Amanheceu na cidade de Guaíba, Rio Grande do Sul.
Dona Alveni, aos 63 anos de idade, acordava para um novo ano, um novo dia.
Tudo muda.
Nada acontece.
Esperança de um ano melhor, com a possibilidade de viver (sobreviver, na verdade) com mais acesso à dignidade.
Sabe as imagens que aparecem na televisão? Principalmente em anos eleitorais? Cidades melhores, pessoas mais felizes. “Reforma agrária”. “Diminuição da desigualdade”. “Aumento de empregos formais.”
Dona Alveni, sobrevivente, sonhava com todas essas promessas.
Moradora da cidade de Guaíba, se deparou com a iminência de morte de vários cães do bairro quando percebeu que um fio da energia elétrica estava exposto em poças de água.
Apavorou-se com o que via: os cães mexendo nos fios, constatação de uma tragédia que estava por vir.
Buscaram ligar para aqueles que comandam a cidade bonita e para todos apresentada nas eleições.
A exposição do fio na poça de água colocava em risco os cães e inúmeras crianças que brincavam no local.
A resposta que teve foi: mostre-me uma conta de luz formal que iremos resolver!
Lógica liberal. Quem consegue ter conta merece atendimento.
Mostre-me uma conta de luz formal…numa comunidade sobrevivente… num bairro sem acesso a serviços básicos, com a maioria ganhando o mínimo para sobreviver.
Dona Alveni, então, como todas as guerreiras das comunidades carentes, foi socorrer os cães. Colocou os pés na água. Pegou o fio desencapado. Eletrocutou-se, junto a um dos cãezinhos.
Morreu salvando vidas, e deixou uma mensagem no ar: até quando vamos deixar a pobreza enfrentar sozinha suas mazelas?
Até quando a política servirá apenas para aumentar os lucros dos ricos?
Até quando a lógica liberal de quem merece o necessário e essencial é quem tem méritos por não ser pobre?
Rodrigo Maroni é Deputado Estadual