Cobras do Museu de Ciências podem ir para Rio de Janeiro

Cerca de 300 serpentes devem ser transferidas

Cleber Dioni Tentardini
O Instituto Vital Brazil (IVB) é um dos laboratórios responsáveis pela produção nacional de soro antiofídico, que neutraliza o veneno das serpentes. O soro é repassado ao Ministério da Saúde que distribui aos órgãos estaduais.
O diretor científico do Vital Brazil, Rafael Cisne, reconhece que o Instituto tem grande interesse em receber as serpentes do NOPA. “Além da produção de soro antiofídico, utilizamos a peçonha em vários estudos. A da cobra coral, por exemplo, possui uma proteína específica que pode ter comprovados diversos benefícios no tratamento de doenças”, explica.

Presidente da FZB, Luiz Branco, recebe visitantes no sepentário do NOPA/ Cristine Rochol/PMPA
Presidente da FZB, Luiz Branco, recebe visitantes no serpentário do NOPA/ Cristine Rochol/PMPA

O serpentário do IVB possui 700 serpentes. Segundo Cisne, há espaço, gente capacitada e grande interesse em receber as serpentes, mas depende de recursos do Estado para efetuar a remoção dos animais.
“Estamos estudando o valor, o impacto financeiro que essa transferência trará aos cofres públicos do nosso estado, que está em dificuldades”, afirma.
A secretária Ana Pellini aguarda definição do IVB. Enquanto isso, a área de visitação pública do serpentário está fechada após depredação e tentativa de roubo das serpentes. Algumas foram levadas para o Zoológico de Sapucaia. A direção do Museu de Ciências Naturais foi procurada por duas vezes para comentar a transferência do serpentário, mas não deu retorno, inclusive após solicitar que lhe fossem enviadas as questões por correio eletrônico. Há poucos dias, uma sala do departamento jurídico da FZB também foi arrombada e computadores e equipamentos foram roubados.
Estado pode ficar sem soro de cobras nativas
A possibilidade de transferência do serpentário para fora do Estado causou estranheza e preocupação entre os funcionários da FZB. Há várias pesquisas em andamento, lembra a bióloga Acácia Winter, tratadora de animais silvestres no museu. Ela cita algumas: “Criação de um soro antielapídico pan-americano” e “Criação de antibiótico a partir de veneno de serpentes”, “Avaliação de viabilidade de um novo anti-veneno pan-americano para acidentes com cobras corais” e “Venenos como fonte de biomoléculas contra biofilmes bacterianos patogênicos”, além de “Manutenção de Micrurus altirostris em cativeiro” e “Variação ontogênica na composição do veneno”.
Extração pública de veneno de serpentes no NOPA/ Arquivo FZB
Extração pública de veneno de serpentes no NOPA/ Arquivo FZB

O NOPA, único serpentário do Estado capacitado para realizar extração de peçonha, mantém cerca de 400 serpentes de 16 espécies, sendo oito peçonhentas. Há espécies que ocorrem somente no Rio Grande do Sul como a Jararaca-pintada Bothrops pubescens. São encontradas ali também cruzeira, coral, cascavel, jibóia, entre outras. Além do Vital Brazil, o Núcleo mantém parceria hoje com a Faculdade de Veterinária e com o Programa de Pós-graduação em Farmácia, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Curso teórico e prático sobre serpentes a Batalhão Ambiental/Foto NOPA/FZB
Curso teórico e prático sobre serpentes a Batalhão Ambiental/Foto NOPA/FZB

A bióloga destaca ainda que serão encerrados os serviços de orientação à população por telefone, e-mail e pessoalmente, em caso de acidentes; o treinamento de contenção, manejo e identificação de serpentes aos agentes de saúde e ambientais, além do Exército; o acolhimento de serpentes que não podem ser soltas na natureza novamente e as pesquisas científicas. (Cleber Dioni Tentardini)

Deixe uma resposta