Fiquei uma manhã em choque com a notícia da morte do Roberto Müller.
Sim, a morte dos velhos amigos é quase uma rotina para um octogenário, mas o Roberto Müller no meu imaginário era daquelas figuras arquetípicas que deviam ficar como referência para muitas gerações – no caso dele, para muitas gerações de profissionais que se dediquem a esse ofício de “informar o que acontece”.
Levei um segundo choque ao ver que a dita imprensa, os veículos tradicionais do jornalismo, praticamente ignorou a morte de um profissional como ele, que foi um baluarte dessa profissão, no que ela tem de melhor.
No que li nas redes sociais, faltaram dois momentos fundamentais que dão a dimensão da importância do jornalista Roberto Müller:
1) o papel de catalisador que a Gazeta Mercantil teve na articulação que levou a elite empresarial do país a desembarcar da ditadura, com os dois manifestos, de 1978 e 1983;
2) o afastamento dele da direção do jornal que resistia ao processo da financeirização da economia, que acabou se consumando, com a falência da Gazeta e o surgimento do Valor.
Duas histórias a ser contadas, dois pontos cruciais da história brasileira recente em que Roberto Müller foi protagonista. (Elmar Bones)