Eleições 2024: continuidade vai custar caro a Porto Alegre

Carris, tornada deficitária para ser vendida | Foto: Maria Ana Krack/PMPA

Nossas críticas ao prefeito Sebastião Melo, candidato à reeleição em Porto Alegre, não são novas.

Desde o início apontamos a incoerência de sua gestão ao dar continuidade a um projeto derrotado nas urnas por ele mesmo: o projeto ultraliberal de Nelson Marchezan Junior.

Caso clamoroso, o da Companhia Carris, a mais antiga empresa de transporte coletivo do Brasil,  que Marchezan tentou e não conseguiu privatizar.

Duas auditorias, pelo menos, provaram que o déficit da Carris era circunstancial, causado principalmente pela influência política e até por desvios praticados por apadrinhados políticos.

Tanto que a  economista Helen Machado, nomeada por Marchezan, em menos de um ano na presidência da Carris apresentou resultados positivos.

Marchezan falava em privatizar, Helen mostrou que a Carris podia ser lucrativa. Em vez de comemorar, a economista deixou o cargo “para voltar à iniciativa privada”, segundo explicou.

E a Carris retornou ao déficit, que justificaria a privatização.

Melo, habilmente, venceu as resistências e obteve autorização da Câmara para privatizar, sob a alegação de que a empresa era deficitária.

Num processo acelerado,  vendeu por  R$ 109 milhões todo o patrimônio da Carris – 315 ônibus, terrenos, instalações, um posto de abastecimento.

Mais um mercado cativo que corresponde a 22% do transporte de passageiros em Porto Alegre.

A marca de 150 anos, com 17 prêmios como a mais lembrada em Porto Alegre, foi transferida por um valor simbólico. A Carris de Lisboa, criada na mesma época, 1872, tem sua marca avaliada em R$ 1,2 milhão de euros.

Um dos últimos casarões do século XIX em Viamão, demolido pela empresa que comprou a Carris| Foto Patrícia Marini/JÁ

Mais: a histórica Companhia Carris de Porto Alegre foi vendida para uma empresa que, pouco antes do leilão, demoliu na calada da noite um casarão do século  XIX no centro histórico de Viamão; para expandir sua sede.

Se precisasse outro exemplo de negação da “alma da cidade”, bastaria citar a reforma do centro, que foi todo coberto com lajotas de cimento, na contramão do que se esperaria numa cidade sujeita a inundações.

Lajotas nas ruas do centro impermeabilizam área alagável | PM/JÁ

Obra mal executada, atrasada mais de ano e que atropelou o patrimônio histórico, homogeneizando pela cobertura de lajotas de cimento todo o quadrilátero central da cidade.

Na pré-enchente,  Melo descuidou do sistema de contenção e de drenagem, aumentando os estragos da tragédia.

No pós-enchente, sua reforma impermeabiliza todo o centro, região área inundável, onde o que se recomendaria seriam soluções das cidades-esponja.

Em suma: Sebastião Melo nestes quatro anos não se credenciou para um segundo mandato. Ele não tem um projeto para a cidade.

Seu papel é dar cobertura à continuidade de um projeto que vai na contramão:

1) das demandas da população por serviços públicos de melhor qualidade;

2) das demandas do desenvolvimento da cidade que requer planejamento e participação da cidadania;

3) da nova realidade climática que exige não apenas medidas defensivas, as quais ele negligenciou, mas também medidas preventivas de preservação ambiental;

4) na contramão da democracia, ao alinhar o poder público ao interesses do capital privado.