A taxa básica de juros, a Selic, subiu mais uma vez de 11,25% para 12,25% ao ano. Para piorar a situação do consumidor, a nota do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) prevê que esse “choque de juros” propalado pelo mercado financeiro deve continuar: “Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”
Esta foi a última reunião do Copom sob o comando de Roberto Campos Neto, escolhido pelo governo Bolsonaro, que deixará a presidência do Banco Central (BC) no final do ano. A partir de janeiro de 2025, o governo Lula volta a ter o controle da política monetária, com o economista Gabriel Galípolo na presidência do BC. Ainda não se sabe o nível de enfrentamento de Galípolo com o mercado financeiro.
Para o economista Guido Mantega, ministro da Fazenda nos dois mandatos do Presidente Lula e no primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff, o objetivo de Campos Neto no BC foi sabotar uma situação econômica benigna para o País, atuando no BC a favor da desvalorização cambial e no aumento da taxa de juros, dois elementos que derrubam a economia. “A economia crescendo a 3,3% é muito bom para a população, aumenta o emprego, beneficia o setor produtivo. No entanto, o setor que vive de juros quer um lucro financeiro ainda maior.”
O problema é que o mercado financeiro está nadando de braçada, com apoio de uma oposição ultraconservadora que domina o Congresso. Por isso, projeta novos aumentos da taxa Selic em matérias difundidas pela mídia corporativa e colonial, chegando a 14,25% ao ano. A taxa Selic atingiu os mesmos 14,25% em julho de 2015 e permaneceu nesse patamar até o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, em maio de 2016.
No seu primeiro mandato, Dilma reduziu a taxa Selic para 7,25% ao ano em outubro de 2012, o menor nível histórico até então, como parte de uma estratégia que buscava estimular o crescimento econômico. Em 2013, porém, começa um movimento com o falso argumento do aumento do preço do transporte público em algumas capitais, que desencadeou uma onda de protestos pelo país, urdida pela oposição com o objetivo de desestabilizar o governo Dilma.
O início da Operação Lava-Jato aconteceu em março de 2014, liderada por Sérgio Moro, naquele momento juiz de 1ª instância em Curitiba. Ele é acusado de ter sido treinado por autoridades dos Estados Unidos para levar a presidenta Dilma ao impeachment e destruir a economia brasileira.
Por isso, a taxa Selic chegou aos 14,25%, em julho de 2015, quando a inflação oficial medida pelo IPCA alcançou 10,67% no mesmo ano, muito acima da meta de 4,5% (com tolerância de 2 pontos percentuais). O BC teve que aumentar os juros como forma de conter os preços. Portanto, não é de hoje que a taxa de juros é utilizada para desestabilizar governos populares.
A diferença em relação ao reajuste da taxa no governo Dilma é que no governo Lula o IPCA, nos últimos 12 meses, acumula alta de 4,87%, até novembro, proporcionando um ganho real de 7,38 pontos percentuais acima da inflação aos bancos e grandes fortunas que compram os títulos públicos, comparando com a taxa Selic de 12,25%. A taxa Selic está entre as mais altas do mundo, comparando com as economias de grande porte ou emergentes de maior estabilidade macroeconômica.
Essa diferença põe por terra o argumento de aumentar a taxa por receio da alta dos preços, pois existe espaço para crédito mais barato incrementar o consumo.
Recessão e pobreza
Os ganhos dos bancos e grandes fortunas, através de altas taxas de juros, concentram renda e provocam recessão e pobreza. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, completa com pacote de cortes de gastos que afeta o salário mínimo e ainda prevê um corte gradual do acesso ao abono salarial. Ele espera aprovar na semana que vem tanto na Câmara como no Senado.
O pacote de corte de gastos e o “Novo Regime Fiscal”, chamado Arcabouço Fiscal, que entrou em vigor em 31 de agosto de 2023, promovem diversos controles em relação a investimentos necessários para cumprir a meta fiscal de déficit primário zero. Uma balela para inviabilizar o governo Lula, que não tem força no Congresso para mudar o jogo.
O objetivo é a desestabilização da economia nos dois últimos anos do governo Lula para a extrema direita retomar o poder em 2026 e recomeçar a política de submissão aos interesses imperialistas por parte de uma elite neocolonial.
Foi isso que aconteceu com o Brasil durante os governos Temer e Bolsonaro, com a destruição da máquina pública, dos direitos trabalhistas e previdenciários, da indústria, desinvestimento em tecnologia, privatizações com a entrega do controle de nossa energia e o fatiamento da Petrobras, contrabando do ouro das terras indígenas e entrega de nossos minérios às multinacionais.