Exposição ao ar livre junta artes visuais e literatura, na Escadaria da Borges

 

Higino Barros

A exposição coletiva “Autorias” é uma homenagem das artes visuais à literatura produzida no Rio Grande do Sul. Nela, um grupo de 18 artistas, entre os quais alguns dos nomes mais reconhecidos, exibe retratos inéditos de 26 importantes autores gaúchos. A mostra abre dia  1º (sexta-feira próxima) e fica até 31 de outubro na Galeria Escadaria, ao ar livre no Viaduto Otávio Rocha, na Av. Borges de Medeiros, Centro Histórico da Capital – local adequado a estes tempos pandêmicos. Seduzida pelo projeto, a Feira do Livro o incluiu como evento prévio à sua realização.

Dos 26 retratos, de 100X100 cm, 22 foram pintados em óleo ou acrílica em telas e quatro, impressos em placas de PVA. As obras, recém-produzidas, ocupam os 45 metros de extensão da Escadaria, espaço inaugurado em março deste ano e que tem a direção do produtor cultural e fotógrafo Marcos Monteiro.

 

A presença de telas na galeria é inédita, pois até então o local só abrigou exposição de fotos. Os dias finais da temporada da mostra transcorrerão simultaneamente aos iniciais da 67ª edição da Feira do Livro, que irá de 29 de outubro a 15 de novembro, na Praça da Alfândega, também no Centro Histórico.

Critérios

A seleção de nomes dos homenageados contou com a assessoria informal dos professores de literatura Sergius Gonzaga e Luís Augusto Fischer. A escolha buscou equalizar o número de escritores homens e mulheres em igual medida – 13 homens e 13 mulheres -, de modo a atender a uma demanda contemporânea mundial de reconhecimento do valor e da presença feminina nas artes, explica a curadora artística da mostra Graça Craidy.

Entre os homens, privilegiou os escritores já falecidos e, entre os vivos, distinguiu os mais velhos e os mais premiados. Já entre as escritoras, foram escolhidas, primeiro, as decanas, e depois as premiadas em Açorianos, Jabuti e Emmy, entre outras distinções, as jovens escritoras promissoras, e, ainda, as que se destacam por sua ação de incentivo à prática de literatura entre minorias, ou por sua ação de conscientização em defesa de causas cidadãs.

Beatriz Balen Susin (Luiz Antonio de Assis Brasil e Maria Carpi), Bernardete Conte (Simões Lopes Neto), Emanuele de Quadros (Luisa Geisler) , Erico Santos (Lya Luft e Moacyr Scliar), Gilmar Fraga (Carol Bensimon e Erico Verissimo) ,Graça Craidy (Dyonélio Machado e Marô Barbieri) , Gustavo Burkhart (Luis Fernando Verissimo), Gustavo Schossler (Fernanda Bastos), Gustavot Diaz e Ise Feijó (Caio Fernando Abreu), Helena Stainer (Cíntia Moscovich e Cyro Martins) , Liana d’Abreu (Lélia Almeida), Liana Timm (Eliane Brum e Mario Quintana), Mariza Carpes (Leticia Wierzchowski), Nara Fogaça (Martha Medeiros e Josué Guimarães), Pena Cabreira (Claudia Tajes e João Gilberto Noll) , Thiago Quadros (Sergio Faraco), Ubiratan Fernandes (Jane Tutikian e Oliveira Silveira)

O que disseram alguns dos retratados:

Eliane Brum: “Uma honra e uma alegria fazer parte desta exposição”.

Fernanda Bastos: “É com muita alegria e honra que recebi esta notícia. Obrigada por me incluir nesse projeto tão bonito e relevante”.

Jane Tutikian: “Agradeço imenso por teu e-mail, que traz tanta alegria nesses tempos sombrios. Estou muito feliz e honradíssima de estar entre os escritores homenageados”.

Leticia Wierzchowski: “Obrigada, é uma honra!”

Maria Carpi: “Muito grata pela minha participação”.

Maria Helena Martins (filha de Cyro Martins): “Fico supercontente. Muitíssimo obrigada pela escolha do Cyro Martins”.

Naiara Rodrigues Silveira Lacerda (filha de Oliveira Silveira): “Que ótima iniciativa! Ainda mais em um dos lugares que ele admirava”.

Assis Brasil: “Parabéns pela iniciativa que vem reunir duas áreas artísticas tão próximas e dialogantes. É uma grande honra participar, contando com seu traço persuasivo e raro.

Cíntia Moscovich: “Quando a arte encontra a arte, a gente só celebra”.

 A artista visual Graça Craidy, organizadora da mostra, conversou com o JÁ Porto Alegre, por gmail.
Graça Craidy, artista visual e organizadora da mostra. Foto: Arquivo pessoal/ Divulgação
 Pergunta: o que caracteriza essa exposição?
Resposta: Esta exposição é única em vários aspectos. É uma homenagem de uma arte a outra arte, da arte visual à arte literária. Uma homenagem local, amorosa, de valorização dos nossos. Além disso,que eu saiba, é a primeira exposição com telas pintadas que estará exposta ao ar livre, sujeita às intempéries, chuva, sol, depredações, isso requer valentia dos artistas e atrevimento, desprendimento. É a primeira exposição com telas pintadas ao ar livre que estará sujeita também aos olhos encantados de todos que passarem na rua. É a democratização da arte, do encantamento, do encontro ancestral entre o homem e a sua manifestação como criador, entre a nossa gente, muitos provavelmente que nunca viram uma tela pintada de perto, nunca entrou num museu, numa galeria, serão tocados pela narrativa visual da sua história, representada pelos seus escritores. Outra coisa é a equidade proposta entre autores homens e mulheres, uma reivindicação mundial por parte das mulheres em todas as artes, que por séculos foram alijadas desse espaço de manifestação artística, reservada a elas apenas a área domestica de cuidados com marido, casa e filhos, e agora desejam justiça e valoração da sua presença. Mais outra: a ampla diversidade dos artistas do projeto, que abrange desde decanos consagrados como Beatriz Balen Susin, Liana Timm, Erico Santos, Mariza Carpes, até jovens artistas como Thiago Quadros, Ise Feijó, Emanuele Quadros, abrindo espaço também para supertalentosos artistas de discreta projeção como Gustavo Schossler, Gustavot Diaz, Bira Fernandes, entre outros.

Pergunta: Muitos escritores ficaram de fora, assim como muitos artistas visuais. Como foi essa digamos, “escolha de Sofia?”?
Resposta: Os artistas visuais foi menos traumático porque, pela própria concepção do projeto, precisava ser artista figurativo, que soubesse fazer retrato, isso já deixava de fora um grande número de artistas que praticam arte abstrata, videoarte ou conceitual. Quanto aos autores,  foi uma verdadeira escolha de Sofia, mesmo, um sofrimento, doía no coração tirar esse pra colocar aquele, tirar aquele pra substituir por essa, uma tortura! Como se pode imaginar, havia muito mais homens escritores que mulheres escritoras, ainda que muitas. Ou seja, havia que cortar muito mais homens que mulheres. Quem nos ajudou foram os professores de literatura mais cabeças da cidade, Sergius Gonzaga e Luis Augusto Fischer, que gentilmente nos assessoraram. Eles ja avisaram, de cara: vai ser terrível, vocês vão sofrer, vão ter que tirar nomes que vocês adoram, porque não cabem todos. ( Só tinha lugar nas placas da galeria para 26 telas). Escolha um critério e vai fundo, sem olhar para os lados. Foi o que fizemos. Entre os homens, o critério foi homenagear os já falecidos, depois, entre os vivos, os mais velhos, e entre esses, os mais premiados. Já entre as mulheres, adotamos outros critérios: primeiro as mais velhas, nossas decanas, depois as mais premiadas, as jovens promissoras e, ainda, as singulares, que se destacam por seus projetos, como a Fernanda Bastos, por exemplo, que fundou uma editora para publicar autores negros, e a Eliane Brum, que é uma contundente crítica de grandes questões cidadãs não atendidas. Mas os queridos e queridas que ficaram de fora não devem ficar tristes, porque talvez continuemos nesse projeto nos próximos anos, continuando as homenagens.

Pergunta: Arte na rua é um sonho de consumo de quem faz arte. Em tempos pandêmicos se torna ainda mais necessária. Mas o que mais? Levar o público que não frequenta galeria e museus a esses lugares também não é tão importante quanto fazer o movimento inverso?
Resposta: Certamente. Tão importante quanto levar arte para a rua, é trazer as pessoas para dentro dos museus. As duas coisas são importantes. Mas, sinceramente, acho bem importante esse nosso movimento em ir para a rua, porque demonstra uma vocação necessária e desejável de todo artista, como bem disse o Milton, de ir onde o povo está. A pandemia nos pede paciência e que não nos aglomeremos, então, nesse momento, ainda mais, é lindo que a arte vá para a rua e se democratize entre todos, do gari ao vigia, da moradora de rua à feirante. Do contador ao empresário. Do jovem estudante ao velho professor. A rua e a arte, de todos, é um verdadeiro sonho de consumo.
Pergunta:  Vai haver encontros durante o período de exposição com os artistas e escritores, além da abertura? Bate papo, visita guiada, coisa assim?
Resposta: Estamos pensando em organizar encontros com os artistas e escritores, ainda não está definido, mas acho superimportante essa interação, sim. Minha experiência com escolas, em outras exposições, foi riquíssima e de mutuo encantamento. Pensamos ainda em fazer lives com bate-papos entre artistas e seus autores.

Pergunta:  Sobre a ponte entre artes plásticas,  literatura . Uma sempre influenciou a outra. Como isso se dá?
Resposta: Todas as artes conversam entre si, nessa língua sem tradução outra que não a própria arte, costuradas pelas tragédias, comedias e epopeias humanas, grandiosas, prosaicas, urbanas, rurais, cotidianas ou sazonais. Desde os primórdios, nas esculturas que enaltecem os seus heróis, muitos foram tirados de epopeias da literatura, deuses imaginários, personagens que concentram em si a complexidade do humano e suas paixões. A literatura cria mundos com palavras, a arte visual recria o mundo da literatura com cores, gestos, enquadramentos. Eu mesma estou mergulhada em uma longa série de pinturas sobre a Clarice Lispector e suas obras, onde misturo a autora com seus personagens, tudo é a história de nós todos, em pequenos capítulos.

 Pergunta: Essa exposição pode entrar no calendário permanente da feira?
Resposta: O presidente da Câmara do Livro, Isatir Bottin Filho, gostou muito do nosso projeto e sugeriu que nossa mostra fosse incorporada à programação da Feira do Livro como um evento prévio vinculado à feira por parceria nossa. Ano que vem, já estamos em tratativas para levar essa mesma exposição ao Espaço Cultural Correios no período da Feira de 2022. É maravilhoso nos alinharmos com esse evento que já está no sangue da cidade.

 Pergunta? Algo mais ?
Resposta: Eu brinco chamando o nosso grupo de 18 artistas valentes que ousaram aceitar o desafio do projeto “Autorias” de “Os 18 da Borges”. Já estão surgindo convites e propostas para novas exposições e projetos. Acho que essa turma tem tudo para criar um novo movimento na cidade e nas artes gaúchas.

gcraidy@gmail.com
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