Rafaela Ely
Nei havia tocado em Brasília no dia anterior e voltava para Porto Alegre. No Aeroporto Juscelino Kubitschek teve que despachar o instrumento, pois era muito grande e já levava outro na cabine. Quando chegou ao Aeroporto Salgado Filho, o violão não apareceu na esteira de bagagens.
O músico procurou a equipe da companhia para saber o que estava acontecendo. Eles lhe informaram que o instrumento fora localizado mas só depois é que disseram que ele estava danificado. “Aí eu me preocupei, eles não teriam dito isso se fosse só um arranhãozinho”, lembra o cantor.
O acidente aconteceu porque, na hora de descarregar a aeronave, o violão foi colocado no topo da pilha de bagagens que o veículo de transporte carregava. No caminho, o instrumento caiu na pista e, como se não bastasse, o trator passou por cima dele.
Foi com esse violão que Nei compôs a maioria de suas canções. “Era o violão que eu mais gostava”, desabafa. Ele diz que se sentia muito confortável com o instrumento e que será difícil criar uma afinidade assim com qualquer outro. Por ser o mais usado em shows e pelo seu formato, Nei acredita que aquele violão é também uma identidade que as pessoas associam com ele.
Esse era um modelo Washburn EA44, da série “Festival” de 1993. Sua construção emprega madeiras nobres e suas laterais e a parte de trás foram fabricadas com jacarandá brasileiro. Nei explica que, por causa das mudanças na legislação ambiental, hoje fica inviável fazer um violão igual a esse. Por isso, como indenização, pediu para a empresa um violão da marca Martin, modelo OMC 16OGTE. “Essa é uma mera equivalência de sonoridade”.
Ida e volta a Nova Iorque
Como o acidente aconteceu no final da tarde de sexta, só na segunda-feira, dia 18, que o músico tratou o ressarcimento com a companhia. Ele pediu que a empresa lhe desse o violão Martin, e, para indenização de dano moral, uma passagem de ida e volta para Nova Iorque.
Eles não aceitaram e propuseram R$ 800,00 para a substituição do violão e duas passagens para vôos domésticos. Nei negou a oferta. Em 1993, quando comprou o violão, ele custava US$ 1.100,00. O Martin que ele está pedindo agora vale US$ 1.650,00. “É o mínimo para se equiparar.” Ele explica que não é apenas o valor do violão que importa: “Além da questão meramente técnica, tem a questão subjetiva do instrumento que pautou minha vida”.
No dia seguinte, o músico fez um vídeo-protesto que postou na internet. Em menos de 24h teve 4 mil acessos. Conta que tomou essa atitude, pois acredita que o procedimento padrão das grandes firmas é não negociar com clientes. “Eles preferem entrar na justiça, pois, na média, quem ganha é a empresa.” Para ele isso acontece porque a maioria dos clientes não tem o poder de exercer pressão contra as corporações.
No vídeo, ele explicou toda a situação e mostrou o violão destruído. O material repercutiu na internet, principalmente no Twitter. Nei conta que em menos de 24 horas a central de bagagens da companhia já ligava para fazer uma proposta. No dia 21, músico e empresa fizeram acordo de que o violão seria pago e o vídeo retirado do ar. O novo violão ainda não chegou, mas o prazo estabelecido foi de trinta dias. O vídeo sumiu da Web.
Apesar de estar completamente destruído, Nei guarda o violão antigo. Ele pretende restaurá-lo “não para tocar, mas para colocar na parede”.
Quando pedimos uma foto dele com o resto do instrumento, Nei disse que não: “É muito doloroso”, argumenta. Apesar da dor, o músico se diz “muito agradecido pela mobilização das pessoas e pela presteza da companhia”. O seu novo violão foi despachado de Nova Iorque no dia 27 e deve chegar para o músico na noite do dia 28.
Rafaela Ely, estudante de jornalismo.