Pesquisadora da FZB encontra fósseis em estrada que terá obras do DAER

Ana avaliou região com grande potencial fossilífero//Fotos Divulgação DAER

Cleber Dioni Tentardini
A pavimentação asfáltica em um trecho de 17 quilômetros da ERS-516, que liga os municípios de Santa Maria e São Martinho da Serra, terá que ser acompanhada por paleontólogo, recomenda o parecer do Museu de Ciências Naturais, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (MCN/FZB).
O documento foi entregue no início deste mês ao Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), e será protocolado na Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam), junto ao processo de licenciamento ambiental das obras da autarquia previstas no local.

Trecho da estrada com exposição de rochas triássicas da Formação Santa Maria

A paleontóloga Ana Maria Ribeiro, do MCN/FZB, junto com o geólogo do DAER, Vinicius Vasconcellos, percorreram todo o trecho e observaram afloramentos com rochas pertencentes às formações Santa Maria, Botucatu e Caturrita, sendo que nesta última foram encontrados restos de troncos fossilizados. Os materiais foram recolhidos ao Museu, em Porto Alegre.
Formações geológicas remontam ao período em que viveram os dinossauros mais antigos do mundo

“Nessas formações geológicas são encontrados muitos fósseis de plantas e animais de relevância científica mundial”, anotaram os pesquisadores.
Vinicius com um fragmento de tronco fossilizado recolhido ao Museu

Quando foram convocados para realizar a avaliação, em março, os paleontólogos da FZB tinham quase como certa a existência de sítios fossilíferos naquela região, conhecida mundialmente pelas descobertas paleontológicas. Uma das mais importantes dos últimos anos ocorreu justamente ali, na localidade de Água-Negra, e anunciada em 2004 pelos pesquisadores da Universidade de Santa Maria (UFSM) e do Museu Nacional. Trata-se do Unaysaurus tolentinoi, uma nova espécie de dinossauro em território brasileiro e uma das mais primitivas que já andaram pela Terra, há cerca de 225 milhões de anos.
Unaysaurus Tolentinoi, o dino encontrado em São Martinho da Serra

“Aquelas rochas são do Triássico, período em que viveram os dinossauros mais antigos do mundo, entre 215 milhões e 235 milhões de anos, aproximadamente”, explicou Ana Maria.
Os sítios fossilíferos do Rio Grande do Sul são considerados patrimônio cultural do Estado (nº 11738/02 de 13/02/2001) e propriedade da União (Decreto-Lei de 04/03/1942 e os artigos 20, 23 e 24 da Constituição Federal de 1988), e de importância científica para a paleontologia brasileira e mundial.
Restos fósseis do dinossauro Unaysaurus tolentinoi encontrados no sítio

Esse estudo realizado pelo MCN/FZB faz parte de um Termo de Cooperação assinado no início deste ano pelo diretor-geral do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), Rogério Uberti,  com o presidente da FZB, Luiz Fernando Branco, para agilizar as licenças ambientais de obras na malha rodoviária do Estado.
O Termo, com um ano de duração e prorrogável por mais um ano, prevê que, na eventual localização de sítios paleontológicos, deverá ser feita remoção, catalogação e armazenamento dos materiais. Esses relatórios serão anexados ao Estudo de Impacto Ambiental.
A parceria envolve também técnicos de outras áreas da FZB para a emissão de laudos sobre a flora e a fauna.
“A parceria com a Fundação Zoobotânica vai ao encontro de uma nova postura do departamento e vai nos ajudar a tornar nossas ações mais dinâmicas e eficientes, garantindo a excelência na gestão ambiental de nossas obras”, disse o diretor-geral do DAER, Rogério Uberti, quando da assinatura do acordo.

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