A polêmica declaração do prefeito Sebastião Melo, no discurso de posse para seu segundo mandato, tem um endereço certo.
Ao dizer que defender a ditadura não é crime, Melo faz um aceno para um segmento político eleitoral expressivo no Rio Grande do Sul – a direita bolsonarista – que nas circunstâncias atuais pode ser decisiva para suas pretensões de concorrer ao governo do Estado em 2026.
A ideia é acalentada desde o início, quando a reeleição parecia garantida. Esteve arquivada no período do grande desgaste do prefeito por causa da enchente de maio.
Na campanha, Melo fugiu do assunto, quando perguntado, dizendo que naquele momento seu foco único era ganhar a eleição.
Evitou prometer que permaneceria no cargo até o fim, se fosse eleito.
Com a vitória consagradora no pleito (quase ganhou no primeiro turno), o projeto retornou e já no discurso de posse Melo deu o primeiro passo, com o aceno à direita, ao dizer que defender ditadura é questão de “liberdade de expressão”. A declaração é deplorável, mas politicamente eficaz, para as ambições do prefeito.
O alvo imediato é o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que cresceu fortemente no RS, conquistando 37 prefeituras, inclusive duas das maiores – Canoas e São Leopoldo.
No cenário atual, Melo está sem espaço para sua candidatura.
Em princípio, o candidato de seu partido, o MDB, é o vice-governador Gabriel de Souza, conforme o acordo que vem dando sustentação ao governo de Eduardo Leite, do PSDB.
Mas esse arranjo abre mão de uma candidatura ao Senado (para Eduardo Leite) e enfrenta restrições da ala do partido que tem se rendido à força do bolsonarismo no Estado – a começar pelo patrono, o nonagenário ex-senador Pedro Simon. Mas no contexto presente, o candidato do partido é Gabriel de Souza. (segue)

Com essa declaração bombástica sobre o direito de pregar a ditadura em nome da “liberdade de expressão”, Melo não só obteve repercussão nacional, pois criou um fato político, o primeiro do ano.
Principalmente, sinalizou ao MDB que vai à luta e tem cacife para viabilizar sua candidatura, mesmo fora do MDB. Ele pode ir para o PL, por que não? Ideologicamente, já está alinhado e já tem na prefeitura a vice Betina Worm, que é do partido.