Antonio Pinheiro Salles

Antonio Pinheiro Salles

Nascido em Estrela, Minas Gerais, Antonio Pinheiro Salles já na adolescência militou no movimento estudantil. Iniciando como jornalista, foi vereador e líder universitário, sofrendo reiteradas prisões. Procurando preservar-se, pas­sou à vida clandestina na Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul. Como membro do POC, foi sequestrado neste estado, sofrendo inomináveis torturas. Anistiado, retomou a ação política, publicou vários livros de memória e é ativista de Direitos Humanos por Memória, Verdade e Justiça.
O Adeus a Porto Alegre
Não mais serei levado para o país do sul
Onde, apesar dos pesares, pude sobreviver
E te ver, te conhecer, te amar, te desejar
Como se não fossem tantas as turbulências
Como se o adeus ao porto de Porto Alegre
Não estivesse na posse das possibilidades.
É incrivel, mas sempre eu sabia da beleza,
Até se a tristeza e a dor não adormeciam.
Tu decidiste ser a minha serenidade
Em cada visita me apresentando a vida
Plena de nuanças novas, de esperanças
Ressuscitadas e graças sem agradecimentos.
Coisas que não te disse, macias pétalas
Guardadas para te oferecer no amanhecer
Talvez nunca possam mesmo ultrapassar
Sustos, soluços e solidões da minha cela.
Mas o amor não tem data nem concordata,
Ainda que o terror não reconheça o amor.
Não mais serei levado para o país do sul,
Não nos veremos após a espera desesperada
Havia névoa no voo da velha aeronave
E uma nívea revolta na volta das algemas.
O perfil de Porto Alegre foi fenecendo
Enquanto tu sonhavas sem saber de mim.
Tudo ficou distante… Teus olhos verdes
Eu não vou conseguir mais ver de perto
Em teus pagos peleamos; desafiamos o fogo,
O frio, o minuano, a imensidão do mundo.
Hoje, o Guaíba nasce e desce em minha face
Quando penso em ti, tua força, tua cidade.

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