Grupo de Aécio Neves lançou Eduardo Leite à presidência para desgastar Dória

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite é, desde quinta-feira, o mais novo pré-candidato à presidência da República na eleição de 2022.

“O governador decidiu sair das sombras e iniciar uma disputa aberta pela candidatura do PSDB à presidência da República”, disse Vera Magalhães no Globo. “Ele pode ter estrada”, sentenciou.

A mídia regional, entusiasmada, aderiu imediatamente ao projeto, chegando ao ponto de informar que “o delegado Ranulfo (o vice de Leite) está preparado para assumir”.

De fato, o que existe é um grande racha no PSDB, o partido do governador gaúcho e do governador de São Paulo, João Dória, também pré-candidato à presidência.

Por enquanto, quem está promovendo a candidatura presidencial de ,Eduardo Leite é um grupo de dissidentes liderados pelo deputado Aécio Neves, que se opõem ao governador paulista.

O racha tem origens na tentativa de Dória de expulsar Aécio Neves do PSDB, para livrar o partido da mancha da corrupção antes da campanha para a qual se prepara..

Investigado em nove inquéritos no STF, Aécio aparece num áudio divulgado pelo Ministério Público pedindo R$ 2 milhões ao empresário Wesley Batista, para pagar advogados e se defender das acusações na Lava Jato.

Aécio chegou a ser suspenso do Senado pelo Ministro Edson Fachin,  relator dos processos da Lava Jato, no STF, mas recuperou o cargo e, na eleição de 2018, se elegeu deputado federal por Minas Gerais. Ali arregimentou um grupo de uns 12 deputados de vários Estados.

Dória chegou a mover um processo para expulsão de Aécio do PSDB, mas a diretoria executiva do partido rejeitou o pedido, por larga maioria, em agosto de 2019.

A crise reacendeu na eleição para a presidência da Câmara, no início de fevereiro, quando Aécio e seu grupo, contrariando o acordo formalizado na bancada tucana, se integraram ao Centrão para eleger Artur Lira, o candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro.

Na segunda-feira, 8, num jantar no Palácio dos Bandeirantes com parlamentares e dirigentes do partido, Dória que se posiciona como o anti-Bolsonaro, voltou ao ataque.

Disse que o PSDB tem que se definir claramente como oposição ao governo Bolsonaro e aqueles que não concordarem devem deixar o partido. Um recado direto para Aécio Neves, que reagiu dizendo que Dória é “autoritário” quer de “adonar do PSDB”.

Em seguida, na noite de terça feira num jantar promovido pelo deputado aecista Adolfo Viana, da Bahia, ganhou corpo a ideia de lançar o nome de Eduardo Leite, o jovem governador gaúcho, que tem recebido constantes afagos do presidente de honra dos tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Na quarta,10, os jornais já informavam que um grupo de deputados (12 aecistas) iria lançar a canditatura de Eduardo Leite, num almoço marcado para o dia seguinte no Palácio Piratini em Porto Alegre.

Na quinta, o jornal O Globo publicou uma entrevista com Eduardo Leite sobre o encontro com os deputados que se realizaria ao meio dia.

Candidamente, ele se fez de desentendido sobre a ideia da candidatura: “Não sei se eles vão falar isso. Eu vou receber os deputados para apresentar a eles o que fizemos e, mais que qualquer coisa, como fizemos aqui no Rio Grande do Sul”.

Disse que a lembrança de seu nome para a presidência, “é antes de mais nada, um reconhecimento por fazermos política com moderação, com diálogo”.

Quanto ao racha interno no PSDB, ele não reconhece:

“Eu não vejo aecismo ou aecistas no partido. Eu não tenho contato com o deputado Aécio Neves. Nenhuma relação”.

Disse que foi a favor da expulsão de Aécio, mas essa posição foi derrotada, a questão “está superada.

(…) “já manifestei publicamente, em outras oportunidades, que entendo que o processo de expulsão do deputado deveria ter levado efetivamente à expulsão. Eu, tanto quanto outros brasileiros, me decepcionei ao ouvir aquela gravação (conversa em que Aécio pede dinheiro ao empresário Joesley Batista). Uma forma de fazer política que não está de acordo com a forma que eu penso a política. Mas houve uma decisão majoritária. Não gostei do resultado final, mas respeito por ter percorrido todo o debate. Por isso, essa etapa está superada”.

BolsoDoria

“Diferentemente do governador Doria, eu não fiz campanha casada com  Bolsonaro, não manifestei apoio ao candidato. Em nenhum momento misturei o meu sobrenome ao dele”, disse Leite na entrevista ao Globo.

De fato, o então candidato Eduardo Leite não  fez como Dória, que adotou o nome de BolsoDoria em sua campanha em 2018.  Até porque seu opositor, Ivo Sartori, saiu na frente com o “Sartonaro”.

Mas, depois do primeiro turno, quando  Bolsonaro obteve 53% dos votos no Rio Grande do Sul, Leite oficializou seu apoio ao capitão.

Foi, talvez, caso único na história eleitoral do Rio Grande do Sul: dois candidatos adversários, ele e Sartori, apoiando o mesmo nome para presidente e com praticamente o mesmo programa de governo: ajuste fiscal, privatizações, redução do Estado.

 

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