Ruy Ostermann, o professor de todos nós

Ruy Ostermann no lançamento do jornal Já em 1985

Como sempre acontece com as personalidades realmente grandes, será necessário transcorrer um tempo para que se tenha a verdadeira dimensão de Ruy Carlos Ostermann – para além da popularidade que em pouco se apaga.

No jornalismo posso testemunhar que pelo menos duas gerações de profissionais foram visivelmente marcadas ele – por sua inteligência límpida, pelo seu estilo elegante e preciso, seu entusiasmo, seu comportamento ético.

Quando entrei como “foca” na Folha da Tarde, em 1968, Ostermann já era um nome.  Internamente, mobilizava ciúmes e preconceitos – um cara com nome alemão  que dava aulas de filosofia e…cagando regras no futebol!

Mas logo todos perceberam – mesmo seus detratores e principalmente o público – que estavam diante de algo novo. O professor sabia o que estava falando.

Esporte, então, era uma editoria secundária nas redações, ganhava espaço porque vendia jornal, mas o que dava prestígio era a política, a economia e a novidade que surgia, meio ambiente.  . A cobertura esportiva nos jornais impressos, então, era uma ladainha de mesmice e lugares comuns.

Ruy enxergava uma partida de futebol por outras lentes, via o jogo em todos os seus níveis e tinha um vocabulário e uma linguagem para descrever o que via. Ele deu régua e compasso ao jornalismo esportivo.

Fui reencontrá-lo, com José Antonio Severo,  naquele projeto insano da Folha da Manhã, em 1972.  Um diário independente num regime de ditadura militar!  O esporte era o melhor caminho para ter leitores sem ter atritos com as autoridades.

Ruy montou a editoria de esportes, que era quase metade do jornal: Roberto Appel, Pinheiro Machado, Cláudio Diestmann, Mário Marcos de Souza, Gilberto Pauletti, Paulo Antunes de Oliveira, jovens impulsivos…que temperou com alguns veteranos- Correa Pires, Aparício Viana e Silva.

Por sua influência entraram na equipe José Onofre, Jefferson Barros, Luiz Fernando Veríssimo.

O jornal foi um sucesso. Saltou de 7 mil para 35 mil exemplares de venda. Mas o  projeto que apostava na abertura política, bateu no muro do regime, quando ele endureceu em 1975.

A semente do jornalismo independente, porém, sobreviveu em muitas iniciativas e, em todas elas, do Pato Macho ao Coojornal e ao Já, enquanto pode, Ruy Carlos Ostermann esteve presente.