Nas duas entrevistas concedidas na semana de 05 a 11 de junho por Dilma Rousseff, a presidenta afastada se apresentou com uma imagem completamente diferente da mantida durante o exercício pleno da Presidência da República. Muito mais solta, descontraída, falando de modo fluente e claro, demonstrando domínio dos temas tratados e, talvez de modo surpreendente, assumindo a iniciativa política e desafiando o governo interino.
Além de explicar ações tomadas por seu governo no plano da economia, como a redução e posterior elevação dos juros básicos da economia, indicando as pressões que sofreu para elevá-los novamente, além de elucidar as dificuldades que enfrentou com as resistências das elites empresariais para que elas usassem as isenções tributárias e os empréstimos do BNDES (subsidiados pelo tesouro nacional) para investir, gerar empreso e alavancar a economia, Dilma foi fundo na avaliação política, tanto do seu governo quanto do interino.
A presidenta mostrou-se disposta ao diálogo e, ao mesmo tempo, confirmou o perfil de alguém que não tem medo de enfrentar desafios. Afirmou que o processo do seu afastamento é um golpe parlamentar, criticou ministros do STF que “falam fora dos autos” e também a visão meramente criminalística de juízes e procuradores federais que, no afã de combater a corrupção, desestruturam empresas e as instituições do país.
Além de criticar a política externa e as ações internas do governo do seu substituto interino, deixou claro que o papel desempenhado pelo Brasil no cenário internacional desde o governo Lula, somado à descoberta do Pré-Sal, que torna o Brasil um dos maiores produtores mundiais de petróleo, e à criação do Banco dos Brics despertaram uma forte reação conservadora por parte de grupos de interesses internacionais e nacionais.
Saindo das cordas, Dilma tomou a iniciativa e partiu para o ataque. Afirmou que o “pacto da constituinte de 1988 foi rompido” e que a construção de um novo pacto só poderá ser feita por meio de consulta popular. Para sair do impasse atual, “o povo terá que ser ouvido”, disse.
Devolvendo ao povo a soberania para decidir quem o governa e os rumos que imprime à política nacional, Dilma Rousseff propôs e comprometeu-se a realizar uma consulta popular, talvez um plebiscito, tão logo ela reassuma o governo federal, para que a população, por meio do voto, decida se quer que ela continue na Presidência da República ou se prefere que sejam realizadas novas eleições.
Encurralou, com esta proposta, o presidente interino, levando-o ao corner do ringue. Com apenas 11% de confiança popular, segundo as pesquisas de opinião pública divulgadas, Temer terá coragem para se submeter ao crivo das urnas? Registrará o ataque ou o ignorará solenemente?
A grande imprensa que se aliou ao movimento pela destituição de Dilma e que já se desencantou com Temer deixará passar em brancas nuvens a proposta de Dilma ou exigirá resposta de Temer? Como reagirão os senadores responsáveis pela votação do impeachment e, consequentemente, pela permanência ou não de Dilma ou de Temer na Presidência da República?
Veja aqui a íntegra da entrevista de Dilma Rousseff à Luís Nassif, na TV Brasil.
Veja aqui a íntegra da entrevista de Dilma Rousseff à Mariana Godoy, na Rede TV.