Apoio de Trump a Bolsonaro pode causar mais estragos do que o tarifaço

Bandeira dos Estados Unidos sendo queimada em manifestação no centro de Porto Alegre. Foto: Reprodução

O alvo dos ataques de Donald Trump ao Brasil é o BRICS.

Esse bloco, hoje com 11 países e quase metade do PIB mundial, desafia a hegemonia americana, sustentada pelo dólar, a moeda de referência do comércio mundial.

No BRICS, os países estão buscando negociar em suas próprias moedas, numa relação que dispensa o dólar.

A cooperação em torno de interesses comuns substitui a competição, muitas vezes agressiva, que caracteriza o capitalismo americano, financeirizado, concentrador.

A eleição de Trump  dá a dimensão da crise desse modelo, levado ao extremo.  Despreparado, mal informado e, por isso mesmo, arrogante, o “homem cenoura” desconcerta o mundo.

Caiu até no golpe de Bolsonaro que promete afastar o Brasil do BRICS, se ele Bolsonaro (ou um dos seus) chegar à presidência em 2026. Como se fosse simples assim.

Para começar, a China é hoje o principal parceiro no comércio e em projetos estratégico no Brasil, que por sua vez tem um papel angular para os interesses chineses no continente americano.

Por exemplo, esse acordo,  para a construção de um corredor ferroviário, que atravessa o Brasil a partir do litoral da Bahia até o Peru é tudo o que o agronegócio do centro-oeste almeja. Ele é um dos acordos selados em julho, em Brasilia, dois dias antes do tarifaço de Trump. Apenas um, dos 37 “acordos de cooperatação” assinados entre Lula e Xi-Jinping.

A reação de Trump diante de uma realidade que lhe foge ao controle é a de um menino mimado. O problema é que ele é o presidente dos Estados Unidos e suas decisões, sensatas ou disparatadas, afetam  todo o mundo.

Não será difícil para o mercado e a diplomacia mitigarem e provavelmente compensaram com vantagens os estragos do tarifaço na economia. Não é improvável, inclusive, que Trump volte atrás.

Já no terreno político, esse engajamento leviano de Trump com a causa bandida dos Bolsonaro, pode causar estragos imprevisíveis num momento em que o Brasil luta para se estabilizar.

Por enquanto, o efeito é o contrário do esperado. A manifestação arrogante de Trump, mexeu com os velhos brios nacionalistas e o bolsonarismo golpista ficou na contramão.  Bandeiras dos Estados Unidos voltaram a ser queimadas em manifestações e mesmo aliados se afastaram de Bolsonaro.

Mas Bolsonaro é um agitador profissional. Com o aval de Trump, não é uma tornozeleira que vai tirá-lo de cena, ao contrário.

(E.B.)