Embora as investigações até agora tenham concluído que Adélio Bispo, o homem que deu uma facada em Jair Bolsonaro em Juiz de Fora, agiu sózinho e por motivações pessoais, o presidente eleito, em seu discurso de posse, atribuiu o atentado “aos inimigos da pátria”.
E reconheceu que o fato foi decisivo para sua eleição: A partir daí “a campanha eleitoral transformou-se num movimento cívico, cobriu-se de verde e amarelo, tornou-se espontâneo, forte e indestrutível, e nos trouxe até aqui”.
Os dois discursos que marcaram a posse de Bolsonaro, no Congresso e no Planalto, foram superficiais, genéricos e previsíveis, repetindo quase integralmente frases e declarações da campanha, com toques da provocação à oposição.
Mesmo os trechos selecionados pela imprensa, parecem mais discurso de campanha do que afirmações propositivas:
“Graças a vocês, eu fui eleito com a campanha mais barata da história. Graças a vocês, conseguimos montar um governo sem conchavos ou acertos políticos”. (Para sinalizar que não se submeterá ao toma lá da cá da politica convencional)
“Com humildade, volto a esta Casa (Câmara dos Deputados), onde, por 28 anos, me
empenhei em servir à nação brasileira, travei grandes embates e acumulei experiências e aprendizados, que me deram a oportunidade de crescer e amadurecer”. (Foi tudo o que conseguiu destacar de sua atuação parlamentar, de quase três décadas)
“Convoco, cada um dos congressistas, para me ajudarem na missão de
restaurar e de reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da
corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica” (A missão é do presidente, o congresso vai ajudar)
Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaicocristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre de amarras ideológicas”. (Frase de efeito, para marcar seu posicionamento na extrema direita)
“Pretendo partilhar o poder, de forma progressiva, responsável e consciente, de Brasília para o Brasil; do poder central para estados e municípios”. (Para atrair governadores e prefeitos)
“O cidadão de bem merece dispor de meios para se defender, respeitando o
referendo de 2005, quando optou, nas urnas, pelo direito à legítima defesa”. (Repetida promessa da campanha, de facilitar o porte de armas pelo cidadão comum).
“Contamos com o apoio do Congresso Nacional para dar o respaldo jurídico aos
policiais para realizarem seu trabalho”. (Leis mais brandas para militares em serviço)
“A ruptura com práticas que se mostraram nefastas para todos nós, maculando a
classe política e atrasando o progresso”.
“Hoje é o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”. (Frase meramente provocativa, destinada a açular os adversários)
“Tirar a desconfiança e o peso do governo sobre quem trabalha e quem produz”. (Redução do Estado, uma das marcas principais de sua campanha)
“Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais”.
“Essa é a nossa bandeira, que jamais será vermelha”.