Depois de atravessar sete governos*, a tão esperada revitalização do Cais Mauá não saiu do papel e, desde janeiro de 2019, segue pousada na mesa do governador Eduardo Leite, como uma bomba relógio.
Terreno mais valioso de Porto Alegre, com três quilômetros de extensão diante do Guaíba, o cais segue abandonado. Prédios e equipamentos tombados pelo patrimônio público estão em risco.
Em julho de 2019, depois de um relatório da Procuradoria-Geral do Estado, o governador rescindiu o contrato com empresa Cais Mauá do Brasil, constituida para administrar a área, sob regime de concessão.
A empresa prometia investir R$ 500 milhões para implantar em quatro anos um novo polo empresarial-comercial na área do antigo porto da capital. Com os recursos da exploração comercial-imobiliária seriam bancados os restauros dos bens tombados pelo Patrimônio.
A empresa trocou cinco vezes de direção e só acumulou dividas, sem dar início às obras. Captou R$ 130 milhões no mercado financeiro, mas não tinha mais como pagar nem os guardas que faziam a segurança.
Com a rescisão, o projeto de reconciliar a cidade com seu porto, criando ali um novo espaço de convivência e lazer que revolucionaria o Centro Histórico de Porto Alegre, voltou à estaca zero.
O governo trabalha num novo plano, mas pouca coisa tem sido divulgada. Os sinais emitidos indicam a intenção de fatiar a área para concessão ou venda.
O contrato com o Cais Embarcadero, para a instalação de um centro de lazer e gastronomia num dos extremos do terreno é um exemplo e, por isso, enfrenta questionamentos, a começar pelo procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo da Camino.
As entidades de representação da sociedade civil que desde o início denunciavam os descaminhos do projeto original, esperavam ser ouvidas. Mas até agora foram ignoradas.
*O primeiro projeto para revitalizar o Cais Mauá foi feito por Alceu Collares, em 1990. Seguiram-se: Antônio Britto, Olívio Dutra, Germano Rigotto, Yeda Crusius, Tarso Genro e Ivo Sartori.
Fonte: Jornal Já Edição Especial: Cais Mauá: Até Quando?