“Os dois projetos são convergentes e nós estamos totalmente abertos para discutir os pontos de divergência e fazer o que todos querem – devolver o cais à cidade”.
A declaração do representante do governo do Estado, Luciano Greve, causou surpresa na “Roda de Conversa”, promovida pelo coletivo POA Inquieta nesta quarta-feira, 15.
Era uma discussão on line sobre o projeto, alternativo ao do governo do Estado, feito por uma equipe de professores da Ufrgs para devolver à população o Cais Mauá, o sítio histórico inaugural dos 250 anos de Porto Alegre.
Ele explicou que à tarde conversou com o secretário Leonardo Busatto, da Secretária Extraordinária de Parcerias, e foi autorizado a convidar os autores e defensores do projeto para uma discussão ampla das propostas para revitalizar o antigo porto, há duas décadas abandonado.
Começou citando o ponto comum em ambos os projetos: a venda do terreno das docas (cerca de 2 hectares num todo de 18 hectares) para financiar a revitalização do restante.
Na proposta dos professores da Ufrgs, os terrenos das docas seriam vendidos para edificações, mas com limitações de altura e ocupação.
Seria um negócio de 85 milhões, suficiente para restaurar e equipar os armazéns e entregá-los a atividades culturais sustentáveis, para transformá-lo num “porto cultural”.
No outro projeto em desenvolvimento por um consórcio de empresas para o governo do Estado, seriam permitidas torres de até 90 metros, para uso misto (residência e comércio).
No restante do terreno, outras atividades comerciais e de serviços garantiriam a sustentabilidade de parte dos armazéns e outros bens preservados. No total, um negócio de R$ 1,3 bilhão, conforme a apresentação do Masterplan, recentemente.
No total deste investimento estaria embutido o custo de um sistema de proteção contra enchentes para substituir parte do muro que separa o porto da cidade. A solução envolve um alto custo em equipamentos e manutenção.
A divergência principal no entanto está na gestão.
As diretrizes alinhadas pelos professores prevêem gestão pública e compartilhada com grupos artísticos e organizações sociais que ocupariam todos os armazéns. Atividades comerciais e de serviços seriam complementares.
O projeto do governo, formulado sob a égide do BNDES, trabalha com o princípio de uma gestão empresarial privada.
A disposição manifestada pelo gestor do projeto na Secretaria do Planejamento, com o aval do secretário Leonardo Busatto, revela uma mudança de posição do governo estadual.
Uma das queixas dos movimentos que apoiam o projeto da universidade era a falta de disposição para o diálogo. “Dia 22 vai completar um ano que protocolamos um pedido de audiência com o governador”, disse Jacqueline Custódio, da Amacais e uma das líderes do movimento “Cais Cultural Já”.
“Alegaram que não tínhamos proposta concreta para apresentar. Depois que o projeto foi apresentado, conseguimos marcar uma audiência com a Secretaria da Cultura para o dia 17. Hoje ela cancelou”.
O primeiro sinal da mudança na posição do governo ocorreu numa reunião pela manhã, quando representantes do consórcio de empresas que trabalha no projeto do governo se reuniram com os professores e defensores do projeto alternativo.
A reunião ocorreu no CAF, centro administrativo do Estado, na sala que o governador Eduardo Leite ocupa quando despacha lá.
Juliano Greve, representando a Secretaria do Planejamento estava na reunião, mas saiu por um imprevisto e não chegou a se manifestar. À tarde, segundo relatou, conversou com Leonardo Busatto e formularam a manifestação na “Roda de Conversa” , às 18 horas.
A decisão deve influenciar também o posicionamento da Prefeitura de Porto Alegre. O prefeito Sebastião Melo ainda não deu resposta ao pedido de audiência dos autores e apoiadores.