Uma reunião histórica anunciou uma nova era para o BRICS. O grupo, que anteriormente incluía Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, juntou-se a outros seis países, incluindo Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Foi a primeira expansão desde 2010 e os novos candidatos deverão ser admitidos como membros em 1º de janeiro de 2024. Formado em 2009, mesmo antes da recente expansão representava mais de 40% da população total da Terra e um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) global.
O PIB combinado do BRICS expandido, em termos de paridade de poder de compra, será de US$ 65 trilhões. Isto faria com que a participação do bloco no PIB global aumentasse dos atuais 31,5% para aproximadamente 37%. Em comparação, a participação do grupo G7 de economias avançadas está atualmente em torno de 29,9%, com PIB combinado de US$ 49,22 trilhões.
Num extenso documento de 26 páginas, os líderes do BRICS reafirmaram o seu compromisso com o respeito mútuo, a igualdade soberana, a solidariedade, a democracia e a inclusão. Ao mesmo tempo, comprometeram-se a promover o “desenvolvimento sustentável e o crescimento inclusivo”. De acordo com a declaração, os membros também expressaram “preocupação com o uso de medidas coercitivas unilaterais” – aparentemente referindo-se a sanções – que, segundo eles, são “incompatíveis com os princípios da Carta da ONU”, pois produzem efeitos negativos, particularmente nas nações em desenvolvimento.
A 15ª Cúpula do BRICS foi realizada em Joanesburgo, África do Sul, de 22 a 24 de agosto, a primeira cúpula presencial das nações do BRICS desde o início da pandemia de COVID-19. Mais de 60 líderes globais e políticos pesos pesados foram convidados a participar. Esta cúpula não é apenas a maior em escala desde o estabelecimento do mecanismo de cooperação do BRICS, mas também o maior encontro desse tipo no Sul Global nos últimos anos. Isso reflete as crescentes expectativas colocadas no mecanismo de cooperação do BRICS por mais e mais países.
O tema da cúpula foi “BRICS e África: Parceria para Crescimento Mutuamente Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo”. Por isso, a ampla participação de líderes globais na busca de inclusão, cooperação e ganha-ganha. O grupo BRICS lançou o NDB, o banco do Brics, em 2014 com o objetivo de fornecer financiamento para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável.
Dmitry Trenin, membro do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, disse que o BRICS é frequentemente comparado ao G7. “No entanto, os dois grupos são fundamentalmente diferentes em sua ambição, estrutura e evolução. O G7 é política, econômica e ideologicamente homogêneo, enquanto o BRICS é rico em diversidade em todos os aspectos; o G7 é essencialmente liderado pelos Estados Unidos, tendo os outros, as ex-grandes potências, aceitado inquestionavelmente essa liderança, enquanto no BRICS o peso econômico da China não se traduz numa hegemonia de Pequim. O G7 é globalista no sentido de projetar seus modelos e moral para o resto do mundo, e os países do BRICS estão totalmente voltados para sua soberania nacional. Ao mesmo tempo, o G7 é claramente exclusivo, com o Ocidente claramente acima do resto, enquanto o BRICS é exatamente o oposto.”
Para Trenin, o papel do G7 é preservar a velha ordem na qual o Ocidente é dominante, enquanto a ambição dos membros do BRICS é construir elementos de uma nova ordem mundial mais diversificada e mais equilibrada – primeiro entre si e depois impactar ainda mais a evolução do sistema mundial. “O BRICS não é uma tentativa de criar uma aliança de soma zero. É o núcleo do que se pode chamar de Maioria Mundial que visa o desenvolvimento e não o domínio. O caminho será difícil e não sem oposição, mas, com mais peças do quebra-cabeça afixadas, a fundação de uma ordem mundial mais aberta e inclusiva acabará surgindo.”
O presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva disse durante a Cúpula: “Nós éramos chamados de terceiro mundo, depois cansaram e começaram a chamar de países em vias de desenvolvimento e agora nós somos o Sul Global. Veja a mudança de nome, que pomposo. O que importa é que o mundo está mudando. A economia também começa a mudar, a geopolítica começa a mudar porque as coisas vão acontecendo e a gente vai ganhando consciência de que nós temos que nos organizar.”
O presidente chinês, Xi Jinping, disse que a expansão do BRICS é histórica e um novo ponto de partida para a cooperação. “Demonstra a determinação dos países BRICS em unir-se e cooperar com outros países em desenvolvimento, satisfaz as expectativas da comunidade internacional e serve os interesses comuns dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento.” E acrescentou: “A expansão também injetará nova vitalidade no mecanismo de cooperação do BRICS e fortalecerá ainda mais as forças para a paz e o desenvolvimento mundiais. Enquanto mais os países do BRICS se unirem, muito poderá ser alcançado através da cooperação. Um caminho promissor no futuro aguarda esses países.”
O presidente russo Vladimir Putin disse que o grupo BRICS não quer competir ou opor-se a qualquer outra nação ou grupo, mas, no entanto, enfrenta resistência de países do chamado por ele “bilhão de ouro”, que desejam preservar o seu domínio global.
Falando na cerimónia de encerramento da Cúpula do BRICS na África do Sul através de videoconferência, o líder russo destacou que os esforços do grupo para criar uma nova ordem mundial baseada na multipolaridade têm “oponentes irreconciliáveis” que desejam desacelerar o processo e restringir a formação de centros novos e independentes de desenvolvimento e influência no mundo.
Putin disse que os estados do “bilhão de ouro” fazem tudo o que está ao seu alcance para preservar um mundo unipolar que lhes seja adequado e que lhes seja benéfico. “Eles estão tentando substituir o sistema do direito internacional pela sua própria ordem baseada em regras”, acrescentando que ninguém realmente viu as regras, que estão constantemente sendo alteradas e adaptadas para beneficiar os interesses de países individuais.
O líder russo afirmou, ainda, que a forma como os países operam equivale ao colonialismo, “mas num novo pacote, que, aliás, não parece nada bom”. Para ele, os colonialistas modernos, escondendo-se atrás dos bons slogans da democracia e dos direitos humanos, procuram resolver os seus problemas, continuando a bombear descaradamente recursos para fora dos países em desenvolvimento”, afirmou Putin.
Desdolarização
Além da expansão do BRICS, a redução da dependência do dólar americano também foi foco da cúpula. Putin afirmou que a “desdolarização é um processo irreversível e está ganhando ritmo”. Os líderes do BRICS incumbiram os ministérios das finanças e os bancos centrais dos seus países de considerar a possibilidade de lançar instrumentos e plataformas de pagamento baseados em moedas nacionais, conforme o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.
No momento em que os grandes produtores de petróleo, como a Arábia Saudita e o Irã, aderirem ao BRICS, o comércio petrolífero deverá acelerar o processo de desdolarização, algo que preocupa o Ocidente. Segundo Lula, uma solução deve ser apresentada na próxima reunião do Brics, na Rússia.
Com Agência Brasil, Russian Today e Global Times