Como sempre acontece com as personalidades realmente grandes, será necessário transcorrer um tempo para que se tenha a verdadeira dimensão de Ruy Carlos Ostermann – para além da popularidade que em pouco se apaga.
No jornalismo posso testemunhar que pelo menos duas gerações de profissionais foram visivelmente marcadas ele – por sua inteligência límpida, pelo seu estilo elegante e preciso, seu entusiasmo, seu comportamento ético.
Quando entrei como “foca” na Folha da Tarde, em 1968, Ostermann já era um nome. Internamente, mobilizava ciúmes e preconceitos – um cara com nome alemão que dava aulas de filosofia e…cagando regras no futebol!
Mas logo todos perceberam – mesmo seus detratores e principalmente o público – que estavam diante de algo novo. O professor sabia o que estava falando.
Esporte, então, era uma editoria secundária nas redações, ganhava espaço porque vendia jornal, mas o que dava prestígio era a política, a economia e a novidade que surgia, meio ambiente. . A cobertura esportiva nos jornais impressos, então, era uma ladainha de mesmice e lugares comuns.
Ruy enxergava uma partida de futebol por outras lentes, via o jogo em todos os seus níveis e tinha um vocabulário e uma linguagem para descrever o que via. Ele deu régua e compasso ao jornalismo esportivo.
Fui reencontrá-lo, com José Antonio Severo, naquele projeto insano da Folha da Manhã, em 1972. Um diário independente num regime de ditadura militar! O esporte era o melhor caminho para ter leitores sem ter atritos com as autoridades.
Ruy montou a editoria de esportes, que era quase metade do jornal: Roberto Appel, Pinheiro Machado, Cláudio Diestmann, Mário Marcos de Souza, Gilberto Pauletti, Paulo Antunes de Oliveira, jovens impulsivos…que temperou com alguns veteranos- Correa Pires, Aparício Viana e Silva.
Por sua influência entraram na equipe José Onofre, Jefferson Barros, Luiz Fernando Veríssimo.
O jornal foi um sucesso. Saltou de 7 mil para 35 mil exemplares de venda. Mas o projeto que apostava na abertura política, bateu no muro do regime, quando ele endureceu em 1975.
A semente do jornalismo independente, porém, sobreviveu em muitas iniciativas e, em todas elas, do Pato Macho ao Coojornal e ao Já, enquanto pode, Ruy Carlos Ostermann esteve presente.