Em 2024, a indústria brasileira apresentou um crescimento de 3,2% até novembro, comparando com o mesmo período do ano passado, conforme números apresentados esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Em 2023, a produção industrial avançou 0,1%, após queda de 0,7% em 2022. O último ano de crescimento mais expressivo ocorreu em 2021, de 3,9%, influenciado pelo recuo de 4,5% em 2020, primeiro ano da pandemia.
A retomada do crescimento da indústria tem a ver com o plano Nova Indústria Brasil (NIB), lançado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro de 2024. O plano tem apresentado resultados significativos na revitalização do setor industrial brasileiro. Em um mês foram aprovados R$ 78 bilhões para projetos focados em inovação, produtividade, sustentabilidade e ampliação da capacidade exportadora. Desse montante, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou R$ 71,9 bilhões, enquanto a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) destinou R$ 6,1 bilhões para 670 projetos.
Em agosto de 2024, a NIB recebeu um reforço financeiro de R$ 42,7 bilhões, elevando o total de recursos para R$ 342,7 bilhões até 2026. Esse incremento visa ampliar o apoio financeiro a projetos de neo-industrialização, com a participação de instituições como o Banco do Nordeste (BNB) e o Banco da Amazônia (Basa).
Os impactos da NIB já são perceptíveis nos indicadores econômicos. O Brasil avançou 30 posições no ranking mundial de produção industrial, passando do 70º para o 40º lugar entre 116 países em 2024. O setor privado já anunciou investimentos de mais de R$ 130 bilhões.
Como o objetivo da mídia corporativa e neocolonial é inviabilizar a reeleição de Lula, a manchete foi que em novembro de 2024, a produção industrial nacional mostrou redução de 0,6% frente a outubro, na série com ajuste sazonal. Este é o segundo mês de queda, período em que a indústria acumulou perda de 0,8%.
O que essa mesma mídia não revela são os motivos da desaceleração; as diversas amarras que impedem um crescimento mais vigoroso da economia brasileira. A principal é a taxa básica de juros, a Selic, que na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) subiu mais uma vez de 11,25% para 12,25% ao ano e projeta novos aumentos, podendo chegar a 14,25%.
Apenas como cálculo hipotético, levando em conta a inflação de 2024 do IPCA (4,83%), com a compra de títulos públicos com a projetada taxa de 14,25% ao ano, o ganho real dos bancos e grandes fortunas se aproxima dos 10 pontos percentuais ao ano. Quem vai investir em produção?
Esta foi a última reunião do Copom sob o comando de Roberto Campos Neto, escolhido pelo governo Bolsonaro, que apostou no aumento da taxa de juros e desvalorização cambial, atingindo diretamente o setor produtivo, população, e favorecendo o rentismo. Em janeiro, o governo Lula voltou a ter o controle da política monetária, com o economista Gabriel Galípolo na presidência do BC. Ainda não se sabe o nível de enfrentamento de Galípolo com o mercado financeiro.
Outra amarra foi a meta de inflação para o Brasil em 2024, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3,0%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, resultando em um limite de até 4,5%. A inflação medida pelo IPCA em 2024 chegou a 4,83%, ultrapassando minimamente o teto da meta. Mesmo assim, Campos Neto aumentou absurdamente a taxa Selic com o argumento do “perigo” da inflação.
No início do governo Lula, em agosto de 2023, foi criado o arcabouço fiscal, oficialmente denominado como “Novo Regime Fiscal”, para substituir o teto de gastos no Brasil, de 2016, durante o governo do então presidente interino Michel Temer, após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
O arcabouço fiscal traz metas para as contas públicas com base no resultado primário, que consideram receitas e despesas, sem contar os juros da dívida. Esse é um problema grave, pois deixamos de fora da discussão a expressiva dívida pública. Em 2024, com os aumentos constantes da taxa Selic, o Brasil deverá fechar suas contas com uma carga significativa para rolar os juros da dívida pública. Embora as projeções variem, o governo federal deve pagar algo em torno de R$ 800 bilhões a R$ 1 trilhão apenas com o serviço da dívida (juros e amortizações).
Enquanto isso, com as medidas fiscais do pacote de corte de gastos proposto pelo Ministério da Fazenda, aprovado em dezembro de 2024 pelo Congresso Nacional, a estimativa é economizar cerca de R$ 70 bilhões até o fim do mandato do presidente Lula da Silva. Com cortes que afetam principalmente os trabalhadores.
O que a economia brasileira precisa em 2025 é de mais estímulos do governo federal para decolar, aumentar radicalmente o consumo interno com a redução da taxa básica de juros, mais crédito, melhores salários, distribuição de renda. No entanto, é exatamente o que o Congresso ultraconservador, com apoio total da mídia corporativa e neocolonial, tenta evitar de todas as formas e amarras. Assim é o jogo político.
Apesar de todas as amarras, o governo do presidente Lula ainda alcançou resultados positivos em diversas áreas. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 3,3% para 3,5% em 2024.
O Brasil encerrou 2024 com uma taxa de desemprego de 6,1%, a mais baixa em mais de uma década, representando 6,8 milhões de brasileiros sem emprego, uma redução de 1,4 milhão em relação ao ano anterior. Em 2024, a inflação medida INPC acumulou 4,77%, mais baixa para famílias com renda de até cinco salários mínimos.