A um ano do início efetivo da campanha eleitoral de 2026, começam a aparecer os vendedores de receitas políticas.
Na noite deste domingo (29/6), no tradicional Canal Livre da TV Bandeirantes, foi a vez do economista carioca Paulo Rabello de Castro, de 74 anos.
Dono de um belo currículo (ex-dirigente da Fundação Getulio Vargas, do BNDES e do IBGE), mostrou-se extraordinariamente desinibido diante de quatro jornalistas (Fernando Mitre, Eduardo Oinegue, Juliana Rosa e o âncora do programa). Todos mais ou menos boquiabertos com a espontaneidade do convidado para falar sobre a atual gestão da política econômica.
Como se fosse o centro de um show humorístico, Rabello salgou seu depoimento com comentários irônicos sobre “esse rapaz que não para de viajar pelo mundo” (o presidente Lula), acompanhado por “essa mulher” (Janja) considerada insaciável em sua busca de notoriedade…
Foi uma baixaria desnecessária no âmbito de um exercício crítico contundente em que atirou:
1) no governo, por “não estar fazendo a lição de casa”;
2) no Congresso, por se meter a gastar por conta própria enquanto negligencia seu papel constitucional – fiscalizar o Executivo;
3) no Banco Central, por priorizar a taxa de juros, atualmente em 15% ao ano, “a mais alta do mundo”;
4) no Mercado Financeiro (“a Faria Lima”), por se empanturrar de ganhos escandalosos, ignorando irresponsavelmente as necessidades básicas (educação, saúde, saneamento) do “andar de baixo” da sociedade brasileira.
O que deveria ser feito, na sua opinião, “para ajudar o Fernandinho”? (referência irônica dele, en passant, ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad).
Basicamente, seria preciso aplicar “um breque fiscal”.
Como? Segundo Rabello, começaria por trancar numa sala “tipo conclave papal” os membros do comitê de política monetária do Banco Central até que apresentem uma solução para o problema dos juros, pedra de toque do desarranjo fiscal e do crescente endividamento público.
Em seguida atacaria o problema dos altos salários do Judiciário e do funcionalismo, incluindo o presidente da República, o vice e ministros “para dar o necessário exemplo moral”.
Faria também uma revisão nas isenções tributárias para empresas privadas.
Reforçaria o fundo previdenciário nacional com os recursos oriundos da exploração do petróleo da chamada foz do rio Amazonas.
Cortaria os subsídios para o Agronegócio, que “não precisa mais de ajuda”, e aplicaria mais recursos em ciência, na Embrapa e outros entes públicos.
Criaria metas cujo desempenho seria avaliado periodicamente para valer nos vários campos como educação, saúde etc. Reduziria tributos. Acabaria com jabutis e jabuticabas, “coisas típicas do Brasil” (esqueceu de citar os jabás). E desabafou:
“Em Brasília ninguém está ligando para a disfunção das contas públicas porque boa parte do funcionalismo tem dinheiro suficiente (bons salários) para ir a restaurantes, viajar e aplicar em títulos do Tesouro”, pontuou, lembrando que as despesas do governo estão aumentando o dobro do crescimento do PIB.
Ou, seja, o transatlântico Brasil tende a trombar no iceberg, caso não se providencie uma mudança de rota, que precisa começar já, porque faltam apenas 16 meses para o fim do atual governo.
Como parte de sua receita revolucionária, Rabello propôs extirpar da política “a velharia”, botando nos governos gente de até 50 anos.
Foi nesse momento, já no fim da entrevista, que Rabello abriu o jogo: disse que participa de um centro de estudos chamado Instituto Atlântico, autor de um plano de governo para Ratinho, governador do Paraná, “moço de boa família”, que seria a figura adequada para gerir os destinos do Brasil nos próximos anos…
De passagem, ele elogiou recente artigo publicado no Estadão pelo veterano economista José Serra, ex-governador de São Paulo e ex-ministro da Saude e do Planejamento, nos governos FHC.
Os dados estão na mesa. Para melhor entendimento, a entrevista pode ser vista no Youtube.