Na reunião anual, em Bonn, na sexta-feira, 26/4, mais da metade dos acionistas da Bayer manifestaram “falta de confiança na forma como a companhia vem sendo administrada”, segundo a agência Bloomberg.
O fato, que levou 55% dos acionistas a questionar os atuais gestores, foi a aquisição da Monsanto, no ano passado, por 63 bilhões de dólares. Além do valor pago, a Bayer está herdando uma guerra judicial que pode custar outro tanto.
O herbicida Roundup, principal produto desenvolvido pela Monsanto, já foi apontado em decisões judiciais nos Estados Unidos e na Europa como causa de câncer em agricultores..
Na frente do prédio onde se realizava a assembléia, centenas de manifestantes protestavam, gritando “vergonha”, encorajando investidores a “votar contra a destruição de nossa Terra”.
O edifício estava tão cheio que os atrasados eram levados a um local para assistir aos procedimentos nos telões.
O presidente da Bayer, Werner Baumann afirmou que está confiante de que será capaz de reduzir a incerteza jurídica envolvendo o Roundup.
“Estamos trabalhando implacavelmente”, disse Baumann. O impacto sobre as ações da Bayer tem sido “decepcionante e doloroso”.
Brasil segundo maior mercado da Bayer
No estudo “Um ano Bayer-Monsanto: um balanço crítico”, lançado na Alemanha na quinta-feira, 25/4, consta que de 2016 para 2019 houve um aumento de 50% no número de agrotóxicos vendidos no Brasil que são proibidos na União Europeia (UE).
Um levantamento de 2016 apontou que eram oito produtos e, agora, três anos depois, são 12.
O estudo foi realizado em parceria pela rede de desenvolvimento alemã Inkota, a ONG católica de ajuda ao desenvolvimento Misereor, e a rede de ativistas Associação de Acionistas Críticos na Alemanha.
Segundo a Deutsche Welle, após a compra da Monsanto, a Bayer se tornou a líder mundial no mercado de sementes, fertilizantes e pesticidas, e o Brasil é o segundo maior mercado para a divisão agrícola da empresa.
“O Brasil é o mercado do futuro para os agrotóxicos. Os Estados Unidos já parecem ter atingido seu limite de liberações [de agrotóxicos], e a sociedade da União Europeia não está disposta a tolerar mais agrotóxicos. Países como China e Índia também já estão mais conscientes. No Brasil, porém, a sociedade em geral não parece fazer tanta pressão”, afirma Christian Russau, da direção da associação.
Condenada a indenização por controverso pesticida Roundup, que contém glifosato, substância sob suspeita de ser cancerígena, a Bayer está exposta a milhares de ações similares. Para a empresa alemã há perigo iminente de danos para seus cofres, cotações e reputação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que o glifosato “provavelmente” causa câncer. Juízes americanos estão se orientando por esse ponto de vista.(S.L.)
Categoria: Ambiente JÁ-MATÉRIA
Pesquisa detecta presença de agrotóxicos na água de 1.400 municípios
A água consumida pelo brasileiro está cada vez mais envenenada. É o que revelam dados do Ministério da Saúde compilados pela ONG Repórter Brasil, pela Agência Pública e a organização suíça Public Eye, que apontaram a presença de agrotóxicos na água de uma em cada quatro cidades do país.
Com base em amostras das empresas de abastecimento de 1.396 municípios, 27 pesticidas foram detectados sendo que, desse total, 16 estão classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como altamente tóxicos e 11 são associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal e disfunções hormonais e reprodutivas.
A farmacêutica e bioquímica Eliane Gandolfi ressalta que há ainda outros riscos à saúde da população que passam desde situações agudas, com o consumo excessivo de venenos, prejudicando também a imunidade das pessoas e favorecendo o surgimento de alergias de difícil tratamento pela literatura médica. “É uma gama grande de problemas”, diz.
De acordo com o levantamento, o índice de contaminação é cada vez mais constante, com um aumento significativo entre 2014 a 2017, período de análise das amostras de água. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos, índice que subiu para 84% em 2015, 88% em 2016, chegando a 92% no ano seguinte.
Ao menos 11 capitais apresentam ainda dados de contaminação múltipla, entre as quais a cidade de São Paulo.
(Com informações da RBA)
"Projetos de mineração no Rio Grande do Sul são pouco conhecidos", diz biólogo
O biólogo e professor do Departamento de Botânica da UFRGS, Paulo Brack, falou nesta quarta-feira, 17, na Assembleia Legislativa sobre o crescente interesse de mineradoras em diversas áreas do Rio Grande do Sul.
Ele citou o projeto Caçapava do Sul, investimento da Nexa Resources, ex-Votorantim Metais, que pretende instalar uma planta polimetálica para extração de zinco, chumbo e cobre. Ao todo, o depósito possui 29 milhões de toneladas de minério.
A extração desses recursos se dará em mina a céu aberto, com vida útil prevista para 20 anos. Na etapa inicial, que vai até 2019, a companhia estima investir R$ 371 milhões no empreendimento.
Segundo Brack, nas nascentes do rio Camaquã estão estabelecidas comunidades com alta qualidade de vida. “Eles não querem a mineração”, afirmou. “A área do projeto Caçapava do Sul, sudoeste do Estado, foi definida pelo Ministério do Meio Ambiente como área prioritária de conservação, para uso sustentável para a biodiversidade.”
Já em São José do Norte há o projeto Retiro, que vai explorar os minerais ilmenita, rutilo (substância titânio) e zircão (substancia zircônio). Esses materiais são aproveitados em diversos segmentos da economia, como nas indústrias de cerâmica, química, entre outras.
“É obrigação é consultar os povos das regiões afetadas e isso não está ocorrendo. Não temos uma legislação que respeite as convenções internacionais, que o Brasil tem obrigação de cumprir”, acrescentou Brack.
O professor de Biologia também alertou sobre a diversidade na produção de alimentos que estaria sendo afetada no Brasil, grande exportador de commodities: “ O agronegócio aposta na produção de soja em grande escala, com a larga utilização dos agrotóxicos”.
Segundo ele, o Brasil hoje tem 35 milhões de hectares de soja, enquanto que o arroz não passa de dois milhões de hectares. “Se juntarmos arroz, feijão e trigo dá menos de 30% da área plantada com. A produção de alimentos como arroz, feijão e trigo vem diminuindo ao longo de 10 anos. Ao longo dos últimos cinco anos, importamos feijão. Hoje, o que vale é a grande escala de produção. Todo o Cone Sul se transformou num mega exportador de commodities.”
Embrapa ensina controle biológico de pragas agrícolas
Sessenta brasileiros de diversos estados iniciaram nesta terça-feira (9) em Sete Lagoas (MG) um curso de controle biológico e manejo integrado de pragas agrícolas. São professores, pesquisadores, estudantes, técnicos e produtores rurais. O evento, que termina sexta-feira, prova de que a Embrapa tem condições de reagir ao uso abusivo de agrotóxicos na agricultura brasileira.
“Os custos da agricultura estão cada vez mais altos e temos um conhecimento acumulado ao longo dos últimos 30 anos que podem ajudar a mudar esse cenário”, afirmou Antonio Alvaro Corsetti Purcino, chefe geral da Embrapa Milho e Sorgo, destacando a possibilidade de usar insumos biológicos em vez de químicos nocivos ao meio ambiente.
Entre os palestrantes destacam-se os pesquisadores Fernando Valicente e Ivan Cruz, que acumulam mais de 40 anos de experiência em Sete Lagoas. Também participam do curso palestrantes da Universidade Federal de São João del-Rei), da Universidade Federal de Viçosa e da Unifemm (Centro Universitário de Sete Lagoas), além de técnicos de empresas especializadas na comercialização de inimigos naturais das principais pragas agrícolas.
No primeiro dia do curso, a Embrapa Milho e Sorgo recebeu pedidos de brasileiros de diversas regiões para que o manejo integrado de pragas seja levado a outras cidades ou que seja ensinado via internet. O jornalista Guilherme Viana, assessor de comunicação da Embrapa Sete Lagoas, reconheceu que há nos meios rurais uma demanda latente por tecnologias agrícolas ecológicas. Um exemplo recorrente é o do baculovirus, criado no Centro Nacional de Pesquisa de Soja em Londrina em 1988, quando a Embrapa ainda estava longe de fazer parcerias – hoje comuns – com a indústria química instalada no Brasil.
Morte das abelhas: apicultores querem levar agrotóxicos à Justiça
Em evento inédito no CTG Cancela da Tradição, de Mata, mais de uma centena de apicultores do centro-oeste gaúcho prejudicados por venenos agrícolas autorizaram um grupo de ativistas ambientais e entidades técnicas a processar judicialmente usuários, comerciantes e fabricantes de agrotóxicos.
“Estamos aqui para dar o pontapé inicial numa briga que vai longe”, disse o veterano advogado Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, que está completando 40 anos de existência.
“É uma briga contra cachorros grandes”, completou, salientando que “a briga é justa” porque, “atualmente, o agrotóxico é antissocial, ele desorganiza a cadeia alimentar e atenta contra o direito elementar à vida”.
Durante cinco horas, os apicultores de Mata, Jaguari, Santiago e arredores receberam subsídios e instruções sobre o que precisam fazer para ressarcir-se de danos provocados por agrotóxicos.
Eles já haviam gravado depoimentos em vídeo sobre os prejuízos sofridos na última temporada primavera-verão, quando perderam centenas de colméias envenenadas por inseticidas aplicados a lavouras de soja.
Cada colmeia com mel é avaliada em pelo menos R$ 800. O problema não se resume às perdas materiais, mas aos riscos ambientais de longo prazo.
“Se não agirmos hoje, dentro de 50 anos teremos 50% menos insetos do que hoje”, disse José Renato Barcelos, professor de Direito que esteve em Mata representando a APISBio (Articulação para a Preservação da Integridade dos Seres e da Biodiversidade), a mais nova entidade ambiental, liderada por cientistas como Luis Fernando Wolff, agrônomo da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas. Wolff é o autor de “Medidas Para Combater a Mortandade das Abelhas na Região Sul”, folheto editado em 2018 pela Embrapa.
Também foram registradas manifestações do ecólogo Antonio Liborio Philomena, professor aposentado da Furg de Rio Grande; Gustavo Diehl, veterinário do Programa Nacional de Sanidade Apícola do Ministério da Agricultura; Ana Lucia de Paula Ribeiro, agrônoma fitossanitarista em São Vicente do Sul; Althen Teixeira Filho, professor de veterinária na UFPel; Jeronimo Tybusch, professor de pós-graduação em Direito na UFSM; Pedro Kunkel, guardião de sementes crioulas do Movimento dos Pequenos Agricultores.
Dando caráter internacional ao encontro, estiveram presentes ainda o vereador uruguaio Julio Roberto Cabral Barreto, do departamento de San José; e um representante da União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação (UITA).
O evento de Mata foi gravado pelo site no Face Book do Coletivo Catarse, que transmitiu on line diversos trechos das falas.
Sebastião Pinheiro alerta para a "totemização do veneno agrícola"
Em evento promovido pela Agapan, o ativista ecológico Sebastião Pinheiro foi aplaudido de pé por mais de 200 pessoas reunidas na noite de segunda-feira (25/3) no auditório da Faculdade de Arquitetura no campus central da UFGRS em Porto Alegre.
Após sua palestra sobre o poder dos agrotóxicos no Brasil e no mundo, o agrônomo de 72 anos autografou seu mais novo livro, que sintetiza em 600 páginas mais de 30 anos de estudos sobre a agroecologia, apontada por ele como o modelo alternativo à agricultura baseada na química.
Recheada de citações históricas, a palestra de uma hora se concentrou em demolir o que Pinheiro denomina “totemização do veneno agrícola” como solução científica para problemas do cultivo das plantas.
Na origem do totem, ele coloca o grupo petroleiro norte-americano Rockefeller, que trabalha até hoje, com sucesso, para difundir o uso de produtos químico na agricultura.
Outro grande totem é a Cargill, que controla 90% do fósforo existente no mundo. Fazem parte da lista dos totens as multinacionais de sementes, químicos e alimentos.
Segundo Pinheiro, o triângulo Natureza-Sociedade-Economia está desequilibrado pelo uso dos agrotóxicos e somente será sustentável, justo e viável com a prática da agroecologia. “Os agrotóxicos se tornaram o braço mais importante da indústria alimentar”, contaminada desde a origem dos produtos da terra.
Ele cita como primeira arma química o Temik, um formicida granulado vendido nas ruas do Rio de Janeiro no início do século XX como “chumbinho”.
Em 1961, quando a bióloga Rachel Carson denunciou os agrotóxicos organoclorados no livro “Primavera Silenciosa”, o presidente John Kennedy encomendou um estudo para saber se a denúncia era verdadeira.
Era: os agrotóxicos provocavam câncer. A própria Carson foi vítima deles. Sessenta fábricas de organoclorados foram desmontadas nos EUA e reconstruídas em outros países.
Em 1975 coube à Austrália liderar o controle de pragas agrícolas por via genética. Começou assim a produção de agrotóxicos cujas vítimas mais notórias, atualmente, são as abelhas. Para mostrar que o problema não está só em outros países, mas no Brasil (campeão mundial no uso de agrotóxicos), Pinheiro exibiu na tela um anúncio publicado na revista Veja em 1981.
Em uma página estava escrito que “o defensivo agrícola ajuda a combater a fome”, propaganda que se reproduz até hoje sob formas variadas.
“Atualmente”, diz o agrônomo, “há uma campanha atribuindo a morte das abelhas ao mau uso dos agrotóxicos pelos agricultores”. Na realidade, “os químicos usados nas lavouras, hoje, são 400 vezes mais potentes do que os da década de 70”.
Eles contaminam os solos, as plantas, os cursos d’água, os alimentos, as pessoas, os insetos… Os alimentos são menos saudáveis, mais perigosos.
“É necessário rebelar-se. Não se pode ter medo dos totens criados pela indústria com a ajuda da propaganda”, diz Pinheiro, salientando que “não estamos preparados para discutir os totens”, mas alguma coisa tem que ser feita, furando o bloqueio com a guerrilha verbal, o esclarecimento, o debate, a denúncia.
No momento está se discutindo o uso do 2,4D. “Em São Paulo foi criado um grupo de trabalho para provar que esse produto não é tão grave”, denunciou Pinheiro. No ano passado, esse veneno provocou a morte de abelhas e danificou vinhedos no pampa riograndense. Segundo Pinheiro, ele vai aparecer nos vinhos, como aconteceu na Austrália.
Outra discussão paralela envolve o glifosato, herbicida usado em toda lavoura de soja. Segundo Pinheiro, está provado que esse produto afeta o sistema imunológico dos animais. Em consequência, há estudos indicando que a população dos Estados Unidos está sendo afetada de várias formas e seus reflexos vão aparecer mais agudamente no futuro – maior índice de autismo e esterilidade entre outros problemas.
Diante da morte das abelhas pelos neonicotinóides (inseticidas de última geração) aplicados na soja, chegou-se à derradeira etapa do envenenamento do meio ambiente com danos diretos sobre as abelhas, que fazem mel e polinizam as plantas, ao lado de outros insetos menos observados. Por isso, Pinheiro acredita que chegou a hora de apostar na agroecologia. “No México há um curso de agroecologia há 25 anos”, diz ele, citando outros exemplos na Africa, na Asia e na América. Solos estressados podem ser recuperados com farinha de rocha. Há os biofertilizantes, o viés orgânico da agricultura, o processamento natural de grãos como a soja que, fermentada, oferece inúmeras opções na Asia.
Quem diria, o agrônomo panfletário dos anos 1970, “encostado” no Ministério da Agricultura por rebeldia inconveniente, tornou-se um pregador imbuído de certa esperança.
APISBIO
Enquanto Sebastião Pinheiro autografava seu livro, o presidente da Agapan, Francisco Milanez, cedeu o microfone para José Renato Barcelos, professor de Direito que faz parte do conselho da APISBIO (Articulação para a Preservação da Integridade dos Seres e da Biodiversidade), entidade a ser fundada na quinta-feira, durante evento pró-abelhas em Mata, RS. “Nós vamos judicializar a mortandade das abelhas”, avisou Barcelos, lembrando que os relatos, manifestações e denúncias formalizados no evento de Mata serão transformados num documento a ser entregue ao Ministério Público Estadual.
Morte de abelhas desencadeia novo ciclo do ambientalismo
Trinta instituições apoiam o seminário sobre apicultura e agrotóxicos convocado para a tarde desta quinta-feira (28/3) em Mata, o município gaúcho mais atingido pela mortandade de abelhas por agrotóxicos no último verão.
Mata, na região de Santa Maria, tem 5 mil habitantes e fica a 380 km de Porto Alegre. O seminário é aberto a intervenções populares, o que o caracteriza como uma audiência pública.
Estão programados relatos e manifestações de apicultores, pesquisadores e representantes de órgãos oficiais como a Embrapa e o Ministério da Agricultura. No final, está prevista a fundação da Apisbio (Articulação para a Preservação da Integridade dos Seres), a mais nova entidade ambiental do país, voltada especialmente para a preservação das abelhas como vetor da manutenção da biodiversidade.
No encerramento, às 18 horas, será entregue ao Ministério Público Estadual o documento oficializando a denúncia da mortandade de abelhas por um consórcio de agricultores usuários de agrotóxicos fabricados pela indústria química multinacional, vendidos no Estado por 1500 comerciantes de produtos agropecuários e aplicados por empresas de aviação agrícola e peões agrícolas mediante autorização de engenheiros agrônomos, a quem cabe assinar as respectivas receitas.
A mortandade das abelhas está abrindo um novo ciclo no movimento ambientalista do Sul. É um ciclo mais técnico do que o anterior, liderado pela ONG Amigos da Terra, há 15 anos, contra a monocultura do eucalipto. E desta vez, além do apoio de uma instituição bancária (Sicredi), há novas ferramentais de divulgação: o encontro de Mata a partir de 13h30m será transmitido pelo site do Coletivo Catarse no Facebook.
Mais usado há 45 anos, herbicida Roundup está na mira da Justiça nos EUA
Um júri federal em São Francisco considerou que o herbicida Roundup foi “um fator substancial” no câncer de um homem de 70 anos de idade. A decisão foi divulgada na terça, 20.
Foi a primeira derrota em nível federal do fabricante do herbicida, a Monsanto que hoje pertence à Bayer.
A decisão na Califórnia pode abrir precedente para milhares de processos semelhantes nos Estados Unidos, de pessoas que alegam ter contraído câncer pelo uso do herbicida.
O caso envolve Edwin Hardeman, um morador do norte de São Francisco (Califórnia) que teve diagnosticado um linfoma não-Hodgkins. Ele atribui a doença ao uso continuado do Roundup, herbicidas à base de glofisato, dos mais usados no mundo.
De acordo com reguladores europeus e norte-americanos, não há comprovação de que esse composto químico cause câncer.
A Organização Mundial da Saúde, no entanto, considerou em 2015 que o glifosato “provavelmente” é carcinogênico.
Nos Estados Unidos tramitam 760 ações judiciais em nível federal que estão consolidadas neste caso de São Francisco.
No total, há 11.200 ações no país contra os fabricantes do Roundup por sua suposta responsabilidade em casos de câncer.
A responsabilidade civil da Monsanto, adquirida pela Bayer no ano passado, ainda não foi decidida.
A pedido da empresa, o julgamento de São Francisco é realizado em duas partes.
Por um lado, o júri deve determinar se considera comprovada a relação entre o Roundup e o linfoma não-Hodgkins. Isso foi o que se decidiu nesta terça-feira.
Uma segunda fase se iniciou na quarta-feira, 21. O júri agora deve determinar qual é a responsabilidade da empresa.
A Bayer, citando estudos internacionais oficiais, nega que o glifosato cause câncer.
“Estamos confiantes de que as evidências da segunda fase mostrarão que a conduta da Monsanto foi apropriada e que a empresa não deve ser responsabilizada pelo câncer do senhor Hardeman”, disse a Bayer em um comunicado.
A Bayer comprou a empresa de agroquímicos da Monsanto por 66 bilhões de dólares (250 bilhões de reais), em julho de 2018.
A Monsanto já era uma das empresas com a pior reputação do mundo, a ponto de a Bayer anunciar que suprimiria a marca.
Em agosto, foi condenada por um júri a pagar 289 milhões de dólares (1,09 bilhão de reais) de indenização a Dwayne Johnson, um jardineiro municipal de uma cidade da Califórnia que usou o Roundup por anos.
Johnson, 46 anos, também tem um linfoma não-Hodgkins incurável e os médicos previram que ele teria pouco tempo de vida.
A decisão concluiu que a Monsanto havia agido com “malícia” e que o herbicida era responsável pelo câncer incurável de Johnson.
A juíza relevou a suposta má-fé da Monsanto e reduziu a sentença para 78 milhões de dólares (295 milhões de reais). A empresa está recorrendo.
Na quarta-feira, 21, após a decisão do júri no caso de Hardeman, as ações da Bayer caíram 12% da Bolsa de Valores de Frankfurt e depois se recuperaram um pouco, até fechar com queda de 9,61% – 63 euros (270 reais) por ação.
Segundo analistas, os investidores temem que o grupo empresarial não consiga evitar o pagamento de montantes elevados em indenizações.
Os analistas do Barclays, um banco britânico, consideraram que a queda de 10% das ações da Bayer implica que os investidores estimam que o montante das indenizações se situe entre 15 e 20 bilhões de dólares.
Em fevereiro deste ano, Werner Baumann, CEO da Bayer, revelou que a empresa tem mais de 11 mil processos pendentes nos Estados Unidos por causa do produto Roundup e do seu ingrediente ativo, o glifosato, que mata as ervas-daninhas.
O Roundup foi colocado no mercado em 1974 pela Monsanto.
(Com informações do El País, Reuters e Guardian)