosul e do Sistema Eletrobrás na área de energia eólica, o que para nós representa um grande sucesso. E num momento em que o mundo está discutindo novas alternativas de energia limpa, a energia eólica é um dos mais promissores segmentos no setor de geração de energia na região Sul”, disse o executivo.
Foram contratados 753 MW médios de energia em 71 empreendimentos no país. O prazo para entrada em operação comercial da usinas é julho de 2012 e os contratos serão válidos por 20 anos. O leilão representou um acréscimo de 1.805,7 megawatts (MW) de potência ao Sistema Interligado Nacional.
Para o diretor de Engenharia da Eletrosul, Ronaldo Custódio, os ventos da região Nordeste são considerados os melhores, mas os da região Sul são mais constantes. “Outro fator positivo no Sul é que existem mais acessos de conexões à rede de energia elétrica, o que nos garantiu vantagem competitiva na formulação do preço”.
Ronaldo lembra ainda, que o número expressivo de projetos participantes garantiu uma disputa acirrada entre os proponentes. “Com a concorrência, a sociedade é quem sai ganhando, porque teremos tarifas mais adequadas para os consumidores”.